Maxime Huscenot durante a sua entrevista à Surftotal Maxime Huscenot durante a sua entrevista à Surftotal sexta-feira, 16 dezembro 2022 13:45

"Eu e a Deeply temos crescido juntos..." Maxime Huscenot fala sobre a sua entrada no CT 2023

Não haverá surfistas Portugueses qualificados para o CT 2023 mas a marca Portuguesa Deeply ajudou o surfista Francês a lá chegar...

 

Maxime Huscenot é um surfista que tem vindo a trabalhar de há 10 anos a esta parte para entrar no circuito de elite da World Surf League, o CT.  Nascido em França embora com 15 dias de idade tenha ido com os seus pais para as Ilhas Reunião, Maxime é um surfista que qualquer marca gostaria de o ver como seu patrocinado. Neste caso foi a Deeply, marca Portuguesa de alcance Europeu, que o redescobriu após este ter saído da Quiksilver em 2014. 

Maxime tem um surf potente de rail, sendo o seu backside uma das suas maior armas, complementado com uma técnica apurada nos tubos assim como nas manobras aéreas. Um atleta e um ser humano de excelência reconhecido por todos aqueles que o rodeiam e que com ele contactam. Na companhia de seu Pai, que vendeu a sua empresa para dedicar a sua vida a apoiá-lo neste seu objectivo, Maxime conseguiu este ano de 2022 a tão desejada qualificação para o World Tour da WSL. A Deeply que sempre acreditou neste desfecho, tem vindo a patrocinar e apoiar Maxime neste seu projeto de vida desde 2017.

 

A Surftotal esteve à conversa com Maxime após a sua deslocação aos headquarters da Deeply que nos explica algumas facetas desta conquista assim como outros detalhes e objectivos que tem para 2023.

 

 

Maxime Huscenot. WSL 

 

Há quanto tempo estás no QS a tentar a qualificação?

- Estou no QS há 10 anos, a tentar qualificar-me há 8 anos.

 

Houve uma altura em que quase te qualificaste, em 2015. O que aconteceu nesse ano?

- Estava no top 10 logo antes do Havai, conectei-me mal com as ondas lá. Perdi de primeira duas vezes seguidas, e passei de 8º a 25º lugar. Passei de estar quase lá para completamente fora. Lembro-me que foi doloroso, porque pensava que poderia ter conseguido, que merecia, apenas cometi alguns erros durante o ano. A pressão ficou toda no Havai, e não consegui fazer acontecer. Era algo que não queria repetir este ano, e queria ser forte no Havai e conseguir qualificar-me.

 

"O que senti foi que, no ano passado, no Quiksilver Pro France,
encontrei alguns sentimentos e algum espaço mental e estratégias que eram mais parecidas
com coisas que fazia quando era mais novo, a competir como júnior..."

 

 

Qual foi o momento este ano que te fez pensar “vai ser desta vez”?

- O que senti foi que, no ano passado, no Quiksilver Pro France, encontrei alguns sentimentos e algum espaço mental e estratégias que eram mais parecidas com coisas que fazia quando era mais novo, a competir como júnior. Estava a funcionar para mim, para voltar a ganhar e impressionar-me em quaisquer condições. Desde aí que guardei essa confiança e esse espaço mental, e continuei a ganhar daí para a frente. Quase que não tive eventos maus. Tive uma ou duas derrotas precoces, em Ballito e Hungtinton Beach. Mas não fiz heats maus, simplesmente as ondas não estavam lá para mim. Quase que tive scores para passar. Sem ser isso, tive boas prestações em todos os campeonatos desde o Quiksilver Pro France no ano passado. Senti que voltei a encontrar o meu ritmo.

 

Maxime no momento em que soube da sua qualificação para o CT 2023. WSL

  

A tua prestação está dependente das ondas. Há uma relação entre os teus resultados, a tua motivação e as ondas dos eventos?

- Acho que os melhores surfistas são aqueles que conseguem ter sempre boas prestações, em todas as condições, mas claro que muitos surfistas preferem determinados tipos de condições, e a sua prestação muda consoante as condições. A dificuldade no surf, diria, é ser o melhor em qualquer mar, que nem toda a gente consegue. É algo no qual trabalho e que quero melhorar. Há ondas onde estou mais confortável e onde acho mais fácil ter uma boa prestação. Mas o que aconteceu este ano foi que tive bons desempenhos em ondas que não são ideais para mim. Porque senti que estava muito mais focado, trabalhei muito mais para essas ondas. E isso ajudou-me  a encontrar a solução e ganhar.

