No início do ano, em Lisboa, durante a apresentação da Liga MEO Surf 2018. No início do ano, em Lisboa, durante a apresentação da Liga MEO Surf 2018. Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas quarta-feira, 28 novembro 2018 15:05

Francisco Rodrigues: “A renovação é um factor necessário para agitar o status quo desportivo”

Fizemos o balanço do ano com o presidente da ANS - Associação Nacional de Surfistas... 

 

Francisco Simões Rodrigues, presidente da direção da Associação Nacional de Surfistas, lidera uma estrutura de continuidade à frente dos destinos da entidade que representa os melhores surfistas nacionais. À Surftotal, fez o balanço de mais um ano cumprido e respondeu a algumas questões fundamentais.

 

No final do ano passado assumiste a presidência da Direção da Associação Nacional de Surfistas até 2020. Que estratégia está delineada e que medidas vão ser tomadas para continuar a assegurar o crescimento da ANS?

Francisco Rodrigues: Nós temos um pilar fundamental que assenta na concretização da melhoria progressiva da principal plataforma de competição doméstica do Surf em Portugal. Isto passa por trabalhar os aspectos que precisam de melhorias. E ainda bem que são bastantes. Só quer dizer que temos margem para continuar a caminhar positivamente na construção daquela que tem sido indicada por muitos como um caso de referência a nível mundial. Já conseguimos atingir alguns objectivos como o alargamento dos prémios às diversas tipologias de surfistas que competem na Liga MEO Surf. Também já foi possível aprofundar as dimensões relacionadas directa ou indirectamente com o Surf que são tratadas na Liga para além da competição propriamente dita como, por exemplo, a primeira limpeza de praias concertada a nível nacional que fizemos com a Fundação PT ou os Workshops de Fotografia da Canon que o Ricardo Bravo tem desenvolvido nas etapas da Liga. Adicionalmente, a Associação Nacional de Surfistas tem contribuído para uma maior e mais consistente divulgação do Surf em Portugal, seja nas suas competições, seja no que concerne aos resultados dos surfistas portugueses a nível internacional, sempre utilizando os seus meios institucionais mas também, como vem acontecendo cada vez com mais frequência, no apoio em off a jornalistas de meios não core que querem fazer uma matéria com o Surf como pano de fundo. Por fim, temos também sido um agente vigilante junto de centros de decisão relevantes para o Surf. É um caminho que diariamente se vai tornando mais complexo, mas acreditamos que apresenta um crescimento sustentável sempre numa lógica de fazer acontecer e não ficar apenas numa atitude de exigir. 

 

“(…) ainda temos margem para continuar a caminhar

positivamente na construção [da ANS]”

 

- Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas

 

Relativamente ao presente ano, como dirias que correu a Liga MEO Surf?

FR: Esta pergunta é aquela que estamos agora a fazer a todos os nossos parceiros. Temos recebido um feedback bastante positivo e alinhado com os objectivos a que todos nos propusemos no inicio do ano. É bastante gratificante manter todas estas relações de longo prazo num modelo de equipa que vai muito para além da relação comercial. Em termos pragmáticos e objectivos, os resultados finais mantêm a sua tendência crescente. Esperamos lá para Fevereiro estar a apresentar a Liga MEO Surf 2019 com novidades e inovações face à que a agora terminou. Globalmente, os parabéns vão para os surfistas, encabeçados pelos nossos campeões nacionais, Miguel Blanco e Camilla Kemp. 

 

O Ambiente, a luta contra o lixo nas praias, nomeadamente o plástico, foi uma das bandeiras da Liga em 2018. É uma iniciativa a manter ou existem outras na manga?

FR: É para manter e estamos a trabalhar em outras mais. Como já referi, as dimensões directa e indirectas do Surf interessam-nos e queremos trabalhá-las. Adianto que estamos com conversas interessantes não só no domínio da sustentabilidade e responsabilidade social, como também ao nível de empreendedorismo e outras áreas que fazem parte do mar, praia e do surf. Com certeza, nem todas serão implementadas no próximo ano, mas a pegada que a Liga MEO Surf 2019 deixará nas Municípios por onde passar vai ser ainda mais sólida e positiva. 

 

“Acredito que a renovação é por si só um factor necessário

para agitar o status quo desportivo”

 

- Na Praia Grande, na celebração dos 20 anos da ANS. Foto: Luís Niza/ANSurfistas

 

Temos dois novos campeões nacionais, a Camilla Kemp e o Miguel Blanco. Sendo tu também um antigo competidor, como acompanhaste o emocionante desfecho verificado este ano?

