Quem escolhe se o surf é ou não um desporto para raparigas e invisuais é Marta Paço
A propósito do Mês da Mulher, conversámos com a campeã mundial de surf adaptado, Marta Paço.
A propósito do Mês da Mulher, a Surftotal conversou com algumas mulheres que têm lugar de destaque no panorama do surf nacional. Hoje, na Véspera do Dia da Mulher, celebrado a 8 de Março, falámos com a promessa portuguesa de surf-adaptado, Marta Paço, para perceber como é encarada a mulher no meio do surf-adaptado e se ela tem percepção da inspiração que é.
A atual campeã mundial de surf-adaptado na categoria V1, Marta Paço, não vê quem domina o line-up mas sabe por experiência que ainda existem diferenças agudas entre homens e mulheres apesar dos esforços, tanto em número como em investimento de carreira, e o surf-adaptado não fica à margem. Duvidaram dela por ser mulher e cega mas a jovem atleta de 17 anos trocou os pontos de interrogação por pontos de exclamação com todos os sucessos que coleciona. Qual é a sensação de ser exemplo nacional e além fronteiras? Marta Paço conhece-a porque lho dizem diretamente. No final da entrevista, deixou uma mensagem de inspiração para quem dela precisar.
Foto: Surftotal
P: A desigualdade de géneros existe no mundo todo, mas sentes que no surf-adaptado e no contexto que conheces, essa diferença é marcante e tem impacto na forma como vives o surf?
R: Acho que, apesar de todos os esforços que têm sido feitos para esbater as desigualdades, ainda existe um claro desiquilíbrio entre homens e mulheres no surf, não só no número de praticantes (muito menor nas mulheres) mas também no investimento que se faz nas carreiras das atletas.
“Ouvi várias vezes que o surf não é um desporto para raparigas,
muito menos raparigas cegas”
P: Como é que foi o teu início? Tiveste alguma pressão de fora no sentido de te demoverem?
R: Especialmente quando comecei a surfar ouvi várias vezes que o surf não é um desporto para raparigas, muito menos raparigas cegas e isso acabou por me motivar a surfar cada vez mais e melhor.
P: Como foi a reação dos teus pais? O facto de seres rapariga e/ou invisual teve alguma influência na reação deles?
R: Os meus pais sempre me apoiaram imenso em relação ao surf mas até hoje sentem receio de me ver a surfar às cegas num mundo com tão poucas mulheres.
“Recebo muitas mensagens de mulheres e raparigas
que se sentem encorajadas por mim.”
P: Tens 17 anos mas já contas com uma carreira cheia de sucessos no mundo do surf, consideras-te uma inspiração?
R: De certa forma sim. Recebo muitas mensagens de mulheres e raparigas que se sentem encorajadas por mim, muitas delas mulheres com algum tipo de deficiência.
P: O que dirias a alguém que te veja como exemplo e que gostaria de começar a fazer surf ou algum desporto mas por alguma razão sinta que não é possível?
R: Diria para estabelecerem os seus objetivos de forma muito clara, para se rodearem de pessoas que as motivem e apoiem e para não se deixarem influenciar pelas críticas/comentários prejudiciais.
Foto: Surftotal