Margarida Guerra tem trabalhado com o Surf adaptado na Califórnia Margarida Guerra tem trabalhado com o Surf adaptado na Califórnia Arquivo pessoal domingo, 08 janeiro 2023 21:17

"Continuo a ser a mesma Guerrinha" - Margarida Guerra conta como está a sua vida desde que deixou a competição

 "Na Nova Zelândia voltei a encontrar uma nova paixão pelo surf".

 

Margarida Guerra, natural de Cascais, surfista da geração de Frederico Morais, foi top nacional durante primeira década do século XXI e uma lesão acabou por afastá-la da competição. A Surftotal esteve na Califórnia e conversou com a surfista Portuguesa que também  já foi pivot do Surftotal TV.

 

Quando Margarida Guerra se lesionou em 2009, teve que abandonar a competição e acreditava que não voltaria a surfar. Foram precisos dois anos de fisioterapia com Nuno Morais, com reflexões sobre o rumo da sua vida pelo meio, mas a surfista voltou a deslizar sobre as ondas. Ainda assim, foi quando se mudou para a Nova Zelândia em 2011 que as coisas voltaram verdadeiramente a fazer sentido.

Agora casada e com o apelido Larson, Margarida conversou com a Surftotal sobre tudo o que se passou na sua vida durante estes anos, como se redescobriu e reinventou a sua ligação com o surf, o papel que a Nova Zelândia e a Califórnia tiveram neste seu caminho, e o seu trabalho como fisioterapeuta e na área do surf adaptado.

 

Margarida Guerra - arquivo pessoal

 

Sabemos que tens viajado pelo mundo e vivido fora de Portugal há já algum tempo, praticamente desde que deixaste de competir, estamos certos? Queres-nos contar um pouco sobre isso?
 
Sim,  é verdade. Quando tive a minha lesão e deixei de competir foi tudo tão repentino e assustador que me senti um pouco perdida. Na altura, os médicos disseram que só podia caminhar e nadar.  Mas depois de dois anos de fisioterapia com o Nuno Morais, e de decidir o queria fazer com a minha carreira tanto na faculdade como no surf, eu consegui voltar a surfar, mas desta vez decidi ficar-me pelo free surf e parti para a Nova Zelândia em Fevereiro de 2011. 
 
 
 

"Na Nova Zelândia voltei a encontrar uma nova paixão pelo surf"

 
 
 
 
Na Nova Zelândia voltei a encontrar uma nova paixão pelo surf na ilha sul do país, onde surfas com pinguins e focas quase sozinho em todo o lado, rodeado de ondas tão selvagens que te sentes minúsculo neste mundo. Lá conheci também o meu marido, Alex, que na altura estava a aprender a surfar e  ajudou-me a voltar a ter um espírito aventureiro tanto no mar como nas montanhas. 
 
Depois de vivermos na Nova Zelândia por três anos, decidimos ir viver temporariamente em Portugal a caminho dos Estados Unidos onde eu decidi, inspirada pela minha lesão, candidatar-me à Graduate School e fazer doutoramento em Physical Therapy em Boston. 
 
Passámos vários anos a surfar as ondas frias da East Coast, mas depois de conseguir o meu doutoramento, partimos finalmente em busca das montanhas e do mar na Califórnia. Estamos a viver há três anos a cinco minutos de Rincon, em Carpinteria, e acho que nunca me diverti tanto a surfar. 
 
 
A Nova Zelândia acabou por transformar a vida de Margarida.
 
 
 
 
 

"Pensava mesmo que não ia voltar a surfar e foi traumático"

 

 
 
 
Como foi a tua relação com o surf após teres sido quase forçada a deixar de o praticar?
 
 
Na altura não tinha a maturidade que tenho agora. Sinceramente foi bastante difícil. Não sabia bem o que fazer e na altura não tínhamos o apoio psicológico e também cultural que as atletas do surf têm agora em Portugal. Pensava mesmo que não ia voltar a surfar e foi traumático pois na altura estava bastante dedicada a dar o meu melhor. 
Mas foi uma altura importante na minha vida , que me fez repensar os meus objectivos e obrigou-me a reconhecer melhor o que eu realmente queria fazer em termos profissionais.
 