FR: Eu tenho imenso respeito pelo trabalho que Frederico Morais, Vasco Ribeiro, Pedro Henrique, Carol Henrique e Teresa Bonvalot desenvolveram para se sagrarem campeões nacionais nos últimos anos. Mas acredito que a renovação é por si só um factor necessário para agitar o status quo desportivo e proporcionar mais qualidade a um grupo que também se alarga em quantidade. Nunca tenho preferidos a título pessoal, mas acho que os títulos do Miguel e Camilla foram importantes para todos. Em ambos os casos, era naturais merecedores pelo caminho que têm desenvolvido nos últimos anos. Permitam-me acrescentar um nome que se despediu das competições sem ter vencido uma etapa da Liga, mas que também o merecia. Refiro-me a Zé Ferreira. Tenho ainda uma ambição de ver a geração do Afonso Antunes, Guilherme Ribeiro e demais jovens surfistas a atrapalhar a vida dos mais experientes e vê-los a chegar a um pódio ou vencer mesmo uma etapa. Espero que seja já em 2019. 

 

Nos últimos anos a ANS também tem vindo a investir nas camadas mais jovens, através de uma competição específica - o Moche Groms Cup. Que expetativas há para os miúdos que competem nos vossos eventos?

FR: Entenda-se que o Moche Groms Cup é uma iniciativa da Federação Portuguesa de Surf em parceria com a Associação Nacional de Surfistas e apadrinhada pelo Moche. Ou seja, congrega as vontades da FPS e a sua missão nobre de trabalhar a formação do Surf em Portugal. E a visão é simples. Se a Liga é um confronto entre gerações de surfistas que, lutam entre si para serem melhores, porque não, convidar os mais novos a juntarem-se para assim tomarem contacto com a realidade mais agressiva das camadas seniores e acelerarem o desenvolvimento das suas carreiras. Adicionalmente, em jeito de momento lateral, permitir que esses mais novos possam competir entre si num set-up de configuração desportiva profissional, dando-se assim mais “air time" competitivo. A meu ver, a expectativa não é vencer, sendo antes a de ganhar experiência e aprender on job para serem melhores tão cedo quanto possível. Espero que estas três partes (FPS, Moche e ANS) possam continuar de mãos dadas por mais anos nesta iniciativa bastante positiva. 

 

“(…) já vencemos no plano da economia variável com a realização em Portugal

de todos os maiores eventos globais de Surf com excelência”

 

- Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas

 

O crescimento do surf na sociedade portuguesa, nos últimos anos, é inquestionável. Enquanto presidente da ANS, com que olhos vês a presença do surf, cada vez mais importante, na economia portuguesa?

FR: Que capital de um país tem os pés banhados 365 dias por ano com as condições da costa portuguesa? Nos centros de decisão da economia portuguesa há muitas vezes aquela aragem de mar. E isto tem permitido dar seguimento aos demais projectos de surf, sejam eles na indústria, nos eventos ou nos serviços. Como em tudo, existem as dores de crescimento onde a regulação deve ter o seu papel activo ou os desafios da transformação diária dos modelos e estruturas económicas. No entanto, é inegável que este movimento económico se tem vindo a solidificar e a intensificar. Tudo aponta que, em 2019, vamos dar mais um passo importante. Se já vencemos no plano da economia variável com a realização em Portugal de todos os maiores eventos globais de Surf com excelência, no próximo ano, vamos dar os primeiros passos no domínio da economia fixa com a chegada da sede da World Surf League Europa, África e Médio Oriente. São tudo fases necessárias na maratona de fundo de construção de uma nação Surf no panorama mundial. 

 

Vamos traduzir isso por números. Quanto vale o Surf atualmente?

FR: Os valores publicados há uns anos pela Associação Nacional de Surfistas apontam para um valor económico de 400 milhões de Euros, mas tenho acrescentado que esta estimativa poderá até ser conservadora. No entanto, a visão geral é de ordem de grandeza e se são 400, 500 ou 600 é irrelevante. O que interessa mesmo é que existe um peso económico significativo e isso traz responsabilidade por um lado, mas mais, também apresenta uma série de desafios a todos os que participam nesta festa. Vamos continuar a trabalhar por este desporto e estilo de vida que adoramos sem deixar de nos divertirmos e dar umas boas gargalhadas dentro de água. 

 

Foto: Luís Niza/ANSurfistas

 

 

--

Entrevista_ AF

Itens relacionados

Perfil em destaque

Scroll To Top