"[No tow in] a essência do surf por algumas vezes perde-se" - Joana Andrade faz um balanço de 2023 e partilha objectivos para 2024
Big rider concede entrevista exclusiva à Surftotal.
Joana Andrade tem uma paixão muito grande pelas ondas grandes, mas nunca deixou de nutrir o seu amor pelo surf na sua forma mais pura, que pratica desde jovem e onde iniciou a sua carreira como atleta profissional. Hoje em dia, vai atrás da adrenalina e da superação em ondas como a Nazaré, e encontra a essência do surf do surf nas várias ondas da Ericeira, onde mora. Também vai aprimorando as suas capacidades a pilotar o jet ski, que faz parte do trabalho de uma big rider, e ao mesmo tempo vai gerindo a sua escola e garantindo a sua qualidade.
A Surftotal conversou um pouco com Joana, nesta entrevista exclusiva em que a atleta nos conta como foi o ano de 2023, como está a sua vida agora e quais são os objectivos para 2024.
Olá, Joana! Como estás? Por onde tens andado? Muito surf ultimamente?
Estou bem! Muito surf sim, empenhada nos treinos na Nazaré (entre pilotar e surfar) com bastante foco e determinação para este ano. Os resultados estão à vista e estou bastante satisfeita.
"Estou orgulhosa de mim e a caminho dos meus objectivos"
Sabemos que em 2023 tiveste um ano bem ativo no que diz respeito ao surf de tow in. Queres-nos fazer um resumo do ano?
Em 2023 surfei ondas bonitas, sem estar à procura da maior onda do mundo. Surfei ondas fantásticas na Nazaré, e também em surf normal na Ericeira onde vivo e tenho a minha escola de Surf. 2023 foi um ano muito positivo, evolui no meu percurso em tow in, entre pilotar um jet ski e colocar o/a surfista na onda e focar-me no sucesso do resgate, o que é um grande desafio. Estou orgulhosa de mim e a caminho dos meus objectivos. Não tivemos as ondas gigantes que todos estávamos à espera ( a mãe natureza é quem comanda) mas tivemos bastantes dias de ondas e boas ondas para treinar.
Em 2023 os meus treinos foram intensos. Sinto que estou a construir o que já pretendo há vários anos, com as pessoas certas ao meu lado, os apoios certos, dos que acreditam em mim, os incentivos da família e amigos, e tudo se faz com as pessoas e com os objetivos bem definidos. Foi um ano em que tudo esteve no caminho certo. Tudo. 2024 está a começar e estou focada em evoluir ainda mais.
"Eu só ganhava campeonatos quando o mar estava grande"
Mas ainda fazes surf em ondas normais, certo? Como foi tua última surfada?
Sim, óbvio. O surf de ondas normais é a minha minha vida. Desde a infância que dediquei a minha carreira ao surf normal, como todos sabem, vou sempre surfar ondas normais. Vivo na Ericeira, onde tenho o meu ginásio de mar à porta de casa, mas a verdade e que eu só ganhava os campeonatos quando o mar estava grande. Esse foi um dos grandes motores para me dedicar nos últimos nove anos ao tow in e ás ondas grandes.
Que ondas que surfas mais frequentemente?
Mais frequentemente e sempre, Coxos, Ribeira d'Ilhas, São Lourenço e a Praia do Norte, sendo que agora em 2024 e 2025 penso surfar a nível mundial e noutros países, outras ondas gigantes, Mavericks é um desses locais para futuro, mas não só. Existem ainda mais ondas por explorar.
E no surf de ondas grandes, quais são as tuas ondas favoritas?
Gosto muito de ir à remada para são Lourenço, faço isso regularmente. E de tow in gosto da Nazaré, e como referi este ano de 2024 e 2025 quero explorar outras ondas, Jaws, Mavericks, entre outras.
Por falar nisso, qual a maior onda que surfaste sem auxílio de tow in?
Acho que foi em São Lourenço há dois anos atrás num dia gigante, aproximadamente cinco metros. Fui à remada com uma gun 10 pés.
E qual foi a tua maior onda em tow in?
Nós nunca temos a certeza do tamanho exacto da onda, mas já senti que foram várias e algumas bem grandes, talvez do tamanho de dois andares, ou três andares.
"[No tow in] a essência do surf por algumas vezes perde-se"
Porque razão continuas a fazer tow in? Tens algum objetivo específico?
Por vezes também me questiono. A verdade é que a essência do surf por algumas vezes perde-se, principalmente quando os interesses e o ego se sobrepõem à essência. O desalento surge-me por vezes, perante injustiças e falta de reconhecimento, e pergunto-me interiormente as razões de amar surfar e fazer tow in. Mas algo me fascina no poder das ondas, a energia gigante , o mistério envolvente da natureza, de estar envolvida com as ondas, de sentir que faço parte delas, de sentir algum o medo e o medo me ensinar a sobrevivência absoluta, arriscar, e a adrenalina que tudo me transmite, sair da minha zona de conforto. Acho que as ondas grandes e o tow in ensinam-me todos os dias a melhorar o meu foco e a minha disciplina interior.
Este desporto ajuda-me na minha própria superação, na visualização até dos meus sentimentos, tudo coisas boas, por isso faço e continuarei a fazer. Quer queram ou não, estou cá! E de alguma forma e com as ferramentas que fui e vou adquirindo, quero mostrar ao publico presente e no digital o meu processo.
Quais são os teus objectivos para este ano?
Para 2024 e já a pensar em 2025, tenho alguns. Na Nazaré continuarei a treinar, entre surfar e pilotar muito, e principalmente entrar nos campeonatos de ondas gigantes que vão acontecer. Ser convidada pelo meu trabalho e sem lobbies é o meu objectivo. e juntamente com a minha equipa produzir conteúdos digitais sobre as minhas ferramentas, e surfar outras ondas noutros países. Para além disso, não menos importante, continuar a gerir e bem a minha escola de surf na Ericeira, a Progress Surf School, onde tenho como obectivo a criação de novos retiros de surf.
"Não sei mesmo responder ao motivo de não ser convidada para o evento da WSL"
Tens algo mais a dizer?
Agradeço o convite para a entrevista após o campeonato. “Quem não se sente não é filho de boa gente “ já diz o ditado, e enquanto atleta, surfista, e mulher eu sinto, e sinto muito ver algumas injustiças a acontecer e a falta de oportunidade e convite para mostrar o resultado de todo o meu trabalho. Já mereço mais do que um convite, afinal eu trabalho para a minha evolução e reconhecimento, faz parte. Apesar de me enviarem centenas de mensagens, emails e perguntas as quais não sei responder, porque não sei mesmo responder ao motivo de não ser convidada para o evento da WSL.
Mesmo para evoluir no meu processo, ou até me defender perante alguns bastidores, não entendo e não tenho resposta. Mas chegas a uma determinada altura em que o surf prevalece e o amor pela essência do desporto prevalece acima de tudo, vou continuar o meu caminho e o meu progresso que está á vista de toda a gente.
Para quem ler esta entrevista e tiver vontade de conhecer e sentir o verdadeiro mar da nazaré, podem ter uma experiência comigo de jet ski in loco, podem seguir-me e enviar-me questões directamente. joana_andrade_surf é o meu instagram pessoal (para além do tik tok dos outros canais digitais).