O Clube de Surf do ano em Portugal? .... Entrevista Exclusiva com Miguel Gomes da ASCC... sexta-feira, 09 dezembro 2022 10:05

O Clube de Surf do ano em Portugal? .... Entrevista Exclusiva com Miguel Gomes da ASCC...

O Clube de Surf do ano em Portugal? .... Entrevista Exclusiva com Miguel Gomes da ASCC... 

 

ASCC - Um Clube de Surf exemplar com a filosofia e formação dos Clubes Australianos !

 

A Surftotal esteve à conversa com Miguel Gomes conhecido no meio do surf por Chibanga, alcunha atribuída por ser uma pessoa cheia de garra, um lutador. Neste caso concreto Miguel Gomes tem vindo a lutar pela evolução do surf na Costa da Caparica com a sua ASCC(Associação de Surf da Costa da Caparica). Este Clube é dos mais activos a nível nacional contribuindo para a formação de atletas de renome internacional. A Surftotal foi até à Costa da Caparica e esteve à conversa com este verdadeiro guerreiro.

 

 

 Miguel Gomes(Chibanga) - Caparica Waves

 

"O que me move é fazer algo diferente no surf nacional e ajudar os surfistas,
em geral, a serem melhores seres humanos.
Acho que o surf e toda a sua cultura têm essa capacidade de transformar as pessoas..."
 
 
 
Surftotal: Miguel conta-nos o que ainda te move para encabeçar um projecto como o da ASCC.

 

Miguel Gomes(Chibanga) - O que me move é fazer algo diferente no surf nacional e ajudar os surfistas, em geral, a serem melhores seres humanos. Acho que o surf e toda a sua cultura têm essa capacidade de transformar as pessoas.
Tenho alguns sonhos para a ASCC que ainda não estão cumpridos e enquanto não os concretizar não fico satisfeito. Sou assim e vou ser assim até ao fim. Gostaria de fazer um trabalho com os mais desfavorecidos e quem sabe um dia poder ter um campeão de surf oriundo dos bairros menos favorecidos do concelho de Almada. Continuo a acreditar que o surf tem essa capacidade de mover montanhas. É para isso que trabalho, quero ser diferente.

Olho sempre para o passado com nostalgia e ao ver que por aqui passaram tantos surfistas e bodyboarders na ASCC que hoje em dia são o pilar da nossa sociedade, e todos eles muito activos no desenvolvimento da nossa modalidade, deixa-me orgulhoso do trabalho que fizemos até agora. Ver pessoas como o Francisco Spínola, David Luís, Lufi, Hugo Pinheiro, Francisco Morgado, Hugo Carvalho e Pedro Simão, entre muitos outros, faz-nos olhar com muita vontade para o futuro pois estamos a criar os homens do amanhã.

 

Mafalda Lopes - Caparica Waves 
 
Surftotal: Temos assistido a uma evolução grande da ASCC estes últimos anos, concordas com esta afirmação? Se sim quais os pontos principais que consideras essa evolução?

 

Miguel Gomes(Chibanga) -A ASCC, desde sempre, foi um clube com ambições. No próximo ano faz 10 anos que sou presidente e 29 anos como sócio-fundador do clube. Sempre tive vontade de voltar a meter a Caparica no mapa do surf nacional, acho que é para isso que os clubes ou associações existem, para fazer um trabalho diferenciado, desenvolvendo o desporto e defendendo a História, os valores e culturas locais.

Temos tido uma preocupação em trabalhar com todos sejam escolas, empresas ou treinadores independentes seja com atletas de outros clubes, pois achamos que só assim através do intercâmbio de ideias e experiências se consegue evoluir mais e esse é sem sombra de dúvidas o papel dos clubes e associações.

Temos também um projecto de formação que abrange as camadas mais jovens preparando desde início os mais novos (dos 5 aos 14 anos), divididos por três escalões etários. 

Foi a ASCC que criou a primeira escola de surf na Costa de Caparica, quando ninguém pensava em ter escolas. Isso para mim é uma responsabilidade enorme, por isso, tenho como objectivo tentar ser o mais profissional possível sabendo que é difícil gerir pessoas mas que sem elas nada se faz.

