Pai e filhos há uns anos atrás conversam após um heat Pai e filhos há uns anos atrás conversam após um heat Arquivo pessoal Jorge Ribeiro sábado, 05 novembro 2022 18:25

"Aos 3 anos foi comigo num bboard apanhar uma onda...quando dei por ele estava em pé em cima da prancha ..."

Pai de Guilherme Ribeiro fala sobre o trajecto do actual Campeão Nacional de Surf...

 

 

A Surftotal esteve à conversa com Jorge Ribeiro, surfista da antiga da Costa da Caparica e pai de Guilherme Ribeiro, o actual campeão nacional de surf. Jorge Ribeiro é também treinador de nível 2 e acompanha diversos atletas para os auxiliar na sua evolução.  Vamos ficar a conhecer melhor Jorge assim como Guilherme Ribeiro, como foi o seu inicio no surf e muito mais...

 

 

  

O Gui aos 3 anos foi comigo pela primeira vez em cima de uma prancha de body board, apanhar uma onda.
E logo nessa, eu a pensar que ele iria deitado até ao final, quando dei por ele estava em pé em cima da prancha e assim foi até ao final da onda. 
Jorge Ribeiro a dropar uma bomba na Costa da Caparica na época de 90. Click por Ricardo Bravo / Surf Portugal numero 15

 

Jorge sabemos que fazes parte da primeira geração do surf na Costa da Caparica, é verdade? Queres-nos contar um pouco sobre o surf na tua vida?


Efetivamente não sou bem da primeira geração pois comecei a fazer surf no verão de 1982, há mais de 40 anos. Considero-me da segunda e talvez mais forte geração de surfistas de todos os tempos da Caparica.
O surf para mim sempre foi uma paixão. Antes de eu próprio competir, o que realmente me levou a apaixonar por este desporto foi e sempre será o contacto com a natureza, o mar, a praia e as sensações do deslize e correr ondas.
Hoje em dia continuo a fazer o que gosto e tento passar o meu "know how" aos meus atletas, pois sou treinador nível 2.

 
"....havia um circuito regional do CSC na Caparica (desde que em 1989/1990 o Luisinho, João Cortez e eu relançamos o CSC, foi criado um circuito com várias provas e escalões)
e começava finalmente a conquista de um novo espaço do nosso desporto...."
   
 
Os Campeonatos de Surf na Costa da Caparica tinham um sabor especial. Foto arquivo Luis Semedo. 

 

Quando começaste a competir as infra estruturas de apoio ao surf assim como o status do surf na sociedade eram bem diferentes dos dias de hoje? Se sim em que pontos principiais?


Quando comecei a competir não havia infra-estruturas nenhumas. As poucas competições que por vezes aconteciam mais no inicio, eram quase por carolice. O surf era visto como algo marginal e pouco aceite pela sociedade. Poucos clubes, falta de apoios, era tudo muito amador. Competi cerca de 10 anos e a partir do inicio dos anos 90, com o aparecimento da FPS em 1989, começaram a aparecer mais clubes e aos poucos o Surf começou a ser visto com outros olhos. Outra credibilidade e tentativa de deixar uma nova imagem. Quando deixei a competição em 1993, já existia um Circuito Nacional, havia um circuito regional do CSC na Caparica (desde que em 1989/1990 o Luisinho, João Cortez e eu relançamos o CSC, foi criado um circuito com várias provas e escalões) e começava finalmente a conquista de um novo espaço do nosso desporto.

 

 Portugal ainda não garantiu nenhum/a atleta no CT e isso tem de ser o caminho se queremos ter peso ao mais alto nível.

Guilherme Ribeiro quando venceu a etapa de Qualificação em Lacanau este ano de 2022. Click por Masurel/WSL
 
Consideras que o surf português está a atravessar uma boa fase? Como vês a situação de um modo geral e a competição em particular?


Penso que nalguns aspectos o surf em Portugal atravessa uma boa fase mas noutros nem tanto. Só esta questão era capaz de dar outra entrevista...No entanto, temos de realçar em termos de competição conquistas muito importantes em termos internacionais das atletas femininas, nomeadamente em CS, QS, ISA, EUROSURF, EUROJUNIOR, bem como também algumas no lado masculino nas mesmas provas. Agora, por exemplo, infelizmente Portugal ainda não garantiu nenhum/a atleta no CT e isso tem de ser o caminho se queremos ter peso ao mais alto nível. Espero sinceramente que consigamos ter quer no masculino quer no feminino, atletas a esse nível, apesar da forte concorrência e nivel hoje em dia. Temos de ser todos mais profissionais no fundo.

  

"Temos de ser todos mais profissionais no fundo...."

