Rodrigo Sousa e Mafalda Lopes Rodrigo Sousa e Mafalda Lopes WSL sábado, 31 maio 2025 16:45

O Futuro do Surf em Portugal “É preciso valorizar a cultura de surf e o papel dos clubes na formação” Rodrigo Sousa

O treinador conceituado Rodrigo Sousa, que orienta nomes de topo como a campeã mundial Kika Veselko, Mafalda Lopes  

....e que neste momento está a acompanhar Frederico Morais, partilhou a sua visão no âmbito do fórum que o Surftotal está a organizar sobre o futuro do surf em Portugal.

 

Clubes vs. escolas: um fosso a colmatar

Segundo Rodrigo, existe em Portugal uma distinção pouco clara entre escolas de surf, que ensinam o surf numa perspetiva de negócio, e os clubes de surf, que deveriam ter como prioridade a formação de jovens surfistas.

 

“Sendo uma modalidade olímpica, deveria haver uma estrutura que facilitasse e promovesse esta formação — não só entre clubes e escolas, mas também junto das escolas de ensino básico”, defendeu.

 

A importância (ou não) da competição

Para o treinador, a relevância da competição depende dos objetivos de cada jovem surfista. “Se a vida de competidor é uma hipótese, então a competição é crucial”, sublinhou, acrescentando que as primeiras competições são um verdadeiro teste para quem quer seguir esse caminho, desafiando não só a técnica, mas também os recursos financeiros, psicológicos e familiares.

 
“Se a vida de competidor é uma hipótese, então a competição é crucial”

 

A cultura de surf está a ser bem transmitida?

Rodrigo Sousa considera que não. Aponta para uma “rivalidade medíocre, típica de país pequeno”, onde as gerações mais velhas, muitas vezes, encaram o sucesso dos mais novos como uma ameaça. “Há uma dificuldade em aceitar o sucesso dos outros, seja no free surf ou na competição, onde alguns agentes desportivos abusam das regras em vez de potenciar o talento dos jovens.”

 

“rivalidade medíocre, típica de país pequeno”

 

Escolas com papel limitado na competição

Questionado sobre o papel das escolas de surf no circuito competitivo, Rodrigo é claro: “Não. O papel das escolas já é desempenhado no que toca à formação. Mas o surf, como desporto individual, precisa de algo que enalteça as entidades coletivas, como os clubes.” Para ele, o orgulho de representar o clube local deveria ser mais reconhecido e valorizado.

 
A escola tem alguma ligação com clubes federados? Porquê?

Não é bem a minha área mas diria que clubes e escolas deveriam desempenhar a mesma função, ensino e formação, mas, em Portugal, parece haver uma distinção entre uma e outra. Por um lado, as escolas de surf ensinam surf numa perspetiva de negócio. Por outro, os clubes de surf dão a entender que o foco é formar jovens surfistas.
Uma vez que somos uma modalidade olímpica, deveria haver uma estrutura que facilitasse e promovesse esta formação, não só entre clubes e escolas de surf, como escolas de ensino básico também.

Que papel atribui à competição na formação de jovens surfistas?

Depende dos objetivos a que nos propomos. Se praticamos surf apenas pelo prazer sem que isso seja uma prioridade, a competição é irrelevante. Se a vida de competidor é uma hipótese, então a competição é crucial na formação de jovens surfistas. Há uma série de fatores que se evidenciam nas primeiras competições, que ajudam a decidir se a vontade de competir supera todas as adversidades. Entre muitas, os desafios técnicos, financeiros, psicológicos, familiares, escolares, etc.

Acha que a cultura de surf está a ser corretamente transmitida às novas gerações?

Honestamente, acho que não. De um modo geral, em Portugal, há muita rivalidade medíocre, típica de país pequeno. As gerações mais velhas incutem uma comparação com o outro, de uma forma depreciativa. Há uma dificuldade em aceitar o sucesso dos outros. Seja numa sessão de free surf, em que o surfista mais velho se sente ameaçado pela presença dos mais novos, seja no comportamento de alguns agentes desportivos que promovem a falta de ética e abuso no uso de regras durante uma competição de jovens, quando o objetivo deveria ser promover ao máximos as capacidades dos jovens surfistas.

Considera que as escolas poderiam ter um papel mais ativo no circuito competitivo?

Sinceramente, não. O papel das escolas já é desempenhado, no que à formação de potenciais competidores diz respeito. Se o fazem da melhor forma, respondi um pouco nas perguntas anteriores. O surf, sendo um desporto individual, precisa de algo que enalteça as entidades coletivas, como os clubes de surf. Deveria ser um orgulho para qualquer surfista, poder representar o clube local e, neste momento, o único momento que o fazem, é nas siglas do clube que aparecem à frente do competidor, nas folhas de heats. Claro que há excepções e clubes que fazem muito pela modalidade mas dá-me a entender que são pouco reconhecidos.

 

Esta entrevista integra o Fórum Surftotal: O Futuro do Surf em Portugal, uma iniciativa editorial que pretende reunir vozes influentes do surf nacional — desde clubes e escolas a marcas, atletas, dirigentes, pais e treinadores — para refletir sobre o momento atual da modalidade e os caminhos possíveis para o seu crescimento sustentável. Ao longo das próximas semanas, publicaremos contributos diversos que ajudarão a construir uma visão partilhada sobre os desafios e oportunidades do surf em Portugal.

Se representa uma entidade do surf nacional e gostaria de participar neste fórum, escreva-nos para info@surftotal.com.

 

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