 

 

"Acho que os melhores surfistas são aqueles que conseguem ter sempre boas prestações, em todas as condições, ..."

 

 

Então treinaste muito em condições adversas?

-Exactamente. Sinto que sou melhor em esquerdas de dois metros, e acabei por conseguir melhores resultados em direitas. Não é o meu ponto fraco, mas não é onde estou mais confiante. Há quem trabalhe apenas nos seus pontos fortes, porque as ondas são adequadas ao seu surf. E eu acho que este ano, também graças a anos anteriores, consegui melhorar até nas ondas que não são adequadas para o meu surf. Trabalhei muito para conseguir ser bom surfista em qualquer situação e consegui encontrar um bom espaço mental para me adaptar a qualquer condição.

 

Maxime Huscenot vencedor na Costa da Caparica. WSL

 

 

Sim, temos crescido juntos, que é um lado bom de fazer parte disto,
e é algo que eu gostei muito quando me apresentaram o projecto.
O nosso primeiro projecto seria crescer.

 

 

Vamos falar de patrocínios. Entraste para a Deeply em 2018. Antes estavas na Quiksilver, e depois vieste para a Deeply, uma marca europeia, uma das poucas que existem na indústria do surf. Foi importante para ti?

- Sim. Estive muito tempo com a Quiksilver, 12 ou 13 anos, e depois estive 2 anos sem patrocínio. Encontrar a Deeply nessa altura foi muito especial, principalmente por ser uma marca europeia. Senti que tínhamos uma relação muito próxima, mais familiar. Não sei se é melhor por ser uma marca europeia e por eu ser europeu, porque todas as marcas têm partes interessantes das suas histórias, mas foi um ponto em comum. A direcção onde a marca ia e a direcção onde eu ia eram parecidas, e temos criado histórias incríveis desde aí, tem sido muito bom.

 

Em suma, tens crescido ao mesmo tempo que a marca. Porque a marca tem crescido desde que te começou a patrocinar. Nos últimos anos a Deeply cresceu muito.

-  Sim, temos crescido juntos, que é um lado bom de fazer parte disto, e é algo que eu gostei muito quando me apresentaram o projecto. O nosso primeiro projecto seria crescer. Foi muito bom fazer parte disso. É diferente de apenas surfar, é fazer parte de algo, e algo que criamos juntos. É muito bom.

 

 

Maxime Huscenot tem um jogo aéreo forte - WSL

 

Sei que treinas muito em Pipeline e em Teahupo’o. Onde praticas mais?


-É difícil dizer. Passo mais tempo em Pipeline do que no Taiti porque tenho ido lá todos os anos, e tiro sempre tempo do ano para surfar lá. Não sei se diria que prefiro Teahupo’o, mas tive tantas surfadas incríveis sem ninguém, aproveito tanto a onda, e em Pipeline está sempre cheio, é sempre stressante, não sabes se vais apanhar uma onda. Às vezes apanhas uma onda em uma hora. Estás a lutar contra o crowd e as ondas. É um ambiente muito stressante. No Tahiti, já apanhei ondas perfeitas em que só estava eu e os meus amigos. É um ambiente completamente diferente. Adoro os dois, e adoro muitas das ondas do Tour. Vai ser muito interessante. Estou muito entusiasmado para estar no CT pela qualidade das ondas. Sempre foi o meu sonho surfar ondas perfeitas com duas pessoas na água. Estou entusiasmado por ter essa oportunidade em Pipeline e mal posso esperar.

 

Então isto é mesmo o sonho tornado realidade para ti?

- Sim. Isto foi o que sempre senti quando era mais novo e via estas ondas. Pensava “deve ser tão bom surfar estas ondas sem ninguém”. Estou mais entusiasmado por isso do que pelos resultados propriamente ditos. Se chegar às meias-finais e às finais vou ficar feliz, mas se isso não acontecer, continuo feliz pela oportunidade de surfar aquelas ondas. Este é o sonho. É o meu sonho de criança.