  

Agora como Pai do Gui, como tem sido este caminho? O Gui desde criança que já queria surfar? E competir, quando sentiste essa chamada no Guilherme?


Tem sido realmente uma caminhada que me deu até hoje muito prazer e alegria. Trabalho, persistência, momentos bons outros nem tão bons, mas afinal faz tudo parte do processo.
O Gui aos 3 anos foi comigo pela primeira vez em cima de uma prancha de body board, apanhar uma onda. E logo nessa, eu a pensar que ele iria deitado até ao final, quando dei por ele estava em pé em cima da prancha e assim foi até ao final da onda. Achei que ele tinha algo diferente. Depois foi evoluindo e sempre a querer surfar e ultrapassar os seus limites e barreiras. Ele adorava os desafios quando o mar estava grande para ele.
A partir dos 8 anos mostrou interesse em competir. No seu segundo campeonato regional foi a uma final ficando em terceiro lugar. A partir daí sempre quis competir e acho que foi muito importante na sua evolução. Ele queria sempre mais. Ia cheio de vontade a todas!!!

 

 

Achei que o Guilherme tinha algo diferente.
Depois foi evoluindo e sempre a querer surfar e ultrapassar os seus limites e barreiras.
Ele adorava os desafios quando o mar estava grande para ele.
 


Este ano tem sido um ano notável e de certa forma de afirmação para o Guilherme, o ano em que venceu um QS e conquistou o titulo nacional, … quando há estas conquistas, olha-se para trás, sente-se que vale a pena e dá vontade de continuar ? Queres falar um pouco sobre isso?


Sem dúvida. Foi até agora o melhor ano em termos competitivos do Gui, pois apesar de enquanto junior também ter tido bons resultados, o nível dos campeonatos Open é muito mais elevado. Penso que eu e ele olhamos para trás com a sensação que o esforço está a ser recompensado. Ainda para mais ele teve de levar em paralelo até ao 12°ano as duas vertentes: escola e surf. E isto não foi fácil, só foi possível porque ele sempre foi bom aluno e excelente desportista, caso contrário seria impossível e teriamos de ter feito escolhas mais cedo.
Agora chegados aqui, sabemos todos que o principal objectivo tem de ser continuar em busca de um lugar nas CS e tentar chegar ao CT, pois doutra maneira todo este esforço, trabalho e dedicação não fariam sentido.

 

 

"Ainda para mais ele teve de levar em paralelo até ao 12°ano as duas vertentes: escola e surf.
E isto não foi fácil, só foi possível porque ele sempre foi bom aluno e excelente desportista,
caso contrário seria impossível e teríamos de ter feito escolhas mais cedo....

 

Gui Ribeiro com 10 anos de idade. Click por Swell Algarve

 

Outro dia falávamos com o Pinga(mentor do Toledo) sobre a comunicação cuidada que deve ser feita com os atletas mais jovens, tu enquanto Pai e quanto o Gui era criança e competia sempre tiveste cuidado em não pressioná-lo muito? Achas isso fundamental para que haja uma evolução salutar do jovem surfista e transição para atleta adulto?


Sem dúvida. Há boa e má pressão a meu ver. Há que ter cuidado na maneira como todos comunicamos uns com os outros. Quando achei que poderíamos chocar e começar a entrar numa espécie de conflito, tomei a decisão de fazer as coisas doutra forma, acompanhando mais à distância e por entreposta pessoa. Dar espaço, deixar respirar e deixar que ele esteja disponível para ouvir mais tranquilamente o que lhe queremos transmitir, é algo fundamental. Acho que este caminho o está a deixar crescer como atleta e como homem!

 
"Dar espaço, deixar respirar e deixar que ele esteja disponível para ouvir mais tranquilamente o que lhe queremos transmitir, é algo fundamental..."
 

 


Sendo Portugal um dos principais destinos de surf europeus e onde há um grande numero de praticantes, o que na tua opinião poderá ser feito por forma a termos mais atletas a lutar por títulos internacionais?


Falo por experiência própria. Em Portugal ainda não há a cultura desportiva e competitiva que existe noutros paises. A parte de conciliação entre a escola e o desporto está muito aquém do que é feito noutros países. É muito fácil dizer que certo país só vai às provas internacionais recolher as medalhas ou as taças, pois elas são ganhas é nos treinos. Pois é verdade, concordo. Mas quando vamos analisar as condições e o processo, verificamos que não há comparação com o que se passa em Portugal. Neste capítulo não podemos criticar quando os resultados não aparecem. Temos é de criar as condições para que possamos ter esse tipo de condições. Se não conseguirmos, então aí sim podemos ser criticados!
O futuro dirá se queremos ir por aí!!!

Algo mais a dizer?

Muito obrigado

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