Filipe Jervis fala-nos do free surf e da competição da Liga Moche. Filipe Jervis fala-nos do free surf e da competição da Liga Moche. Foto: Arquivo Pessoal quarta-feira, 11 maio 2016 14:16

FILIPE JERVIS: “SINTO QUE NÃO TENHO QUE PROVAR NADA"

Em entrevista exclusiva, o jovem free surfer português faz um ponto da situação... 

 

Filipe Jervis, de 25 anos, é um dos mais talentosos surfistas nacionais que vive para surfar diariamente as melhores ondas. Tendo as praias do Guincho e de São Torpes como habitual palco de treinos, este free surfer assumido deu que falar na última etapa da Liga Moche realizada na Costa de Caparica, onde terminou no terceiro lugar. A dois dias de iniciar mais uma etapa da Liga, a terceira, no Porto, fez o favor de nos fazer um ponto da situação. 

 

Para um surfista que está fortemente conotado com o free surf, conseguir um 3º lugar na Liga Moche não é definitivamente um feito ao alcance de muitos. Como analisas o teu desempenho na Costa de Caparica?

Fiquei muito contente com o meu despenho na Costa. O campeonato deu ondas boas e estavam todos a surfar muito, ter acabado em terceiro a fazer bom surf soube bem.

 

Fala-nos um pouco daquele reverse air a terminar a bateria do quartos de final. O que cruzou a tua mente naquele momento?

Eu sabia que o heat com o Saca ia ser muito difícil, mas sabia que tinha do meu lado as manobras aéreas. O Saca nunca foi conhecido por dar aéreos, sempre foi um surfista de power, e eu o contrário, sempre fui visto como um surfista de aéreos e não de power. O vento estava perfeito para dar aéreos e eu sabia que se precisasse, ia ter que entrar por aí. Tive muito tempo a discutir essa estratégia com o meu treinador Rodrigo. Se o devia fazer no início do heat ou esperar e fazê-lo apenas para quando precisasse. O inicio do heat foi muito renhido, tudo ali à volta dos 5 pontos, até ao momento em que o Saca apanha a melhor onda que entrou e se destacou com uma onda de quase 8 pontos. Fiquei a precisar de 7.40 e com apenas alguns minutos para acabar o heat, percebi que tinha que fazer algo diferente ou extraordinário para passar o heat. Assim que a onda entrou, deu para perceber que ia fechar e que a única hipótese que eu tinha era mesmo voar. E assim foi! Saiu-me perfeito, parecia que estava no free surf. Era o tudo ou nada, e como me saiu bem, decidi fazer um “claim"! (risos)

 

- A soltar bem o tail nas águas da margem sul. Foto: Pedro Mestre/ANS

 

Depois de uma primeira etapa menos conseguida, este resultado acabou por te dar um novo ânimo nas contas do ranking. Com que motivação partes agora para o Sumol Porto Pro, a terceira etapa da Liga Moche que tem lugar este fim de semana?

O grande erro da primeira etapa foi ter vindo com expetativas do ano passado (Nota: terminou em sexto no ranking). Acabei bem o ano e com todo o trabalho que fiz durante o inverno quis continuar com os bons resultados e com o bom surf. Tive a semana antes do campeonato a surfar melhor do que nunca na onda de Ribeira, o que também ajudou a criar ainda mais expetativas. O mar no campeonato esteve completamente diferente do que eu esperava, acabou por ser um campeonato em que não me encontrei com as ondas, nem com o meu surf para ser sincero. Isso fez com que baixasse totalmente as expetativas para a Costa de Caparica. Durante a semana, a treinar na Costa, comecei a meter alguma pressão em mim novamente, tanto que o Rodrigo deu-me uma descasca dois dias antes do campeonato, fazendo-me repensar tudo outra vez. Por isso, para o Porto vou exatamente com a mesma atitude da Costa. Apresentar bom surf, divertir-me e eliminar alguns nomes, porque na verdade é isso que me dá pica.

 

"O que eu quero mesmo é apresentar o melhor surf possível

e tentar destacar-me de alguma maneira"

 

A nível de ranking, qual o teu objetivo para a presente temporada?

