Descobre com a Around Freedom o diamante em bruto que é a ilha da Madeira
À conversa com o fundador deste projeto de pura aventura e aprendizagem
A ilha da Madeira é conhecida por ser um refúgio perfeito para todos os amantes do surf, sendo uma das zonas de ondas mais consistentes de Portugal, daí ser muitas vezes apelidada do "Hawaii Europeu".
Com cerca de 300 mil habitantes e cuja capital é o Funchal, a ilha oferece ondas de todos os tipos, para todos os gostos e níveis de surf: fundo de areia, fundo rocha, esquerdas e direitas.
São vários os spots icónicos do surf - português e internacional - que podemos encontrar nesta pérola do Atlântico que recebe milhares de surfistas, anualmente.
Roberto Filipe é o fundador do projeto Around Freedom Surf School, não é apenas uma escola de Surf comum. Aqui, é possível fazer outras atividades que para descobrir os oásis da ilha e realizar o sonho de aprender realmente a surfar. A surftotal esteve à conversa com o Roberto para saber mais sobre as suas aventuras e aquelas que ele e a sua equipa conseguem proporcionar.
"Proporcionamos momentos de muita aventura!"
Surftotal: O Roberto é o fundador do projeto Around Freedom. Fale-nos um bocadinho desta iniciativa, como e porque surgiu, quais os objetivos/missão...
Roberto: Este projeto nasceu de uma ideia que trago para a Madeira há 22 anos. Tinha acabado de tirar o curso de treinador de surf e vinha com a ideia de ensinar surf e dinamizar este desporto aqui na ilha, o que na altura não aconteceu. Quando cheguei à Madeira, comecei a trabalhar numa empresa de animação turística. Trabalhei durante quatro anos na praia, mas onde estava não dava para surfar, então o surf ficou "adormecido" e continuei a praticar apenas como hobby. Quando saí desta companhia fui trabalhar para um escritório durante oito anos, mas nunca parei de surfar e estive sempre ligado ao surf regional- fui juiz e chefe de juízes de competição aqui na Região e ainda conseguimos fazer o primeiro curso de juízes na Madeira, em 2008/2009- e, quando a empresa onde estava a trabalhar fechou a sucursal na Madeira (convidaram-me para seguir com eles para a Suiça, mas lá não há surf e não me estava a ver a ir), fiquei cá e agarrei na ideia que tinha ficado adormecida. Já começava a ver o boom de escolas de surf no continente e na Madeira já existiam alumas escolas. Eu trabalhava em part time como trienador responsável da Calhau Surf School e saí de lá e montei este projeto com o objetivo de dinamizar o surf não apenas ao turismo, mas também à população local, dando a oportunidade de aprender o surf mais depressa, de forma mais estruturada e mais segura- aquilo que a nossa geração de surf não teve: quase toda a gente aprendeu uns com os outros dentro de água (alguns levaram meses até conseguir começar a fazer surf). O objetivo e a missão da Around Freedom é, no fundo, sintetizar esta aprendizagem e proporcionar mais alegria e aprendizagem com segurança.
O surf na Madeira ainda estava numa fase embrionária e como eu tinha o background da Terras de Aventura- empresa onde trabalhei quando cá cheguei- surgiu a ideia das caminhadas e dos passeios de todo-o-terreno. No fundo, o objetivo da Around Freedom é proporcionar a quem visita a Madeira e à população local várias atividades e aprendizagem (no caso do surf e do SUP) de forma segura e saudável.
"proporcionar a quem visita a Madeira e à população local
várias atividades e aprendizagem (no caso do surf e do SUP) de forma segura e saudável"
Surftotal: Mas a Around Freedom não proporciona apenas experiências de surf. Com que mais atividades podemos contar?
Roberto: Neste momento, estamos mais focados nas aulas, nos cursos de Surf e também nos passeios de Stand Up Paddle (SUP). Na Madeira, temos condições excecionais para a prática de SUP, principalmente no Funchal- o mar costuma estar calmo e tem umas paisagens deslumbrantes. Fazemos também caminhadas- neste momento apenas trabalho com grupos privados, para que possamos ter oportunidade de mostrar outro tipo de caminhadas que existem na Madeira, além dos percursos recomendados pelo governo. Fazemos também os tours de todo-o-terreno, pois a Madeira tem trilhos espectaculares perdidos no meio de pequenas aldeias e no campo e estradas antigas que já não estão operacionais a um veículo comum. Isto proporciona momentos de muita aventura!
"um mar calmo e paisagens deslumbrantes
fazem de alguns picos ideias para o SUP"
Surftotal: De onde surgiu a vontade de ensinar e de tirar o curso para ser instrutor?
Roberto: A vontade de ensinar nasceu em 1997/1998, quando se começaram a dar os primeiros cursos de treinador a nível nacional. Salvo erro, tirei o curso em 1998, que foi o terceiro curso de nível I lecionado em Portugal. A vontade de ensinar nasce um bocadinho por querer proporcionar uma aprendizagem mais fácil, controlada e com resultados quase imediatos, não passando pelo processo duro que passa quem aprende sozinho durante semanas ou meses sem dicas, a aprender as coisas por erro/tentativa. Depois de tirar o curso percebi que conseguimos fazer as coisas de forma mais eficaz. Quando comecei a surfar, com o material que tinha e sem dicas, demorei umas boas semanas ou até meses para conseguir levantar-me na prancha e surfar uma espuma. Hoje em dia, quando vejo que os alunos ao fim de uma terceira aula já têm autonomia e já conseguem fazer o que eu levei tanto tempo a aprender, é mais que suficiente para me motivar e sentir que o objetivo foi alcançado.