Em 2023 vai haver mudanças dentro da nossa escola e vamo-nos focar cada vez mais em procurar futuros campeões acompanhando praticantes desde os 5 até aos 10 anos. É por aqui que queremos ir na vertente da formação, é para isso que vamos trabalhar, com o objectivo de colaborar com todas as escolas do concelho de Almada com o intuito de procurar futuros campeões. Queremos marcar a diferença e em conjunto esse trabalho fica mais fácil pois nada se constrói sozinho.

Temos também ajudado financeiramente (dentro das nossas possibilidades) vários atletas que correm os circuitos nacionais e internacionais. Enfim, fazemos aquilo para o qual os clubes e associações devem estar focados, criar, desenvolver e ajudar os atletas e modalidades que representamos.

A Costa de Caparica sempre teve história mas, infelizmente, estava um pouco apagada derivado a egos super inflamados. E isso fez com que tivesse mais vontade de marcar a diferença seja com eventos seja a nível individual pois uma associação não vive só de campeonatos, vive de pessoas.

 

Em 2016 vencemos a Taça de Portugal que não vinha há 15 anos para a Costa de Caparica. Em 2022, o Guilherme Ribeiro é Campeão Nacional Open, título que não vinha para a Caparica à 24 anos. Nos últimos anos obtivemos vários títulos nacionais juniores e uma campeã europeia, Mafalda Lopes. Fazemos uma média de 10 a 12 eventos por ano. É isto que me move: sermos cada vez melhores e obrigarmos os outros clubes a correrem atrás do nosso trabalho. Sei que alguns não gostam de ouvir, mas é este o caminho. Se querem ser grandes tem de haver muita dedicação, amor e trabalho para pôr isto tudo de pé. Custa, mas no fim, sabe bem.

 

 

"Fazemos uma média de 10 a 12 eventos por ano. É isto que me move:
sermos cada vez melhores e obrigarmos os outros clubes a correrem atrás do nosso trabalho..."

 

 

 

Beatriz Carvalho - Caparica Waves 

 

Surftotal:  Vamos falar de atletas primeiro, sabemos que um dos principais objectivos do clube é fazer evoluir os seus atletas. Podes nomear alguns atletas que este ano tenham alcançado títulos nacionais e Internacionais? Que pertençam à ASCC

 

Miguel Gomes(Chibanga) - A nível de surfistas este ano o ponto alto foi sem dúvida o Guilherme Ribeiro campeão Nacional Open e a sua vitória no QS em França. O Gui tem treinado muito e, para nós, é muito gratificante vermos os seus resultados e temos muito orgulho no que ele alcançou.

O Justin Mujica sagrou-se Campeão Nacional Master 2022 e a Beatriz Carvalho é a Campeã Nacional Sub-18 2022. E, claro, depois nos nossos circuitos, o campeão do Special Event, Francisco Almeida, no circuito Caparica Power foram André Moi e Maria Dias campeões na categoria Open e Feminino, respectivamente.

No Super Groms, Tomás Pereira e Sofia Matos foram os campeões Sub-14 e na Categoria Sub-8, o destaque da pequena surfista, Maria Inês Gama.

Naturalmente, não podíamos deixar de falar da Mafalda Lopes, ela que é a primeira atleta da Costa de Caparica a estar na corrida para uma vaga no Championship Tour da World Surf League. Achamos que é tudo uma questão de timing até a Mafalda se sincronizar com o Tour. Todos gostam dela desde as surfistas até aos comentadores, por isso, acreditamos que vai ser para breve e estamos a torcer muito por ela… Go Mufs!

Além disso, tivemos vários atletas presentes nas seleções, o que mostra bem o quanto é importante o trabalho que fazemos com estes circuitos, dão a todos uma oportunidade de poderem rodar mais e serem melhores competidores.

 

 
"A nível de surfistas este ano o ponto alto foi sem dúvida o Guilherme Ribeiro campeão Nacional Open e a sua vitória no QS em França...."
 

Guilherme Ribeiro - Caparica Waves

 

 

Surftotal:  Relativamente a provas, a competições organizadas pela ASCC, podes contar-nos como tem sido a sua estratégia ? existe uma estratégia e objetivos por detrás das provas ASCC certo? Um ou várias, queres contar-nos qual ou quais?

 

Miguel Gomes(Chibanga) - A nossa estratégia é muito simples: queremos ser os melhores e os mais profissionais a organizar estes eventos pois só assim o surf anda para a frente.

