Rita, Manuel e Martim Rita, Manuel e Martim Arquivo Pessoal Rita Rocha quinta-feira, 15 maio 2025 22:10

O futuro do Surf em portugal - Entrevista com Rita Rocha, Mãe de Manuel e Martim Fortes !

 Rita Rocha, antiga atleta de bodyboard e mãe de Martim Fortes...

 

 

Na reflexão que a Surftotal está a promover sobre o futuro do surf competitivo em Portugal, ouvimos mais uma vez a voz de quem vive os bastidores com intensidade: os Pais. Rita Rocha, antiga atleta de bodyboard e mãe de Martim Fortes — jovem surfista da selecção nacional — partilha uma visão ponderada e profundamente humana sobre os desafios da alta competição em idades precoces.

Com experiência desportiva própria, Rita apoia o filho com consciência das exigências emocionais, sociais e financeiras que este percurso implica. Desde o equilíbrio entre escola e competição, à importância do apoio psicológico, passando pelas dificuldades em garantir apoios sustentáveis e condições justas para o desenvolvimento desportivo, a sua perspetiva alerta para o risco de o surf de formação se tornar num caminho solitário e elitista.

 

Rita Rocha: “O mais importante é garantir que continuam a ser crianças”

 

Nesta entrevista, fala-nos da importância de preservar a infância dos atletas, do papel fundamental dos clubes e da escola, e de como a competição pode ser positiva — se respeitar o ritmo e a estrutura emocional de cada criança.

 

1. O que a motivou a apoiar o seu filho na prática do surf competitivo?


Foi uma decisão ponderada. Fui atleta de bodyboard e conheço bem os desafios e benefícios da competição. O meu filho demonstrou um forte desejo de competir, e senti que era importante apoiá-lo num caminho que para ele fazia sentido. Apoiei com consciência das exigências emocionais, físicas e sociais do desporto competitivo.

 

2. Quais os maiores desafios que têm enfrentado no percurso do seu filho?


Os desafios têm sido muitos: lidar com frustrações, comparações, derrotas e a exigência de resiliência. Desde cedo, procurámos criar um ambiente emocionalmente equilibrado que permitisse ao Martim continuar a ser criança mesmo em contexto competitivo. O acompanhamento por profissionais de saúde mental foi essencial.
O aspeto financeiro também é um desafio enorme. Os apoios dos patrocinadores, embora existam, são muitas vezes insuficientes. A família é o principal suporte.
Outro desafio importante foi a escola. Felizmente, o sistema de ensino português, nomeadamente a escola Fonseca de Meneses, mostrou-se exemplar no apoio a atletas de alta competição. Ajudou o Martim a conciliar a exigência da carreira desportiva com o desenvolvimento académico e humano.

 

 

3. Sente que há apoio suficiente dos clubes e da federação?


O Clube da Ericeira, em particular, tem mostrado um lado muito humano e atento. Mas, em termos gerais, falta investimento real por parte do governo e das marcas para dar apoio psicológico, nutricional e físico adequado aos atletas em desenvolvimento. A competição começa muito cedo e é preciso respeitar as fases do crescimento de cada criança. As estruturas atuais não estão preparadas para isso.

 

4. Consideraria mudar para outro país se surgissem melhores oportunidades?


Sim, totalmente. Se houvesse melhores condições de apoio ao desenvolvimento do atleta — não só desportivo mas humano — consideraria essa mudança.
É importante lembrar que muitas destas crianças estão a abdicar de festas, de convívios, de momentos importantes com amigos e família, para perseguir um sonho. Muitas vezes viajam sozinhas, com treinadores que também têm as suas limitações.
Deixo um alerta a todos os pais: devemos apoiar, mas nunca esquecer que os nossos filhos são crianças, que merecem ter uma infância saudável. A competição não pode roubar isso. As instituições e treinadores que trabalham com menores têm de ter essa consciência.

 

Esta entrevista integra o Fórum Surftotal: O Futuro do Surf em Portugal, uma iniciativa editorial que pretende reunir vozes influentes do surf nacional — desde clubes e escolas a marcas, atletas, dirigentes, pais e treinadores — para refletir sobre o momento atual da modalidade e os caminhos possíveis para o seu crescimento sustentável. Ao longo das próximas semanas, publicaremos contributos diversos que ajudarão a construir uma visão partilhada sobre os desafios e oportunidades do surf em Portugal.

Se representa uma entidade do surf nacional e gostaria de participar neste fórum, escreva-nos para info@surftotal.com.
 
 

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