Francisco Rodrigues: "A renovação de gerações dentro da Liga tem sido bastante interessante"
O balanço do passado e as expectativas para o futuro
Desafios pandémicos, novidades de calendarização, novas ascenções e outras questões como os critérios de participação na Liga Meo foram levantadas ao Presidente da Associação Nacional de Surf (ANS), Francisco Rodrigues.
Este começou por parabenizar todo o trabalho concretizado pelas entidades e equipas de suporte que contribuiram, nestes anos pandémicos, para que a Liga Meo ficasse de pé, realçando “solidez”. Por esse motivo, “mais do que uma vitória era uma obrigação fazer acontecer”.
Alargar os horizontes entre portas aos atletas do continente e proporcionar oportunidades de desenvolvimento também aos atletas açorianos, são motivos que estão na causa da devolução da etapa da Liga Meo aos Açores.
Francisco Rodrigues comentou ainda a transição de gerações a que se tem assistido com uma velocidade mais acentuada entre as mulheres. As expectativas e confiança depositada na nova geração está em cima da mesa.
Face à questão da possibilidade de participação de atletas residentes estrangeiros, o Presidente da ANS falou em regras e critérios que têm de ser cumpridos, frisando que, por um lado, não pode cair no esquecimento que a Liga Meo “é uma competição nacional e não internacional” e, por outro, que “não são soluções costumizadas para A ou B que vão resolver o problema”, deve, segundo Francisco, atender ao interesse colectivo e salvaguardar nestas decisões “os surfistas portugueses que há muitos anos lutam pelas suas carreiras”.
Embora seja “uma competição com recursos e lugares limitados que luta pela bandeira portuguesa”, Francisco Rodrigues não descartou a procura de soluções dentro da Liga Meo “que façam sentido para todos e possa ser um pouco mais alargada”.
P: Qual é o balanço destes últimos 5 anos à frente da ANS? Tem sido um caminho no desenvolvimento do surf profissional em Portugal?
R: Têm sido muito gratificantes. Estes tempos que estamos a passar, seja a questão do Covid-19, seja a própria crise do conflito que existe neste momento na Europa, são tempos que testam as equipas, testam os projetos e testa também aquilo que é a resiliencia disto tudo. A realidade é que nós termos sido a equipa que fez o primeiro campeonato no mundo inteiro em 2020 a seguir ao primeiro lockdown num regime de pura incerteza e de aprendizagem dos novos tempos, ter corrido tudo bem e ter dado seguimento ao projeto nesses dois anos de Liga Meo, sem cancelar nenhuma etapa, é muito positivo e mostra a solidez com que toda a equipa aqui trabalha.
"Mais do que uma vitória era uma obrigação nossa fazer acontecer"
P: Foram a primeira entidade do mundo a relançar uma Liga Nacional durante a pandemia. Que maiores desafios tiveste pela frente?
R: Eu diria que os obreiros disto, acima de tudo, são as entidades decisoras do ponto de vista de licenciamento. Fizemos um trabalho muito de perto com os decisores políticos, aqui em específico nas Câmaras Municipais, depois devidamente apoiado pela Federação Portuguesa de Surf. A relação com as autoridades de saúde e o desenvolver de um plano de contingência foram efetivamente os dois grandes desafios. E depois foi também explorar pela positiva o facto de ser a principal competição de surf em Portugal para devolver uma vida ativa aos profissionais do surf, diretamente os surfistas e indiretamente todas aquelas equipas de suporte que fazem acontecer as competições. Mais do que uma vitória era uma obrigação nossa fazer acontecer.
Na Praia Grande, na celebração dos 20 anos da ANS. Foto: Luís Niza/ANSurfistas
P: Entrando neste ano de 2022, com que grandes novidades podemos contar na Liga Meo?
R: Para 2022 a novidade mais evidente e já devidamente falada, é o regresso da Liga aos Açores. Já há muitos anos que não tinhamos uma etapa do melhor surf nacional nas regiões autónomas e estamos muito contentes por voltar a proporcionar isso, não só para os surfistas do continente alargarem um bocadinho e irem para umas ondas onde normalmente não estão mas também é muito importante para a comunidade de surf nos Açores. Eles já contam com os campeonatos mundias e isso já deixa um cunho de desolvimento na região mas eu acredito que a Liga, sendo uma competição nacional, vai ser bastante importante para que se desenvolvam grandes surfistas lá, encabeçados pelo Jácome Correia que já é competidor na Liga há muitos anos. Ele próprio também já manifestou contentamento por ter a etapa em casa.
