"O espírito associativo é uma realidade muito presente na Austrália. Todos vivem o clube como se fosse uma família."
"Dizer que foi “brutal” é pouco para descrever o que aconteceu naquele fim de semana. "... entrevista com o Presidente da ASCC
O surf português viveu recentemente um momento histórico com a brilhante participação da equipa da Associação de Surf da Costa da Caparica no World Club Challenge, realizado em Snapper Rocks, na Austrália. Entre 48 clubes de todo o mundo, a equipa alcançou um honroso 5.º lugar e ainda foi distinguida com o troféu de Melhor Espírito de Equipa do Campeonato, um reconhecimento pela sua paixão, dedicação e união ao longo de três intensos dias de competição.
Com este feito notável, a equipa não apenas consolidou o nome da Costa da Caparica no cenário internacional, mas também conquistou a admiração da comunidade australiana, que reconheceu a atitude positiva dos portugueses ao longo do evento.
Nesta entrevista exclusiva à Surftotal, o presidente partilha os bastidores desta jornada memorável, a emoção de competir ao lado das melhores equipas do mundo, e as lições que trazem na bagagem para continuar a elevar o surf nacional.
"O nosso objetivo é fazer aquilo que os clubes deveriam querer:
ser diferentes, marcar pela diferença, e é isso que nós somos..."
Surftotal: Parabéns pela iniciativa e pela classificação! Como surgiu esta participação? Já estava planeada há algum tempo?
Miguel "Chibanga" Gomes (ASCC): Basicamente, já andávamos há algum tempo a trocar mensagens sobre a possibilidade de representarmos a ASCC neste evento. Este ano, com a apresentação do modelo final, recebemos um convite por parte da organização, o que nos deixou extremamente felizes, pois era exatamente o que queríamos fazer. O nosso objetivo é fazer aquilo que os clubes deveriam querer: ser diferentes, marcar pela diferença, e é isso que nós somos.
Existe de facto um espírito associativo no surf australiano? Como viste essa realidade de perto?
O espírito associativo é uma realidade muito presente na Austrália. Todos vivem o clube como se fosse uma família. É incrível ver as famílias inteiras, as crianças, a apoiarem os seus surfistas com uma paixão impressionante. O apoio que se sente é surreal. Para mim, foi uma experiência inesquecível, que reforça a certeza de que estou no caminho certo.
Tem de haver algo mais do que competição. O amor que temos pelo surf deve ser partilhado, e é exatamente isso que eles fazem na Austrália.
Em que consiste esta prova? É possível haver uma ligação entre uma prova portuguesa anual e este evento mundial de clubes?
Ainda estamos a trabalhar nos detalhes, mas posso adiantar que nós, juntamente com o Snapper Rocks Club e a organização, estamos a planear algo inovador para breve na Europa. Queremos criar algo especial que vá além das fronteiras habituais.
"É incrível ver as famílias inteiras, as crianças, a apoiarem os seus surfistas com uma paixão impressionante.
O apoio que se sente é surreal... "
Como foi a experiência? Foi a primeira vez da ASCC na Austrália?
A nossa experiência foi absolutamente incrível, e este é o caminho que queremos seguir. A Austrália é exatamente como se imagina: boas vibrações, pessoas incríveis e muito surf.
Todos os membros da equipa já tinham estado na Austrália, exceto eu e o Rodrigo, que está a captar imagens para o nosso documentário, que será apresentado no final do ano.
Que lendas estavam presentes? O espírito vivido nesses dias foi realmente único para a cultura do surf? Porquê?
Dizer que foi “brutal” é pouco para descrever o que aconteceu naquele fim de semana. Ver a praia inteira a vibrar com o Parko a terminar uma onda que lhe podia dar a vitória foi inesquecível. Ou estar ao lado do Occy, que se refugiava da chuva, enquanto todos aqueles grandes surfistas passavam por nós… São momentos que nunca vamos esquecer. Foi algo que celebramos de forma autêntica e vivemos em conjunto a verdadeira cultura do surf.
"Dizer que foi “brutal” é pouco para descrever o que aconteceu naquele fim de semana.
Ver a praia inteira a vibrar com o Parko a terminar uma onda que lhe podia dar a vitória foi inesquecível... "
O que sentes de diferente entre os clubes de surf da região da Austrália e os da Europa, particularmente os de Portugal?
A grande diferença é o espírito de entreajuda e o amor ao oceano que eles têm. Na Austrália, a cultura de praia está profundamente enraizada nos clubes. Estar na praia, respirar a praia, respeitar a praia – estas são as regras básicas para todos os clubes australianos. Pais, mães, avós e filhos surfam juntos, de forma natural e espontânea.
Em Portugal, infelizmente, poucos têm verdadeiro orgulho em representar o clube a que pertencem. Lá, é exatamente o oposto: todos adoram representar e participar, o que cria uma ligação muito mais forte entre os membros e comunidade local.
Quem levaste contigo e porquê?
Levámos aqueles que sempre representaram o clube com dedicação e nunca nos viraram as costas. A entrega deles ao clube é incrível, e sempre nos deram razões de enorme orgulho. Foram escolhas naturais e bem merecidas.
Esta foi talvez a melhor experiência das nossas vidas e um reflexo do espírito que queremos transmitir às futuras gerações.
Em 2026, estaremos de volta à Austrália!
O formato da competição foi diferente do habitual?
O formato era bem diferente e, na minha opinião, muito mais interessante, pois valoriza a união entre os clubes e os atletas. Este modelo tem o potencial de ajudar bastante a indústria do surf a regressar às suas raízes. Falei com vários surfistas de topo, como Sebastian Zietz, Parko e Owen Wright, e todos partilham a mesma opinião: este formato é o ideal.
Claro que o modelo da WSL continua a ser importante, mas deve haver algo diferente para tornar as competições mais apelativas, tanto para os surfistas como para o público em geral.
Esta foi talvez a melhor experiência das nossas vidas e um reflexo do espírito que queremos transmitir às futuras gerações. Em 2026, estaremos de volta à Austrália!