Foi também transformador na minha vida e necessário ao meu progresso pessoal. 
 
Às vezes fico triste de ter parado de competir, mas ao mesmo tempo descobri um outro lado e equilíbrio no surf que adoro. 
 
 
 
E o recomeço, quando e como aconteceu?
 
Lembro-me da primeira onda que apanhei depois da minha lesão no Guincho. Final de tarde na esquerda do Muxaxo. Mágico. 
Voltei aos poucos, mas foi mesmo na Nova Zelândia que voltei a surfar mais frequentemente. Eu acho que precisava da distância de Portugal para conseguir a voltar a sentir liberdade na água e enfrentar os meus medos. 
 
 
 
E neste momento, podes contar-nos um pouco da tua realidade?
 
 
Hoje em dia vivo na Carpinteria em Santa Barbara, Califórnia. Sou fisioterapeuta e ajudo muitos pacientes com problemas parecidos como o meu! 
Trabalho também com muitos pacientes com lesões da medula espinhal e AVC, e passo muito tempo a dar terapia aquática para estes pacientes se sentirem livres e fortes. Levou-me também a começar a fazer voluntariado com desporto adaptado e tem sido uma experiência bastante gratificante. 
 
 
 
 

"O surf continua a ser o meu veículo de conexão tanto espiritual como de adrenalina"

 
 
 
 
A onda de Rinkon

 

Neste momento, que lugar ocupa o surf na tua vida?
 
 
90% das minhas decisões são baseadas se há surf em Rincon ou não! (risos)
Amo surfar. Conheci muitos amigos aqui e reuni-me com amigos de longa data quando fazíamos o QS juntos. Gosto imenso da cultura do surf em Santa Barbara. Conheces muitas lendas do surf e partilhas grandes alegrias pela influência positiva que o surf traz a cada dia. 
O surf continua a ser o meu veículo de conexão tanto espiritual como de adrenalina na vida. Nada é mais mágico do que surf antes do nascer do sol e partilhas as ondas de Rincon com os verdadeiros locais -  os golfinhos. 
 
Também me juntei agora à Santa Barbara Boardriders e foi uma experiência espectacular pois foi a primeira vez que voltei a competir depois da minha lesão. Gostei imenso da competição em equipa, e em Março voltamos a competir para nos qualificarmos para a final em Trestles. 
 
Margarida e o seu irmão João Guerra na Nova Zelândia.
 
 
 
Como começou a tua ligação ao surf adaptado?
 
 
Foi directamente relacionado com o meu trabalho. Trabalho com muitos jovens que infelizmente estão paralisados e perderam a sua oportunidade de voltar a fazer qualquer tipo de actividade e desporto. Eu trabalho num hospital de reabilitação e temos vários contactos e eventos que organizam ou patrocinam surf adaptado. Para mim, fez todo o sentido combinar a minha paixão pelo surf com a minha dedicação de dar nova qualidade de vida a pessoas que sofreram lesões traumáticas que lhes mudaram a vida para sempre. É realmente especial ver uma pessoa que está numa cadeira de rodas há vários anos e vai apanhar a sua primeira onda. 
 
 
 
 

"Continuo a ser a mesma Guerrinha" 

 

 

Margarida com o seu irmão João e sobrinho.
 
 
 
Dá-te especial gozo espalhar o espirito do surf para outras pessoas?
 
Acho que sim! Continuo a ser a mesma Guerrinha. Adoro partilhar boa energia tanto no mar como fora. 
 
 
Para quando um surf em Portugal?
 
Este verão?! 
Tenho ido anualmente a Portugal , e gosto muito de surfar com o meu irmão , o meu marido e agora o nosso sobrinho que começou a nova geração Guerra no surf. 
 
 
Algo mais a dizer?
 
Saudades do surf em Portugal e de competir e rever todos os amigos que fiz ao logo dos anos! 

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