"No final da época passada teve a cereja no topo do bolo com a Francisca Veselko a sagrar-se Campeã Nacional Open ainda com a idade júnior"
P: Relativamente à renovação de gerações dentro da Liga Meo, têm vindo a verificar-se? Como dirigente máximo da ANS isso apraz-te de alguma forma?
R: A renovação de gerações dentro da Liga tem sido bastante interessante. Quando eu assumi a liderança na ANS, era a geração do Vasco Ribeiro e do Kikas que estavam a encostar todos aqueles das gerações fortes dos anos 90 do surf em Portugal e agora passados 10 anos finalmente começamos a ver esse movimento a acontecer novamente, personificado pelo Afonso Antunes, pelo Guilherme Ribeiro, isto no caso do masculino. No feminino acho que tem sido uma situação meio híbrida. Ao longo dos anos, o plutão da frente das surfistas mais experientes tem vindo a renovar-se. No final da época passada teve a cereja no topo do bolo com a Francisca Veselko a sagrar-se Campeã Nacional Open ainda com a idade júnior. O movimento aqui é um bocado diferente e talvez até melhor. No caso dos homens demorou 10 anos e agora vamos ver se em 2022 acontece o mesmo do lado masculino.
Francisco Rodrigues no Portugal Surf Awards 2021
P: Sendo a Liga Meo a mais importante competição nacional há, por isso, muitos surfistas a quererem participar. Há critérios que determinam os atletas que nela possam participar?
R: A realidade é que nós não nos podemos esquecer que isto é uma competição nacional, não é uma competição internacional. Tem as suas próprias regras que vão além daquilo que são as regras normais do surf e há acordos que nos ultrapassam. Há regras próprias, isto não tem nada a ver com o nosso regulamentos, tem a ver com o acompanhar o contexto em que estamos inseridos na União Europeia. Depois existe um acordo entre Portugal e Brasil que também por si só dá um conjunto de direitos aos brasileiros. Fora isto, nós podemos explorar tudo e mais alguma coisa e estamos ativamente a trabalhar sobre o tema em conjunto com a FPS mas, é preciso perceber que, as soluções que forem implementadas não podem ser soluções costumizadas ao problema de A, B ou C tem de ser uma coisa que seja justa, que faça sentido para todos e, que acima de tudo, faça sentido também para os surfistas portugueses que há muitos anos lutam pelas suas carreiras. Eles também têm de ser protegidos nesta decisão porque esta é uma competição com recursos e lugares limitados que luta pela bandeira portuguesa. Não esquecendo, no entanto, aquela que é a nossa vontade desde início: foi com esta equipa da ANS que a Liga passou de uma fase antiga onde só competiam surfistas com a cidadania portuguesa para um alargamento. Vamos ver se conseguimos encontrar soluções que façam sentido para todos e possa ser um pouco mais alargada.
"São coisas que têm de ser estudadas com calma e não é com sensacionalismo"
P: Quanto aos surfistas estrangeiros que residem em Portugal, sob que condições podem participar?
R: Os surfistas estrangeiros que residem em Portugal têm de perceber que as regras existem. A ANS acompanha a FPS a cumpri-las. Fora isto, se se criam situações extraordinárias mediante determinados requisitos mais uma vez têm que ser alinhados, são coisas que têm de ser estudadas com calma e não é com sensacionalismo. Hoje em dia toda a gente tem uma voz nas redes sociais e não é dessa forma que se vai encontrar soluções. E não esquecer que não são soluções costumizadas para A ou B que vão resolver o problema, porque do lado de lá há um interesse colectivo muito superior que são, em primeira instância, os surfistas portugueses de cidadania portuguesa e, em segunda instância, todos aqueles que fruto do contexto económico em que estamos inseridos têm de ter uma igualdade de direitos. Só depois é que vêm as situações extraordinarias. Por outro lado, os surfistas estrangeiros que estão em Portugal também têm de perceber que têm uma coisa que muitos outros países não têm que é uma agenda internacional de competições e no plano dos clubes em Portugal muito forte. Não podem acusar de não ter oportunidades para competir porque as têm e muitas das vezes não as exploram.
Podes assistir à entrevista na íntegra às 16h45 de Sábado, dia 26 de março, na RTP1 e consultar o último programa aqui.