Tem 18 anos e está a começar bem o campeonato nacional de surf este ano. Na primeira etapa da Liga Moche, na Caparica, Tomás Fernandes ficou em 5º lugar. Na seguinte, na Ericeira, conseguiu um terceiro. Este é um ano que lhe está a correr bem, mas que é resultado de muito esforço. O pai, Artur Fernandes, também ele surfista, explicou à SurfTotal, um pouco do segredo destes resultados. Fica a conhecer melhor... pai e filho, claro!

O Tomás começou a surfar consigo. Como foi?

Foi em Ribeira d’Ilhas quando tinha 8 anos. Primeiro ele não queria muito, e eu não insisti. Uma vez que viemos de férias de um sítio onde não havia ondas e eu estava a “ressacar” de ondas, ele pediu-me para ir ao cinema. Fomos e à vinda, eu fui fazer surf e ele quis ir comigo. Foi no mesmo dia em que o Diogo Sarmento, pai da Ana Sarmento, ia começar a pôr a filha a surfar. E fomos os quatro. Foi o primeiro dia.

Agora, dez anos depois, tem-se notado uma grande evolução principalmente no último ano.

Sim, tem estado a evoluir muito, especialmente desde que foi para a Surf Technique, em que começou a fazer quatro treinos por semana, juntamente com a parte física. A nível técnico vê-se que evoluiu e vamos vendo os resultados aparecerem. A maturidade aumentou e sobretudo a competitividade dentro de água. O Tomás não gostava de marcar ninguém. Para ele o surf era só pelo surf, mas temos de ser competitivos dento de água.

O ano passado o Tomás venceu a etapa da Liga Moche na Ericeira. Este ano ficou em 3º. Era importante ter repetido o feito?

É a terra dele e gostaria de revalidar aqui, claro. Mas temos surfistas excelentes e ter ficado em 3º lugar aqui com surfistas como o Open tem é um bom resultado. Na Costa ficou em 5º este ano, enquanto no ano passado tinha ficado em 13º. Está a começar bem o ano, claramente.

E andar de etapa em etapa com o filho afecta a sua vida?

Não. Talvez mais por ele ter uma irmã, e eu para ir disperso-me mais. Mas enquanto ele quiser que eu esteja ao lado dele, e ache que é importante, eu estarei. Quando um dia preferir estar só com os amigos, dar-lhe-ei o espaço que precisa.

Isto de ter 18 anos e ser profissional não é fácil.

Eu acho que temos de dar mérito a todos estes miúdos que andam aqui. Porque eu conheço-os quase todos desde pequenos e sei que são pressionados pelos amigos para sair à noite e tal. Eles próprios querem ter mais tempo livre... O Tomás chegou do Mundial no Equador às 2h da manhã. Às 7h da manhã estava a vir treinar. No fim de semana não foi sair. Por outro lado tem coisas muito boas. Tem de se querer. Ele quer claramente, e é uma decisão dele.  

Quando está fora ele é ligado à família? Telefona muito? Dá notícias?

Sim. Hoje também com o Whatsapp e iMessage falamos todos os dias. Tento não chatear porque ele tem 18 anos e está com os amigos. Dou-lhe espaço. Por exemplo neste campeonato ele teve com febres altas e aí ficamos mais preocupados. Houve um alerta de tsunami lá no Equador. Eu estava no México e fiquei logo preocupado. Mas ele tranquilizou-me.

No ano passado, o Tomás recebeu um wildcard, para o Prime de Carcavelos. Como foi?

Foi uma grande oportunidade. Passou o round e ganhou ao CJ. Ele e o Kikas foram os 2 que passaram. Ganharam pontos importantes para o seeding e correr o WQS. E, claro, é sempre bom ele ter estas experiências com outro nível de surf.

Já reparei que antes de entrar na água o Tomás se benze.

É. Faz sempre isso. É uma superstição dele. Julgo que acredita em algo que é dele mesmo. Eu tenho esse vício também. Sempre que entro dentro de água peço proteção para mim e para os outros. Não sei se foi daí. Ou dele próprio. Ao princípio ele punha-se de lado para ninguém ver. Hoje em dia assume e benze-se. Acho que é algo que lhe dá tranquilidade.  

Patrícia Tadeia