"DISSE-LHE 'NUNCA DESISTAS'. O COMPROMISSO É NUNCA DESISTIR"
A SurfTotal falou com Nuno Morais, pai de Kikas.
Por Patrícia Tadeia
Quase 24 horas depois das grandes emoções de ontem, que deixaram os portugueses colados à transmissão do Vans World Cup of Surfing, em Sunset Beach, a SurfTotal foi saber como é que estas horas foram vividas por um espetador muito especial: o pai do nosso "giant Ki(ller)kas"! Nuno Morais, que segue bem de perto a carreira do filho, confessou-nos como foi a conversa que teve com Frederico assim que a prova terminou e ainda nos deu a sua opinião sobre a interferência marcada ao surfista de 21 anos que ontem subiu 35 lugares, para a 58ª posição do ranking mundial da ASP.
Como é que viveu o final de dia ontem?
Bem, a partir das 18h30, mais ou menos, estive deitado na cama com o iPhone, a ver a transmissão até às 3h30 da manhã. E, pronto, terminou com um telefonema dele.
Então nos intervalos dos heats não falou com ele?
Não, falar não. Normalmente quando o heat acaba, envio uma mensagem pelo WhatsApp, ele vê, se tiver net... Eu sinto-o e ele sente-me (risos). Mas é como pai e não como treinador, porque ele tem um. Tenho umas mensagens próprias sobre cada heat.
Deu-lhe alguns conselhos?
Não dei. Eram mensagens curtas. Num dos heats, em que ele fez 8,63 pontos, disse-lhe que tinha sido uma onda incrível. No heat do Wiggolly [Dantas], disse-lhe que lutou bem pelo heat e conseguiu virar o resultado. Disse-lhe 'Nunca desistas'. O compromisso é nunca desistir, ele não desistiu e passou sempre os heats. Em cada heat aproveitava uma peça do que era bom e enviava uma mensagem com isso. E os parabéns também claro!
E a conversa final ao telemóvel...
Ele ligou-me. Estava satisfeito. Não sabia se vinha já ou se ia esperar para saber se lhe davam um wildcard para Pipeline. Dei-lhe os parabéns, ele ria-se, nós temos uma comunicação própria. Mandei beijo de saudades, ele também disse que está com saudades de casa. Foi uma conversa de pai. Ele também me disse que teve pena de, na final, não ter apanhado mais uma onda, porque sabia que, se o tivesse feito, ia dar a volta ao resultado.
Enquanto pai, não tem receio de o ver nas ondas de Sunset?
Não, eu tenho absoluta confiança nele. Andei muito tempo dentro de água a empurrá-lo. Tenho muito confiança. Não sinto receio algum. Sei que o Kikas é um miúdo com cautela, sabe medir os riscos e avaliá-los e consegue gerir bem isso.
Como vê a evolução dele no surf e também enquanto pessoa?
Eu noto um surf mais maduro, mais calmo, está mais seguro dele próprio, com mais certezas do caminho a seguir. Cresceu muito no surf. Este treinador deu-lhe muita confiança. É um miúdo que agora sabe o que vale. Não é um miúdo com sede de ganhar a todo o custo. Sabe bem qual é o percurso dele, o caminho dele. E o caminho é com calma, a calma que vemos nos heats. Portanto, vejo um surf muito mais maduro, completamente diferente. Deu o salto de júnior para sénior este ano. Há muita coisa que tem de trabalhar porque um atleta nunca pára, mas deu um salto como pessoa em termos de crescimento, está mais calmo, mais maduro. E sabe os passos para chegar onde quer chegar. Em termos técnicos, melhorou muito o esperar do heat, a diversidade de manobras e a transição de uma manobra para outra. Evoluiu bastante.
Há pouco falava no heat do Wiggolly. Que achou da interferência? Acha que foi bem atribuída?
Não sou um perito para julgar isso, mas julgo que foi o Frederico que fez interferência.
Ontem à noite, até às 3h da madrugada, viu-se o apoio dos portugueses nas redes sociais. Sente o carinho dos portugueses?
Sinto, os portugueses são pessoas que apoiam bastante e têm estado com o Frederico cada vez mais. O Frederico também é uma pessoa muito adulta, boa pessoa, não compra guerras com ninguém, tem um bom discurso após as vitórias ou derrotas, e isso puxa as pessoas para ele. O Kikas tem essa chama.
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- Créditos fotos: Rui Oliveira