Podemos ter todas as condições mas se continuarmos a ser amadores vai ser sempre mais difícil termos mais atletas a lutar por vagas nos QS europeus e Challenger Series. Temos orgulho em ser, com toda a certeza, o melhor clube da Europa neste estilo de organização e isso é algo que nos motiva a todos.

Os nossos patrocinadores, por norma, não ficam só um ano e depois deixam de trabalhar connosco. A razão é simples, veem retorno porque existe uma preocupação enorme com o retorno dado, com a imagem dos eventos, tudo é feito ao pormenor. Outra questão, que é a mais importante, é que estes circuitos são a base do surf de competição. Temos dois circuitos, um para Groms e outro para Juniores e Open. O último é aberto, logo, todos podem entrar o que faz com que pareça um QS pois tem vários atletas estrangeiros a participar que só podem entrar nestes eventos. O nível de surf é altíssimo e obriga todos a aplicarem-se. Acho muito importante marcarmos esta diferença seja a nível de organização até ao nível de surf. Temos de deixar de ser os campeões do bairro se quisermos ter mais atletas como o Saca e Kikas.

 

 

"O que acho é que a F.P.S. deveria dar uma atenção diferente aos clubes como a ASCC
e valorizarem mais este trabalho.
Não podemos, nem devemos, estar ao mesmo nível de uma escola de surf. ..

 

 

 

Caparica Waves 

 

Surftotal:  Este ano de 2022 foi o ano em que houve mais provas da ASCC durante a última década? Quantas e que provas foram organizadas?

 

Miguel Gomes(Chibanga) - Este ano, se não tivéssemos tido aquele problema em Maio com as flatadas consecutivas ao fim-de-semana, tínhamos feito 11 eventos. Mesmo assim acabamos com nove, não está nada mal. Normalmente fazemos entre 10 e 12 eventos por ano fora todo o trabalho associativo envolvido durante o ano, acções ambientais, aulas, etc. Este ano fizemos etapas de:

Circuito Regional da Grande Lisboa.

Rip Curl Grom Search.

Campeonato Nacional de Longboard .

Campeonato Nacional Surf Masters.

2 etapas Circuito ASCC Caparica Power ASCC Special Event .

2 etapas Circuito Super Groms .

 

"O nosso desporto sempre teve raízes e sem os clubes estes miúdos não conhecem nada.
Eles têm de estar envolvidos com a cultura do surf e só os verdadeiros clubes
lhes podem transmitir esses valores,seja a nível nacional ou internacional...

 

 
 
Surftotal:  Achas importante ou fundamental os clubes de surf existirem em Portugal? se sim porquê?

 

Miguel Gomes(Chibanga) - Acho fundamental existirem clubes de surf. O nosso desporto sempre teve raízes e sem os clubes estes miúdos não conhecem nada. Eles têm de estar envolvidos com a cultura do surf e só os verdadeiros clubes lhes podem transmitir esses valores, seja a nível nacional ou internacional.

Um pequeno exemplo: os miúdos têm de saber quem é o Simon Anderson, o homem que criou a tri-fin ou então quem é o Tom Curren e o Occy. É importante eles perceberem, desde pequenos, que existe uma história e que o desporto que eles fazem é diferente dos outros por todas estas razões que falei.

Neste ponto, acho que os treinadores têm também um papel super importante. Além de ensinarem as regras de competição e de dar treinos devem, também, ensinar aos poucos e irem falando da história para lhes abrirem os horizontes.

Essa é a razão pela qual nós adoramos fazer o campeonato de Masters. A nossa história é tão intensa que só quando estamos todos juntos é que vemos o quanto o nosso trabalho é importante.

A meu ver, existe agora um grande problema com esta geração. Os miúdos não fazem surf, vão treinar... Algo está mal. Muitos dos pais nunca fizeram surf, logo, não transmitem os valores que o surf tem e aí cabe aos clubes fazerem passar essa mensagem seja nas redes sociais seja na praia, nas vitórias e nas derrotas… Não podemos deixar de ter as nossas rivalidades entre clubes, isso mantém o surf vivo, sempre foi assim e deve continuar a ser. Clubes de surf têm de ser puros, não podemos deixar entrar outros que querem ser como nós e aproveitarem-se do nosso lifestyle simplesmente porque agora o surf está na berra. Temos de nos proteger destes oportunistas porque quando o surf deixar de dar nós vamos continuar porque o surf e o mar estão no nosso sangue.

