Francisca Veselko Francisca Veselko @caparicawaves domingo, 06 março 2022 15:06

Francisca Veselko não teme géneros para atingir os fins

A propósito do Mês da Mulher, conversámos com a campeã nacional de 2021, Francisca Veselko.

 

 

A propósito do Mês da Mulher, a Surftotal conversou com algumas mulheres que têm lugar de destaque no panorama do surf nacional. A nossa primeira entrevista foi com Francisca Veselko, a atual campeã nacional, sobre a posição feminina no mundo da competição.

A faceta competitiva de Francisca Veselko não teme géneros para atingir os fins. Uma sala cheia de homens pode ser intimidante para uma mulher quando tem de mostrar a sua voz, mas Kika Veselko não se condiciona nos treinos quando está rodeada pelo sexo oposto e tem de meter os pés na prancha, já que “só motiva a ser melhor que eles e puxar o nível”. Traços de personalidade à parte, uma das causas aparentes reside no facto de ter no seio familiar dois irmãos rapazes, o que, segundo contou na primeira pessoa, serviu de trampolim para se sentir confortável a competir e surfar entre homens.

O surf atravessa diferenças geracionais e na sua família não se registou a crença, para muitos já ultrapassada, de que deveria dedicar-se a um desporto ‘de menina’ (se é que isso existe). Francisca Veselko foi inclusive a primeira dos seus irmãos a encarar o surf com seriedade e não houve, por isso, pressões associadas na família nem diferença entre investimentos.

No final da temporada passada, sagrou-se campeã nacional e quando olhou para o lado viu ser mais recompensada a vitória masculina em contraste com o que acontece na Liga Mundial em termos de prémios monetários. Ainda assim, tem esperança de que o circuito nacional vá ao encontro das envoluções internacionais e apontou para o “futuro”. Quando é que este chega, quanto a isso já não há resposta concreta.

 

 

Foto: @caparicawaves

 

 

P: Treinas entre vários rapazes. Sentes que há tratamento igual entre ti e eles ou há uma diferença na forma como és treinada e nas condições em que fazes os treinos?

R: Desde muito pequena que treino entre rapazes e só me motiva a ser melhor que eles e puxar o nível . Para mim o tratamento sempre foi igual, no fundo somos uma equipa e estamos lá para nos ajudarmos uns aos outros e evoluir! Somos treinados com a mesma dedicação mas com “objetivos diferentes” pois cada um tem os seus pontos a melhorar.

 

P: Tens vindo a ter um grande boost de evolução. Já sentiste algum tipo de intimidação por parte de outro alguém que gerou algum comentário?

R: Sem dúvida que já ouvi bastantes comentários, é normal haver opiniões e críticas mas independentemente disso eu própria foco-me nos meus objetivos e quero sempre ser melhor que a Kika do dia anterior.

 

P: A Roxy é uma marca que apoia essencialmente o surf feminino. Tendo crescido no seio dela, como é que achas que isso moldou a tua postura no surf?

R: Tem sido um orgulho fazer parte da família Roxy e estar no mesmo team que a minha surfista favorita. Sem dúvida que temos puxado pela evolução umas das outras e isso motiva-me.

 

 

 

"Há cada vez mais mulheres a mostrar surf de qualidade."

 

 

 

P: É natural para ti quando és a única mulher dentro de água?

R: Para mim é super natural, acho que em Portugal há mais homens do que mulheres a surfar e estou habituada desde pequena. Mas cada vez há mais mulheres no line up e a mostrar surf de qualidade.

 

P: Tens dois irmãos rapazes, achas que de alguma forma isso fez com que soubesses competir com homens e estar no meio deles? Ou por outro lado já sentiste a necessidade de provar que consegues ser tão boa ou melhor?

R: Eu sei que sempre tive uma personalidade forte e competitiva. Mas tenho a certeza que ser a única menina entre os meus irmãos ajudou-me a competir com os homens e estar no meio deles. Em relação ao sentir necessidade de provar, nunca a tive porque sempre fui e sou uma pessoa que vai atrás e sabe bem o que quer.

 

P: Achas que o facto de teres crescido com dois irmãos influenciou de alguma forma a maneira como te posicionas no mundo do surf? Sentes que há algum tipo de pressão ligada a isso?

R: Não, de maneira alguma. Fui eu a primeira a levar o surf a sério entre os meus irmãos e quando comecei a surfar o Jaime tinha acabado de nascer.

 

P: E quanto ao investimento para serem surfistas, houve tratamento igual por parte dos adultos envolvidos?

R: Sim.

 

 

 

"Tem havido uma melhoria e uma consideração maior pelo surf feminino."

 

 

 

 

P: Consagraste-te campeã mundial e os prize money na Liga Meo continuam desiguais por contraste ao que acontece no circuito mundial. Quando subiste ao pódio ou mais tarde essa disparidade de prémios veio-te à cabeça?

R: Tem sido um pensamento que levo comigo há bastante tempo, apesar de aos poucos ter vindo a haver uma melhoria e uma consideração maior pelo surf feminino. Acredito que no futuro o circuito nacional há de acompanhar a evolução que houve no circuito mundial nesse sentido.

 

P: Quais são as mulheres que mais te inspiram no surf (em Portugal e lá fora)?

R: Stephanie Gilmore e Carissa Moore

 

 

foto: Bruno Colaço

 

Por Catarina Brazão

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