Um dos erros que cometi antes do ano competitivo começar foi tentar criar esse objetivo de ficar num certo lugar. Comecei o ano a dizer que queria disputar o titulo ou acabar no Top 3, mas, sinceramente, desconcentra-me pensar nisso. O que eu quero mesmo é apresentar o melhor surf possível e tentar destacar-me de alguma maneira de todos os outros competidores.

 

Pelo que tens visto até ao momento, qual o surfista que mais sólido na Liga?

O Kikas (Frederico Morais) como não fez a primeira etapa, não posso dizer que seja quem esteja mais sólido. Talvez seja o surfista português mais sólido no geral. Acabou de ganhar um QS3000 nas Martinica e espero honestamente que tanto ele como o Vasco se qualifiquem o quanto antes. Se for pelas duas primeiras etapas da Liga, tenho que dizer o Gony [Zubizarreta]. Foi o surfista mais consistente e mais sólido em ambos os campeonatos. Está a mostrar um surf incrível, rápido, radical, fluido. Enfim, tudo o que se pede num surfista de competição. Curiosamente, repetiu a final da Costa na Martinica com o Kikas, demonstrando que ambos são, neste momento, os surfistas mais consistentes e sólidos.

 

- Voar é uma espécie de trademark que está no ADN de Filipe enquanto surfista. Foto: Pedro Mestre/ANS

 

Como consegue um free surfer conciliar/adaptar-se à competição? Que tipo de ginástica mental fazes sempre que as condições não estão de feição numa prova?

Cada vez mais tenho facilidade em adaptar-me à competição, porque sinto que não sou eu que tenho que provar nada. Como entrei neste modo “free surfer”, sinto que não tenho obrigações competitivas, o que retira muita pressão de cima de mim. Felizmente, tenho do meu lado a Ericeira Surf & Skate que apoiam essa minha forma de viver, o que faz com que vá para os campeonatos para divertir-me e para evoluir como surfista. Porque a verdade é que ajuda na tua evolução ver surf, ver como é que os outros surfistas leem as ondas, o seu “aproach” às manobras. Tudo isso ajuda a desenvolveres o teu surf. Claro que também me custa perder, ninguém gosta de perder, mas se calhar demoro menos horas a recuperar essa perda.

 

"Como entrei neste modo free surfer, sinto que não tenho

obrigações competitivas e que não tenho que provar nada"

 

Este último inverno contou com muitas ondas e tu foste um dos atletas mais ativos no campo do free surf. De alguma forma sentes que este último resultado obtido é também fruto de todas as sessões em que estivesse envolvido?

Cada inverno que passa sinto-me cada vez mais em sintonia com as ondas e com o mar. Posso não estar em todas as melhores sessões do ano, mas estou em 90% delas e sinto o meu surf a evoluir muito em condições perfeitas. O que por um lado não é muito bom, porque não são essas condições que temos nos campeonatos e acabamos por perder um bocado a motivação para surfar ondas menos boas. Contudo, com a ajuda do Rodrigo, acabamos por surfar nessas condições em que, por vezes, não tenho pica. É aí que sinto que o meu surf evoluiu para o lado competitivo e, apesar de não trabalharmos nesse sentido, trabalhamos em melhorar o meu surf e todos os aspetos técnicos que podem fazer a diferença, mais tarde, na competição. Mas sempre com o objetivo de melhorar o surf e nunca para o lado competitivo.

 

- Rasgadona bem forte, a soltar muita água, rumo ao terceiro lugar no Allianz Caparica Pro. Foto: Pedro Mestre/ANS

 

Por último, fala-nos um bocadinho dos projetos para este ano...

Para quem não sabe, tornei-me este ano comercial da Chilli Surfboards em Portugal, por isso, estou a aprender e a trabalhar nesse sentido. Estou também a tirar um pequeno curso de Relações Publicas, Marketing e Eventos. Tenho uns bons projetos a nível de surf a caminho e se tudo correr bem vou voltar com a série “Free Livin”, num conceito parecido com o do ano passado, mas com algumas melhorias. Por fim tenho um clipe para ser lançado. Clipe este que tive um ano e meio a filmar e que vai ter o melhor dos melhores e vai ter um conceito diferente e muito power. Estou com as expetativas bastante altas em relação a este video!

 

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Acompanha todos os passos de Filipe Jervis na sua página do Facebook, aqui

Entrevista: AF

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