FALANDO DE FOTOGRAFIA DE SURF COM TÓ MANÉ
Tem feito nome no mundo do surf e é definitivamente um dos profissionais que podemos encontrar por detrás de uma lente...
A emblemática fotografia da Praia do Norte, com Garrett McNamara e o Farol da Nazaré, tirada por Tó Mané, em 2013, marcou a sua carreira. O fotógrafo, portuense, à porta dos 42 anos de idade, já era, contudo, um dos fotógrafos de referência no mundo do surf. Tó Mané é, garantidamente, um dos profissionais que podemos encontrar por detrás de uma lente sempre que o assunto passa por capturar as mais fascinantes imagens de surf.
Que dirias que mudou na tua vida desde aquela imagem do Garrett McNamara na Praia do Norte?
A minha primeira fotografia de surf foi publicada numa revista da especialidade, em 1998. Foi quando comecei a fotografar profissionalmente para várias revistas da especialidade, mas tive sempre que conciliar com outros trabalhos fora do mundo da fotografia. Tinha que o fazer, porque ainda não conseguia viver exclusivamente da fotografia de surf. A fotografia do Garrett [McNamara] penso que foi o resultado do meu esforço, dedicação e muita vontade. Há quem lhe chame sorte… E porque falamos do Garrett, ele normalmente utiliza uma expressão que responde a essa dúvida: ”A sorte é quando a preparação se encontra com a oportunidade.” Desde 2011 que me atirei de cabeça e dediquei a 100% à fotografia. Foi por acreditar no meu sonho - viver exclusivamente como fotógrafo - que acabei por conseguir essa imagem icónica. Mudou por completo a minha vida. Foi o ponto de viragem para me tornar 100% profissional.
"A fotografia do Garrett [McNamara] penso que foi o resultado
do meu esforço, dedicação e muita vontade"
A foto correu meio mundo e trouxe claramente muito reconhecimento à tua carreira. Que vantagens retiraste desse sucesso imediato?
Com todo esse mediatismo acabei por reforçar a minha relação junto das agências, revistas, publicações, media, atletas, marcas e organizações, o que se tem traduzido recentemente em trabalho regular. Comecei a colaborar com agências internacionais, como a Getty Images e ZUMA Press; comecei a publicar em grandes revistas como a National Geographic, Outside Magazine e até a Time Magazine, publicar em livros impressos por grandes editoras como a Taschen, reforçar a minha colaboração com os gigantes do surf como a Surfing, Surfer Magazine e Surfline. Essa divulgação fez que o meu site ficasse mais conhecido o que veio a potenciar as vendas de impressões, edições limitadas e merchandising para todo o mundo. Em suma, abriu-me as portas a nível nacional e internacional, fazendo com que o meu trabalho chegue mais longe.
“Desde muito cedo, fui influenciado pelo meu avô que tinha na Fotografia uma das suas paixões. Ele tinha várias máquinas fotográficas, que na altura eram todas analógicas e manuais. Comecei a fotografar tudo o que me chamava atenção, desde paisagens, retratos, etc. Desde aí, comecei a brincar com tempos de exposição e aberturas. As máquinas ainda tinham aquele ponteiro do fotómetro e foram estas experiências que me deram uma grande bagagem a nível técnico”
Que tens andado a fazer recentemente e que tipo de trabalhos tens vindo a desenvolver?
Tenho negociado várias parcerias com galerias de Surf Art. Em Portugal a Galeria Surf Leça, lá fora nos Estados Unidos, Japão, Espanha e França, que vendem as minhas fotos através de exposições e websites, da qual recebo royalties. Também sou regularmente convidado a expor o meu trabalho em várias exposições coletivas ou individuais, a nível nacional e internacional. Há tempos, teve lugar uma grande exposição, no Museu do Mar, em Barcelona, que falou sobre os principais picos de ondas grandes no Mundo e tinha fotografias minhas da Nazaré. Em junho também está programada uma grande exposição em França, no festival "Wheels and Waves”, patrocinada pela Electric. Recentemente, fui considerado pelo Soul ID um dos melhores cem fotógrafos do mundo no desporto de ação e aventura. Também tenho desenvolvido um projeto com atletas locais para otimizar a imagem e a sua divulgação e vou dedicando o meu tempo a melhorar os conhecimentos de fotografia, edição e arquivo, estando sempre atento às novidades que vão surgindo. Estou neste momento a formatar e a reorganizar workshops de fotografia de surf, de que em breve receberão novidades.
"Consoante o swell e a luz, em qualquer praia
poderemos fazer a fotografia da nossa vida"
Qual o melhor surfista para trabalhar?
Já trabalhei com vários atletas e cada trabalho acaba por ser único, porque cada pessoa é diferente e marcam as relações. Adoro trabalhar com o Salvador Couto, um dos melhores juniores portugueses com quem me dou otimamente e desenvolvo um trabalho. Ele está sempre com pica para surfar. Também adoro trabalhar com o João Guedes, o melhor surfista do Norte e quem conheço desde criança. Sinto que as nossas carreiras cresceram lado a lado numa ajuda mútua. Por último, o Elohe Alvarez, um surfista brasileiro que neste momento vive no Porto e que gosto de fotografar, porque, independentemente das condições, faz sempre altos aéreos e grandes tubos. É um surfista bastante completo, além de ser extremamente divertido. Recentemente tive o privilegio de fotografar o Alex Botelho e adorei o seu feeling.
"A fotografia é o que faço para viver. É uma paixão que se tornou profissão"
Qual a melhor praia para fotografar?
Não tenho nenhuma praia preferida para fotografar. Acho que cada praia tem a sua beleza. Consoante o swell e a luz, em qualquer praia poderemos fazer a fotografia da nossa vida. Adoro fotografar ondas com algum tamanho, mais pesadas e tubulares. Isso é o que me dá mais “pica”. Porém, num dia de onshore de ondas pequenas, também gosto de fotografar um surfista que consiga dar bons aéreos. É, por isso, que não tenho uma praia preferida, pois o que gosto mesmo é de fotografar e retratar o que de melhor cada praia tem para oferecer e conseguir boas imagens aproveitando o que a natureza nos dá.
“O que gosto mesmo é de fotografar e retratar
o que de melhor cada praia tem para oferecer"
Que conselhos passarias a quem se inicia agora no mundo da fotografia?
Saiam de casa e fotografem muito. Errem muito. Conheçam bem o material que têm nas mãos, aprendam a comandar a sua “máquina” - é essencial saber fotografar em modo manual para conseguir dar um cunho ainda mais pessoal às fotografias. Vejam muitas imagens de fotógrafos, hoje em dia há muita facilidade por causa das redes sociais e internet no geral. Reconhecer o que é mau e o que é bom, sejam autocríticos para evoluir. Apesar de terem uma visão própria, analisem também a dos outros.
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Entrevista: AF