F. P. S. FALA SOBRE A ENTRADA DOS CLUBES DE FUTEBOL NO SURF
João Aranha Presidente da Federação Portuguesa de Surf(FPS) fala em exclusivo à Surftotal sobre a polémica que envolve a entrada de clubes de futebol no surf.
A recente entrada do Sporting Clube de Portugal e do Estoril Praia no seio do Surf têm gerado uma certa controvérsia no seio da comunidade.
O Surf tem-se vindo a afirmar de uma forma sólida na sociedade Portuguesa como uma atividade/modo de vida e desporto. De cerca 1,000 praticantes nos anos noventa a quase 700,000 na atualidade (segundo o ultimo estudo efetuado em Portugal), o surf massificou e tornou-se como um nicho de maior interesse para alguns dos grandes players económicos.
A entrada dos Clubes de Futebol no Surf em Portugal já não é novidade. Após a tentativa ténue do S.L.Benfica há cerca de uma década atrás eis que agora, quando o Surf se encontra a caminho das olimpíadas em 2020 (Toquio), entram com uma outra atitude o Sporting e o Estoril Praia. Ambos os Clubes estão inscritos na Federação Portuguesa de Surf e já contam com duas contratações de peso no Surf nacional, Teresa Bonvalot representa neste momento o Sporting Clube de Portugal e Miguel Blanco o Estoril Praia.
Há aqui diversas questões que se colocam, nomeadamente qual o verdadeiro interesse destes players no Surf? Será que vêm apenas para procurar protagonismo numa modalidade que agora tem números interessantes? Será que o ensino do Surf enquanto negócio é uma mais valia para estes novos players? será que vêm organizar eventos megalómanos de surf? ou será que a sua aparição vai ser tão rápida quanto o seu desaparecimento assim que perceberem que o estilo de vida surf é de dificil "match" com o Futebol?
Certo é, nesta nova realidade, que estes clubes se encontram a contratar quadros experientes do surf nacional que os irão ajudar construir a sua entrada o mais forte e direcionada possível no Mundo do Surf.
A Surftotal falou com diversas personalidades, incluindo as que lideram alguns dos principais Clubes de Surf em Portugal, assim como com a Federação Portuguesa de Surf que hoje através de João Aranha, Presidente da direção nos esclarece sobre esta temática:
- João Aaranha Em Marrocos, em dezembro de 2016, com os jovens talentos lusos a vencerem o EuroJúnior.
João conta-nos como é que tem sido estes últimos ultimos anos à frente da FPS? Quais as maiores motivações para encabeçares este projeto?J
Nesta altura, já conto com 6 anos a caminho de 7 anos, visto estarmos no segundo mandato.
A principal razão para encabeçar este projeto foi estar ligado ao meio e ao seu desenvolvimento desde os anos 80. Estive também ligado à Associação Nacional de Surfistas (ANS). O outro motivo, foi a ambição de ver estes desportos a crescerem ainda mais.
Desde do princípio, achávamos que os desportos que a FPS tutela e o seu desenvolvimento podiam ser levados mais longe até aproveitando o enorme crescimento e interesse dos mesmos.
Nesta altura o que nos levou a ser candidatos à FPS mantém-se, desenvolver os desportos sob a nossa tutela, trabalhar as bases destes desportos de forma a que o futuro seja assegurado, promover as competições nacionais e, inclusive, levar as equipas nacionais a resultados de nível mundial, entre tantos outros que integram as nossas estratégias e preocupações.
Qual ou quais os maiores desafios porque passa uma FPS?
O principal desafio é sempre o financiamento do projeto. Este é o fator crítico para o desenvolvimento do desporto e que, no nosso caso, parece não chegar aos ouvidos da tutela como gostaríamos e nos leva a ter uma gestão muito complicada e com escolhas que não deveríamos ter de fazer. Um exemplo, no ano passado não tinha orçamento para poder competir no Mundial Júnior e se não fosse a entrada de um patrocinador, teria sido impossível.
A gestão dos calendários nacionais é outro desafio, no ano passado tivemos 150 dias de competição entre todas as modalidades, disciplinas e escalões.
Nesta altura surge também o projeto Olímpico que, a meu ver, não é só uma enorme oportunidade, como também, é um desafio gigante, uma vez que a ligação entre a ISA e a WSL continua muito atribulada e com demasiadas colisões de datas de prova que vão, seguramente, comprometer a qualidade das Seleções, dificultar a preparação das mesmas e levar a constrangimentos com os próprios atletas, mas acredito que as organizações mundiais vão chegar a um entendimento que não prejudique a modalidade.
Realço ainda que existem bastantes mais desafios a considerar, mas deixo apenas os que mencionei.
- Na Noruega, durante o EuroSurf 2017, do qual a seleção nacional saiu campeã.
Sobre a entrada dos clubes de futebol no surf, agora que o Sporting e Estoril entraram, qual a tua opinião enquanto Presidente da FPS?
Não tenho opinião formada ainda. São clubes com direito a estarem presentes na FPS e que podem trazer alguns benefícios para o desporto dada a sua larga experiência. Ao contrário de quase todos os clubes inscritos na FPS, não têm a menor ligação a nenhum desporto que tutelamos, mas isso pode nem ser, necessariamente, ser uma desvantagem.
Os clubes de futebol podem-se federar na FPS facilmente? ou têm de ter um estatuto próprio?
Desde que os estatutos deles sejam conforme os da FPS, podem-se federar.
Qual achas que poderão ser os benefícios para o surf com a sua entrada?
Dada a antiguidade desportiva e trabalho no desenvolvimento do desporto podem por um lado, contribuir para o progresso dos desportos da FPS, por outro lado, dado o seu potencial económico, podem dar condições aos atletas para prosseguir objetivos mais ambiciosos nas suas carreiras. Claro que tudo pode ter duas vertentes, podem também, dado esse potencial, subverter a forma como as modalidades se têm vindo a desenvolver.
Em que países do mundo os clubes de futebol entraram no surf para além de Portugal?
Não tenho conhecimento.
Consideras como potencial concorrência para os clubes de surf tradicionais que têm vindo a fazer um trabalho de bases no surf nacional?
Sim, seguramente e já se observa isso, uma vez que ao ingressarem no mercado do surf, entraram com atletas de topo que, anteriormente, estavam noutros clubes da FPS. Mas, se os clubes que integram a FPS continuarem o trabalho excecional que têm feito até agora e a trabalhar com a FPS para que os atletas e os desportos se desenvolvam, os novos clubes serão apenas mais um ou vários dentro dos quase 100 que a FPS integra.
Até porque não estou a ver esses clubes a estarem interessados no trabalho de terreno, como por exemplo, a realização de provas.
*João Aranha a desbravar uma longa e perfeita esquerda algures num país tropical