Mas a minha experiência começou pouco antes de tirar o curso. A ASM (Associação de Surf do Marcelino), em 1994, deu origem à ASCC (Associação de Surf Costa de Caparica) do qual sou sócio fundador, fui juiz nos campeonatos da ASCC até 1999. Recentemente, tirei o nível II.
"Quero proporcionar uma aprendizagem mais fácil,
controlada e com resultados quase imediatos.
Fazer as pessoas surfarem imadiatamente"
Surftotal: O que o levou a abandonar Lisboa e mudar-se para a Madeira?
Roberto: Os meus pais são madeirenses e venho cá desde sempre, passei aqui os meus verões, até quando comecei a fazer surf- que foi quando deixei de vir para aqui porque se dizia, nesta altura, que as praias nesta não davam para o surf. Em 1989, passei aqui quatro ou cinco meses e trouxe a minha prancha e comecei a surfar aqueles picos que sabia que davam- tinha um amigo que fazia bodyboard que dizia que dava para surfar no Paul do Mar, Machico e no Porto da Cruz. Como não tínhamos carro, utilizava os transportes- punha a prancha no autocarro, fazia quase uma hora de caminho e rezava para que houvessem ondas. Depois, conheci uns rapazes que me avisavam quando havia ondas ali e lá me metia eu no autocarro para fazer um surf que não tem nada a ver com o que é hoje.
Como tinha que ingressar na tropa, voltei para o continente, mas já tinha ideias de ficar a viver na Madeira. Em 1999, vim à Madeira visitar a minha avó e surfei Ponta Pequena- sol, meio metro, sem ninguém foi um espetáculo. Nesse ano tinha acabado de mudar de trabalho e despedi-me e vim para a madeira. Vim por causa do surf, claro!
"10 anos antes de me mudar, já tinha intenções de viver na Madeira.
Por causa do surf, CLARO"
Surftotal: Como vê o crescimento do surf em Portugal e como faz a relação com o crescimento da procura da Madeira como destino turístico e de surf?
Roberto: O crescimento do surf em Portugal tem sido uma coisa descomunal. Lembro-me que há cerca de 15 anos, quando ia de férias ao continente, já se viam algumas escolas, mas mais ou menos em 2008 é que o crescimento foi uma coisa de outro mundo. Fui passar férias à Arrifana e já não havia ninguém dentro de água que não tivesse algo que deslizasse nas ondas. O crescimento tem sido um bocado desregulado, com tantas escolas e com toda a publicidade sobre o surf. Tem sido algo por demais e daqui a uns dias já não haverá capacidade para tanta gente.
Aqui na Madeira, a procura como destino turístico de surf tem crescido especialmente nos últimos cinco, seis anos. No último ano teve um crescimento exponencial talvez por os destinos turísticos mundiais estarem fechados e com o fecho das escolas e dos surfcamps muito público procurou a ilha- porque aqui estavam abertos.
"Fui passar férias à Arrifana
e já não havia ninguém dentro de água
que não tivesse algo que deslizasse nas ondas"
Surftotal: Filho de pais madeirenses e há 22 anos a viver na Ilha, conhece bem a Madeira. Qual o pico que mais gosta de surfar?
Roberto: O pico que mais gosto de surfar é Ponta Pequena, sem dúvida, por ser um surfista regular e ser direita. Mas também gosto muito de picos como o Jardim do Mar e Ribeira da Janela.
Surftotal: Como é a Ilha da Madeira para os diferentes níveis de surf? Que picos aconselha para cada um (iniciado, intermédio e avançado)?
Roberto: Para aprendizagem temos poucos picos- para iniciação temos Machico, Seixal, Porto da Cruz e, eventualmente, depois de algum conhecimento técnico, Fajã da Areia- porque já é uma praia, muitas vezes, para nível intermédio/avançado.
Para avançado, é tudo o resto, como Ponta Pequena, Jardim do Mar, Ribeira da Janela, Contreiras, Paul, Ponta do Pargo (que já um nível avançadíssimo). A Madeira tem esta vantagem- embora tenhamos muito poucas praias para um nível iniciado e avançado, são muitas as praias para um nível avançado, o que acaba por ser uma salvaguarda para o crescimento exponencial do surf.
Quem vem para a Madeira para aprender a fazer surf acaba por ter uma vantagem relativamente a muitos outros locais do mundo- dadas as condições e limitações que temos, temos um serviço premium e de qualidade: aqui ensinamos a fazer surf, não "pomos simplesmente a surfar". Com as nossas condições, somos obrigados a dar ferramentas e condições para que as pessoas consigam surfar. Esta é uma das máximas para as escolas de surf da Madeira- as pessoas saem daqui com ferramentas para, quase de certeza, conseguirem surfar em qualquer pico mundial, porque aprenderam num dos mais difíceis.
"Quem vem para a Madeira para aprender a fazer surf
acaba por ter uma vantagem relativamente a muitos outros locais do mundo"
Surftotal: O que deve esperar quem visita a Madeira pela primeira vez com o objetivo de surfar?
Roberto: Quem visita a primeira vez com o objetivo de surfar tem que vir com o espirtio muito aberto e conscientes de que estão dispostas a ultrapassar os seus limites. Aqui, o nível de picos para iniciação é muito reduzido e, muitas vezes, as pessoas ficam frustradas porque não encontram aqueles picos mais acessíveis em que se podem surfar com quaisquer condições.
"A Madeira é um diamante em bruto que temos de saber lapidá-lo!"