"Portugal é uma potência dentro do surf europeu", diz o treinador Llewellyn Whittaker em entrevista para a Surftotal segunda-feira, 05 setembro 2022 14:25

"Portugal é uma potência dentro do surf europeu", diz o treinador Llewellyn Whittaker em entrevista para a Surftotal

"Estava determinado a tornar-me no melhor treinador de surf do mundo"...

 

 

 

O Centro de Alto Rendimento de Surf de Viana do Castelo tem dinamizado as High Performance Training Series (HPTS) - uma série de treinos de alta performance d acompanhados pelo treinador de surf olímpico Llewellyn Whittaker. Esta série já incluiu os eventos Surf Day e o Pro Junior Training Camp, em Abril, e, mais recentemente, o Girls Training Camp, que terminou a 1 de Setembro. Foi neste contexto que a Surftotal entrevistou Llewllyn Whittaker. 

Enquanto atleta, Whittaker teve uma carreira junior de sucesso na Africa do Sul e já como adulto competiu ao mais alto nível acabando no top 100 do WQS. Começou a carreira como treinador em Inglaterra, onde acompanhou diversos atletas da equipa nacional junior inglesa. Em 2008 mudou-se de novo para a África do Sul, onde acompanhou atletas como Adin Masencamp, Ethan Fletcher, Max Elkington até diversos títulos sul africanos e no WQS. 

Ao longo dos anos treinou muitos atletas até títulos nacionais e vitórias em eventos júniores da WSL, alcançando inclusive uma medalha de prata nos ISA World Junior Surfing Championship, Peru 2011, com a equipa júnior da África do Sul. Nos últimos anos trabalhou como treinador principal da Federação Alemã de Surf acompanhando diversos atletas como o Leon Glatzer, qualificando-o para os Jogos Olímpicos Tokyo 2020. 

Nesta entrevista, o treinador fala sobre o seu percurso, o panorama do surf a nível europeu e mundial, o trabalho que tem desenvolvido com as HPTS no Centro de Alto Rendimento de Surf de Viana do Castelo, e o nível de surf em Portugal, país que vê como uma potência na Europa.

 

 

"Estava determinado a tornar-me no melhor treinador de surf do mundo"

 

 

 

 Como é que começa a carreira de um treinador? Eras um atleta do QS. Quais foram as tuas maiores motivações para iniciares o percurso como treinador?

 

Foi algo bastante natural e orgânico, na verdade. Eu estava a tempo inteiro no WQS de 2002 a 2006 e sempre que eu ia a casa os meus pais sentavam-se comigo e perguntavam: “O que vais fazer quando parares de competir e viajar?” e a minha resposta era “Não sei, talvez estudar e ser professor ou assim. E quando me mudei para a África do Sul comecei a minha escolar de surf, e 10 depois os meus atletas são alguns dos melhores do país e competem no Challenger Series. Eu simplesmente adoro surf e estava determinado a fazer do surf a minha vida ao tornar-me no melhor treinador do mundo.

 

 

Como começou o teu primeiro projecto como treinador? Foi satisfatório?

 

Eu estabeleci-me em Mossel Bay, a minha terra natal, onde cresci, e que fica na Rota Jardim entre a Cidade do Cabo e Jeffreys Bay. Quando comecei a treinar, a maior parte dos meus clientes estava na Cidade do Cabo, então todos os meses eu viajava dez dias para lá para trabalhar com os juniores.

Era muito bom, porque tinha uma equipa de jovens surfistas muito talentosos surfers, e claro que era muito bom poder ficar com o meu pai e a minha falecida mãe. É sempre bom visitar a família.  

Depois eu também viajava para J-Bay para training camps, e de vez em quando também os fazia em Durban e em East London. Nesta altura também havia uma série de competições júniores de nível nas quais eu ia como treinador dos meus atletas mais jovens.

 

 

 

 

 

 

Sabemos que já treinaste algumas Selecções Nacionais, mas há uma que nos deixou particularmente curiosos, que foi a Selecção Alemã, já que não há muitas ondas ondas oceânicas na Alemanha. Mas há alguns atletas alemães com bons resultados no QS e no surf de ondas grandes. Consegues explicar um pouco da realidade do surf na Alemanha? Pensas que o surf na Alemanha pode-se desenvolver a ponto de ser tornar uma das melhores equipas da Europa?

 

Começo poder dizer que a Selecção Alemã já uma das melhores da Europa, algo que provou quando terminou em 6º lugar no ISA em 2021 e em 3º no Campeonato Europeu de 2019. Têm uma equipa muito forte, ainda que pequena, e eu sempre achei que o seu maior ponto forte era o facto de poderem recrutar surfistas de todo o mundo, desde que tenham passaporte alemão. A Selecção Alemã tem surfistas da Costa Rica, de Portugal, dos EUA e do Equador. Mas pensando em sustentabilidade e desenvolvimento a longo prazo, na categoria júnior, terão desafios pelo simples facto de que não são um país de surf.

