"Tentamos investir na juventude" - entrevista com Derek O'Neill, CEO da Vissla
A Surftotal conversou com Derek O'Neill no âmbito do MEO Vissla Pro Ericeira.
Derek O'Neill é o CEO da Vissla, uma marca de surf assente na "liberdade criativa, numa filosofia de progresso, e numa geração de pessoas criativas e inovadoras". A Vissla é também a patrocinadora titular do MEO Vissla Pro Ericeira, a etapa do Challenger Series que está a decorrer até dia 10 de Outubro na Ericeira. Foi no contexto deste evento que a Surftotal conversou um pouco com Derek O'Neill sobre o actual panorama da indústria do surf, as perspectivas para o futuro, e as mudanças no mercado dos surf nos últimos anos.
*Derek durante a entrevista fez-nos perceber que o target da marca são os praticantes de surf, os surfistas, e isso é um factor diferenciador que faz com a VISSLA ganhe cada vez mais terreno da Industria do Surf Mundial
Como descreves mercado do surf actualmente?
O mercado do surf é muito interessante. Há muitas de marcas, pequenas e grandes, e algumas vão demasiado longe na sua forma de vender. Na Vissla gostamos de manter as coisas simples. No fim do dia, não queremos logotipos gigantes, não queremos se tudo para toda a gente. Criamos produtos muito técnicos, fatos muito técnicos, calções muito técnicos. Os calções são eficazes. Esperamos que sejam bonitos também, mas principalmente são eficazes. Estamos sempre a pensar “o que é que um verdadeiro surfista usaria?”. Não queremos ser os maiores, não queremos lidar com distribuição em massa, mas no fim do dia só queremos saber o que é importante para um surfista, e é isso que nos move todos os dias.
"Há pessoas no mundo todo que adorariam ir surfar amanhã,
e cada vez mais estão a ir."
Derek concedeu a entrevista à Surftotal nos headquaters da Semente e VIssla Portugal na Ericeira
Como encaras a evolução do mercado do surf nos próximos anos?
Por causa da pandemia, desportos de equipa eram impossíveis. Era impossível ir assistir a grandes eventos desportivos. Mas podias ir surfar, e foi o que muitos fizeram. A procura por pranchas e fatos foi incrível. Todas essas pessoas continuarão a surfar daqui a 3, 4, 5 anos. A liberdade, a saúde, todas essas coisas são importantes, e o surf é um caminho para atingi-las. A verdade é que o surf é barato. Não tens que comprar um passe diário, não tens que viajar longas distâncias se viveres perto do mar, e podes ter uma prancha barata em segunda mão para experimentar. É uma coisa acessível para muita gente. E as pessoas sonham em surfar. Há pessoas no mundo todo que adorariam ir surfar amanhã, e cada vez mais estão a ir. O crescimento das escolas de surf ajuda a satisfazer essa procura. Achamos que o mercado permanecerá forte nos próximos anos. Claro que é difícil de prever, pois os últimos dois anos baralharam muito as coisas. Mas no fim das contas, achamos que o surf está num bom lugar, com reestruturações interessantes na WSL, e acho que muitas dessas pessoas vão continuar a surfar, mesmo que sejam duas semanas por ano, vão voltar uma e outra vez.
É um desporto viciante.
Eu comecei a surfar há mais de quarenta anos. As primeiras vezes que surfei foi uma sensação incrível, e só quero voltar a esses dias. Voltas sempre à procura dessa sensação. Ainda é o que me move, não consigo pensar em mais nada que eu queira fazer. O surf dita as viagens que faço, onde moro, o que faço todos os dias, é mesmo, trabalho – surf – trabalho – surf. Com o equilíbrio certo, tens a melhor vida que poderias imaginar.
"Tentamos investir na juventude,
para que possam ser os futuros líderes da indústria..."
Podes falar um pouco sobre a tua visão relativamente ao crescimento da Vissla na indústria do surf?
Há muitas empresas grandes a usar o surf em campanhas publicitárias. O surf é muito inspirador para muita gente, e muita gente ambiciona surfar, é um desporto cada vez mais popular. É uma indústria divertida. É trabalho, mas para pessoas apaixonadas pelo surf é fantástico poder trabalhar na indústria. Eu podia estar a vender peças de carros, e isso seria aborrecido. Na indústria do surf, a criar produtos técnicos, estou a ajudar as pessoas na sua vontade de surfar, estou a melhorar a sua experiência. E a procura constante por formas de melhorar as coisas diariamente é muito estimulante. É uma indústria que atrai muita juventude. Nós tentamos ser apelativos para surfistas no mundo todo, mas ao mesmo tempo tentamos investir na juventude, para que possam ser os futuros líderes da indústria. A Vissla e muitas marcas estão bem encaminhadas para o futuro. Passámos por crises, altos e baixos, e é muito mais divertido quando estamos no topo, como parece que estamos agora.
"Se não for apelativo nos primeiros 10 segundos,
ninguém vai ficar para ver o vídeo todo"
Qual é a estratégia da Vissla relativamente a conteúdo de media, como filmes ou outros tipos de produção?
As coisas mudaram muito nos últimos dez anos. Antes, nesta indústria, provavelmente faríamos um filme enorme de dois em dois anos, e depois faríamos alguns filmes menores ao longo do ano. Hoje em dia, interessa fazer um clip de 7 ou 30 segundos, ou 2 minutos e meio. Os produtos são consumidos de forma muito diferente agora. As coisas têm que ser rápidas e apelativas. Se não for apelativo nos primeiros 10 segundos, ninguém vai ficar para ver o vídeo todo. Tens que trabalhar com produtos que vão cativar a audiência rapidamente, ou é uma perda de tempo. Na Vissla produzimos centenas de clips curtos, sobre produtos, sobre as roupas, sobre os fatos, sobre a equipa, sobre uma viagem. Seja para as redes sociais, para um website, ou para distribuição para meios de comunicação do surf, tem que ser rápido e relevante para a actualidade.
"A comunicação é diferente do que era há dez anos."
A Vissla tem a sua própria equipa para produção de media, ou são contratadas pessoas específicas para se juntar às surftrips e às sessões de surf?
As marcas de surf hoje em dia têm que ter o seu próprio departamento de edição, com a sua própria equipa, porque temos modelos que são iguais para todos os eventos e têm que ser exatos. Se há uma coisa que tem que ser publicada no dia seguinte de manhã, tens que ter alguém que o faça no momento. Temos pessoas na equipa, e usamos pessoas de fora, usamos cameramen de fora. Mas o departamento de media é essencial. A ideia ainda é alcançar a pessoa que está potencialmente interessada na tua marca, é importante falar com essa pessoa regularmente, mas tens que ter em conta que essa comunicação é diferente do que era há dez anos. Tens que estar activo em todo o lado. Não podes fortalecer muito uma área e abandonar outra.