No âmbito do Fórum Surftotal sobre o futuro do surf nacional, temos vindo a ouvir os vários intervenientes que moldam o presente e o amanhã da modalidade em Portugal. Um dos pilares essenciais deste ecossistema são as escolas de surf — o primeiro ponto de contacto para milhares de jovens com o mar, as pranchas e a cultura do surf.

Conversámos com Marcelo Martins, proprietário da Onda Pura Surf Center, uma escola com longa história ligada à formação de surfistas em Matosinhos, para perceber como encaram a sua missão no atual panorama competitivo e educativo. Desde a ligação aos clubes federados até à transmissão da verdadeira cultura de surf, esta entrevista oferece uma visão clara sobre o papel que as escolas podem (e devem) desempenhar no desenvolvimento do surf em Portugal.

1. A escola tem alguma ligação com clubes federados? Porquê?

Sim, a Onda Pura Surf Center colabora de forma próxima com a Associação Onda do Norte, um clube federado com sede em Matosinhos. Esta parceria é fundamental, pois para um surfista competir nos circuitos oficiais da Federação Portuguesa de Surf, é obrigatório estar federado através de um clube.

Ao trabalharmos com a Associação Onda do Norte, garantimos que os nossos alunos com vocação competitiva tenham acesso a um percurso claro e estruturado — com apoio técnico, enquadramento regulamentado e participação ativa nas competições regionais e nacionais. Esta ligação permite-nos acompanhar os atletas desde as primeiras ondas até aos escalões mais avançados, de forma consistente e orientada para objetivos concretos.

2. Que papel atribui à competição na formação dos jovens surfistas?

Acreditamos que a competição tem um papel importante na formação dos jovens, desde que seja integrada com equilíbrio e um propósito educativo. Trata-se de uma ferramenta valiosa de desenvolvimento pessoal: promove a superação, a resiliência, a capacidade de lidar com a pressão e o foco no progresso.

Na Onda Pura, mais do que os resultados, valorizamos o processo — o compromisso, a aprendizagem com os erros, a ética desportiva e o espírito de grupo. Mesmo para os que não pretendem seguir uma carreira competitiva, esta estrutura contribui para formar surfistas mais completos e indivíduos mais conscientes.

3. Considera que a cultura de surf está a ser corretamente transmitida às novas gerações?

Depende de quem a transmite. A cultura de surf vai muito além da técnica e da competição — envolve uma ligação profunda ao mar, respeito pela natureza, humildade e espírito de comunidade. Na Onda Pura, levamos esse compromisso muito a sério e procuramos transmiti-lo diariamente, tanto nas aulas como nas atividades complementares que promovemos.

Com o crescimento do surf enquanto modalidade olímpica e produto turístico, existe o risco de se perder essa essência. Por isso, consideramos que cabe às escolas, treinadores e à própria comunidade local garantir que a verdadeira cultura do surf seja passada às novas gerações com autenticidade e responsabilidade.

4. Considera que as escolas poderiam ter um papel mais ativo no circuito competitivo?

Sem dúvida. As escolas de surf são, para muitos jovens, o primeiro contacto com a modalidade, o que lhes confere um papel central na descoberta e desenvolvimento do talento.

Um envolvimento mais ativo das escolas — através de parcerias com clubes federados, programas de treino estruturados, apoio à participação em provas e até na organização de competições locais — seria extremamente benéfico para o crescimento do surf em Portugal. Felizmente, já existem bons exemplos dessa abordagem, e acreditamos que é um caminho que merece ser promovido e replicado a nível nacional.

Esta entrevista integra o Fórum Surftotal: O Futuro do Surf em Portugal, uma iniciativa editorial que pretende reunir vozes influentes do surf nacional — desde clubes e escolas a marcas, atletas, dirigentes, pais e treinadores — para refletir sobre o momento atual da modalidade e os caminhos possíveis para o seu crescimento sustentável. Ao longo das próximas semanas, publicaremos contributos diversos que ajudarão a construir uma visão partilhada sobre os desafios e oportunidades do surf em Portugal.

Se representa uma entidade do surf nacional e gostaria de participar neste fórum, escreva-nos para info@surftotal.com.