 

 

"Os melhores surfistas europeus terão passado por aqui em algum ponto das suas carreiras." 

 

 

 

Sobre estes eventos em Portugal, podes explicar-nos o seu propósito? Estes jovens que estás a treinar durante uns dias, quem são?

 

Em 2020 eu dinamizei um training camp no CAR em Viana do Castelo para a Selecção Alemã. Foi de longe o melhor training camp de alto rendimento de toda a minha carreira. Foi tão bem-sucedido que, no início do ano, o João Zamith perguntou-me se eu queria juntar-me a ele e ao Gonçalo Cruz para desenvolver uma série de treinos de alto rendimento. Claro que disse logo que sim. Adoro as condições do Centro, e adoro trabalhar com estas pessoas. 

O nosso principal objectivo com as High Perfomance Training Series (HPTS) é estabelecer este como um dos melhores Centros de Alto Rendimento da Eueropa, e, com o tempo, fazer crescer o nível de surf em Portugal e na Europa, sabendo que, em cinco ou dez anos, os melhores surfistas europeus terão passado por aqui em algum ponto das suas carreiras.

 

 

Quais são os principais aspectos que um jovem surfista trabalha aqui?

 

Tenho estudado o surf a fundo nos últimos anos, e sou um treinador muito técnico, por isso uma grande parte destes training camps é sobre melhorar a técnica. No princípio, identificamos dois ou três pontos técnicos de cada surfista que podem ser melhorados e passamos o resto do tempo a trabalhar esses aspectos.

Ao final, os surfistas terão melhorado o seu surf e terão mais confiança neles próprios. Depois de os ver a surf, vejo o seu repertório de manobras e decido onde encaixam no meu programa de treinos. Gosto muito de repartir o surf entre tipos específicos de manobras e depois olhar para os detalhes e elementos mais pequenos de cada manobra, e ser específico para o estilo de cada surfista.

 

 

 

 

 

 

"O copo está sempre meio-cheio!"

 

 

 

Quais são as maiores falhas que tens identificado nos surfistas jovens, que devem ultrapassar para chegar a um nível de topo?

 

A sua auto-confiança e os limites que eles próprios se impõem.

Não acredito que os jovens tenham falhas, tenho uma filosofia diferente. Quando és jovem e estás a tentar algo novo, estás apenas a tentar melhorar-te a ti e ao teu surf. Então, como poderias estar errado, ou ter uma falha? O copo está sempre meio-cheio!

 

 

"Estive na Liga MEO e fiquei muito impressionado com o nível de surf e com a infraestrutura."

 

 

 

Sobre Portugal: Como pensas que está o nível do surf em Portugal actualmente, em comparação com os maiores países do surf como a Austrália ou o Brasil?

 

Eu adoro Portugal!

Estou muito agradecido à comunidade portuguesa de surf por me aceitarem e me acolherem na sua família. Um dos meus melhores atletas é o jovem emergente Luís Perloiro. Visto de fora, há alguns treinadores incríveis a fazer trabalho incrível. O nível geral do surf em Portugal é muito alto, mas sinto que em Portugal, como na África do Sul, não há um número de talentos tão grande, e eu acredito que é daí que vem o sucesso das grandes nações do surf.

Estive na Liga MEO com o Luís Perloiro e fiquei muito impressionado com o nível de surf mas também pela infraestrutura do circuito.

 

 

E em comparação com a Europa, como está o surf português actualmente? Os resultados masculinos têm sido mais discretos – o que falta aos atletas portugueses para chegarem ao topo dos rankings?

 

Não concordo com esta premissa! Vejamos os atletas portugueses que venceram o evento em Lacanau, e outro atleta português que venceu em Anglet! Diria que Portugal é uma potência dentro do surf europeu. Também há duas mulheres a representar Portugal no Challenger Series. O número de atletas não é grande, mas os melhores surfistas de Portugal atingem os mais altos níveis na Europa e no mundo.

Leva tempo para desenvolver um surfista, e cada atleta tem o seu auge num momento diferente. O truque é fazer com que todos os atletas cheguem ao auge na mesma altura, e isso, em contrapartida, pode causar uma impressão de queda repentina no sucesso de um país.

 

 

Pensas que a realidade do surf competitivo está a ir na direcção certa?

 

Nos últimos dez anos, o surf tem-se tornado num desporto de massas, que todos podem aproveitar, principalmente como passatempo. Como qualquer desporto, vai sempre haver um lado competitivo, e, com isto em mente, diria que sim. Mas claro que há um estilo de vida de espírito livre associado ao surf, e essas pessoas com certeza discordam.

 

Algo mais a acrescentar?

Agradeço a oportunidade e agradeço muito pelo apoio de todos os amigos que fiz aqui em Portugal!

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