 

Para este ano o meu maior objectivo é tentar ir aos Jogos Olímpicos.
São na França, e este é o ano para conseguir a qualificação através do CT, 

 

 

Quando surfaste pela primeira vez Pipeline ou Teahupo’o, ou outras ondas de consequência, o que sentiste? Era como imaginavas quando eras mais novo, ou foi algo diferente?

- É um pouco dos dois. Acho que quando estás em Pipeline ou em Teahupo’o, sentes a energia do lugar. Pensas “ok, percebo porque é que toda a gente fala de estes lugares serem tão especiais”. Sentes essa energia. Mas quando estás numa onda, estás numa onda, é o sentimento de surfar, e podes senti-lo em qualquer lugar do mundo. Mas definitivamente quando estás a sentir o ambiente, esses lugares são muito especiais, e são muito mais do que aquilo que eu sonhava.

 

Maxime em Haleiwa na companhia de seu pai. WSL

 

Qual é o teu maior objectivo?

- Para este ano o meu maior objectivo é tentar ir aos Jogos Olímpicos. São na França, e este é o ano para conseguir a qualificação através do CT, por isso tenho uma boa oportunidade de garantir uma vaga. Este é o meu objectivo.

 

O que precisas de fazer?

- Tenho que estar entre os top 10 países. Cada país só pode enviar um máximo de 2 surfistas. Estou a competir contra todos os países e não contra todos no Tour. Mas a ideia é conseguir ficar dentro do cut e qualificar-me.

 

 
"É engraçado, porque no ano passado estava o Kikas e não havia nenhum francês*, e este ano estou lá eu mas não há nenhum português...."

 

 

 

Conheces toda a gente no mundo do surf português. Como vês o cenário do surf português? A Teresa Bonvalot quase que se qualificou, qual é a tua opinião sobre isso?

- É engraçado, porque no ano passado estava o Kikas e não havia nenhum francês*, e este ano estou lá eu mas não há nenhum português. É uma situação estranha. Eu estava na praia com o Frederico, o Vasco, com todos os portugueses a torcer pela Teresa, e foi um momento de partir o coração quando a final não correu como nós queríamos. Mas apoiamo-nos uns aos outros e queremos que a Europa brilhe. A Europa tem uma comunidade surfista muito grande e um potencial enorme, em termos de qualidade das ondas, de patrocínios, de comunidade… Todos vivemos isto muito intensamente. Claro que queremos representar os nossos países, mas também a nossa região. Adoro as qualidade das ondas aqui, as pessoas, tudo. É um pouco doloroso não ter surfistas portugueses no CT, mas espero representá-los o melhor possível em Peniche e em todo o lado. Definitivamente sinto que tenho o apoio de toda a Europa, não só da França.

 

*Nota: a Johanne Defay estava no Tour e é francesa

 

O backside de Maxime é uma das suas armas mais fortes. WSL

 

 

Sentes que as pessoas da Europa mantêm-se juntas nos eventos?

- Sim. Todos viajamos com os nossos próprios treinadores, os nossos próprios amigos, mas no fim das contas, quando começa o campeonato, e um de nós está nas meias-finais ou nas finais, vamos todos para a praia e torcemos uns pelos outros. Nem sempre vemos isso filmado, porque não estamos a reclamar essas vitórias para nós enquanto europeus, mas torcemos sempre uns pelos outros e tentamos estar juntos.

 

 

Tem sido importante ter o meu pai ao meu lado para ajudar-me a evoluir todos os dias.
Ele está lá todos os dias comigo. Todos os dias estamos na água, a filmar, a surfar. 

 

 
Qual é a importância do teu pai enquanto treinador na tua carreira?

- Tem sido muito importante. Quando eu era mais novo ele estava sempre do meu lado, a trabalhar todos os dias, a filmar, a trabalhar a técnica, a tentar evoluir. Depois fiz o circuito alguns anos sozinho, ele tinha a sua empresa. Há seis anos decidimos que ele ia tentar viajar comigo nos eventos maiores para ser o meu treinador. Então ele vendeu a empresa, assumiu um risco. Tem sido importante tê-lo ao meu lado para ajudar-me a evoluir todos os dias. Ele está lá todos os dias comigo. Todos os dias estamos na água, a filmar, a surfar. Depois assistimos, analisamos, tentamos melhorar. Ele tem sido uma parte muito importante do meu sucesso, e tem sido uma ótima ajuda, tê-lo comigo.

 

Tens algo mais a dizer?

- Obrigado ao público português!

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