 

 

Justin Mujica - Caparica Waves

 

 

 

"Ninguém gosta de trabalhar sem ganhar dinheiro. Toda a gente gosta de falar e dizer mal, logo, fica cada vez mais difícil acreditar no que fazemos..."

 

 
Surftotal: Há perigo de extinção dos clubes de surf em Portugal? e no Mundo?

 

Miguel Gomes(Chibanga) - Bem, uma coisa é certa: ninguém gosta de trabalhar sem ganhar dinheiro. Toda a gente gosta de falar e dizer mal, logo, fica cada vez mais difícil acreditar no que fazemos. Mas depois vemos miúdos e miúdas como o Zion Brocchi, Maria Dias, Toxa e Tomás Pereira, entre muitos outros, cheios de brilho nos olhos e pensamos que realmente vale a pena continuar pois são eles o futuro e é por eles que trabalhamos.

Na minha opinião, acho que vai sempre aparecer alguém que gosta do surf e vai querer levar para a frente o projecto seja mais profissional ou amador.

Nós na ASCC trabalhamos para criarmos condições de topo para a nossa comunidade e meter a Costa de Caparica como o maior clube de surf do país. É esse o nosso objectivo.

 

Surftotal: exemplos de Países que gostasses de nomear e que consideras com Clubes de Surf que têm vindo a evoluir e a funcionar bem?

 

Miguel Gomes(Chibanga) - Sem sombra de dúvidas os clubes australianos são a nossa referência por todas as razões que já falei: amor ao Surf, respeito pela história, respeito pelos ícones locais, campeonatos para todas as idades, apoio à nova geração, preocupação pelo ambiente, entre muitas outras coisas. São estes os valores da ASCC. De salientar também o orgulho que surfistas como os campeões mundiais Mick Fanning ou Joel Parkinson ou o vice-campeão mundial, Taj Burrow, têm em vestir as camisolas dos respectivos clubes. Mesmo quando estavam no auge das suas carreiras a competir no CT, participavam nas competições de clubes no país sendo um exemplo de excelência, dedicação e orgulho para os mais novos. 

 

Caparica Waves

 

 

Surftotal: E Federações? Que Países consideram terem as Federações mais competentes do Mundo? Nomeia 4.

 

Miguel Gomes(Chibanga) - Honestamente, não tenho uma opinião acerca das federações de outros países pois não conheço o trabalho delas. O que acho é que a FPS deveria dar uma atenção diferente aos clubes como a ASCC e valorizarem mais este trabalho. Não podemos, nem devemos, estar ao mesmo nível de uma escola de surf. Tem de haver distinções. Não estou a falar de eventos, estou a falar de peso na hora de votar e fazer ouvir e proteger quem realmente trabalha para o futuro do surf nacional pois sem clubes como o nosso o surf não cresce. Esta é a minha opinião e a de vários outros dirigentes como eu. 

 

 

A nossa estratégia é simples: fazer mais e melhor,
sempre preocupados em dar as melhores condições aos atletas
que competem nas nossas provas e retorno aos nossos patrocinadores.

 

Surftotal: Estratégia para 2023? Mais sponsors na carteira por forma a auxiliar a ASCC a crescer e fazer mais pelo surf nacional?*

 

Miguel Gomes(Chibanga) - A nossa estratégia é simples: fazer mais e melhor, sempre preocupados em dar as melhores condições aos atletas que competem nas nossas provas e retorno aos nossos patrocinadores.

Estamos sempre à procura de mais patrocinadores para podermos fazer este trabalho ainda melhor. Temos alguns contactos feitos e estamos à espera de respostas. Vamos ver o que 2023 nos reserva. Se alguém estiver interessado em apoiar o nosso trabalho, pode contactar-nos. 

Queremos fazer um agradecimento a todos os nossos atletas e sócios que todos os dias vestem a camisola da ASCC, aos nossos patrocinadores especialmente ao Almada Fórum, Native Açaí, Go Chill e Billabong e a todos aqueles que nos vão apoiando arranjando prémios para os eventos.

Fazer um agradecimento muito especial à Câmara Municipal de Almada e à Junta de Freguesia da Costa de Caparica por nos apoiar e arranjar soluções no licenciamento e dar sempre suporte às nossas iniciativas. Que venha 2023 com boas ondas para todos!

 

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