Miguel Fortes: “Conciliar o surf com o trabalho foi o melhor apoio que me deram”
Um exclusivo que não vais querer perder…
A Baía dos Dois Irmãos (vulgo Coxos) e Miguel Fortes são como peixe e água. Querendo saber um pouco mais sobre a relação que os une, a Surftotal pôs-se à conversa com este emblemático surfista da Ericeira. De estilo livre e clássico, mas também moderno e experiente, pode-se dizer que as respostas de MF estiveram fiéis à sua imagem.
Todas as fotografias de Manu Miguellez
Surftotal: Poucos surfistas estabelecem uma relação tão estreita com uma praia. Como começou a tua relação com a Baía dos Coxos?
Miguel Fortes: A minha relação com os Coxos começou naturalmente, uma vez que passei a minha infância na Ericeira, zona onde comecei a surfar com os amigos. Dois anos mais tarde, o [Miguel] Dray comprou uma moto e começámos a aventurar-nos pelos points a norte da Ericeira. Depois de a surfarmos pela primeira vez, percebemos que é a melhor onda - perfeição, velocidade e tubos. Ainda hoje, quanto mais viajo, mais fico com a ideia que é mesmo a melhor onda que já surfei.
"Depois de surfarmos pela primeira vez [os Coxos],
percebemos que é a melhor onda"
Sempre mantiveste ao longo dos anos uma linha de surf clássica. A competição nunca chegou a ser uma prioridade ou um objetivo para ti?
MF: Talvez isso suceda por ter começado a surfar nos anos 80 onde imperava o estilo clássico, quer a nível nacional como internacional, e também devido ao facto de surfar sempre nos points da Ericeira, que são ondas que oferecem sempre grandes paredes. Para além disso, os campeonatos eram normalmente realizados em ondas fracas e o meu surf não aparecia nessas condições.
Os dois míticos campeonatos de ondas grandes nos Coxos foram a tua primeira experiência em competição? Que memórias guardas desses eventos?
MF: Esses campeonatos foram feitos, precisamente, para fugir à rotina dos eventos normais e poder proporcionar boas condições, um encontro especial com período de espera organizado pelo Alex Oliveira. Nessa altura havia uma geração de surfistas atirados naquela baía que tornou o evento único com ondas de 3 a 4 metros. O favorito era Miguel Ruivo, mas acabou por perder com o Faneca na final. Eu fiquei em 3.º lugar ex aequo com o Zézinho Lafuente.
Manter a forma a partir de uma certa idade não é fácil. Como te preparas para as sessões de inverno e para as viagens com ondas exigentes?
MF: Tento surfar todos os dias para manter o ritmo e cuidar a parte da alimentação. São os pontos essenciais. Claro que um pouco de cardio e alongamentos também ajuda bastante.
"O Nick, como surfista dos Coxos,
sempre soube o que a malta precisava para surfar a baía"
A Billabong e a Semente foram sempre os teus sponsors. Podes explicar a importância que estas duas marcas tiveram no teu surf?
MF: A Billabong e a Semente são os meus etermos patrocinadores, desde os anos 80 até hoje. A Billabong, para além de sempre me ter apoiado com material e viagens, fez parte da minha vida durante 20 anos em que trabalhei para a empresa (Despormar) como comercial. Foram muitos bons tempos e recordações. Quer com o Paulo Martins como todos os que trabalharam comigo. Sempre consegui conciliar o surf com o trabalho e isso foi o melhor apoio que a marca me deu. Por outro lado, a Semente e o Nick [Uricchio] sempre me puseram as melhores pranchas debaixo dos pés. O Nick, como surfista dos Coxos, sempre soube o que a malta precisava para surfar a baía. Altas pranchas!
Este teu tubo agora em Marrocos tornou-se viral nas redes sociais (ver clipe em baixo). Consegues descrever como tudo aconteceu?
MF: Essa viagem a Marrocos foi um bocado inesperada, mas o facto da última temporada ter sido má pela Ericeira levou-me a viajar. Vi as previsões, optei por Marrocos e… bingo! Foi um dia clássico com pouco crowd.
--
Entrevista_ Bernardo “Giló” Seabra
Edição_ AF
Fotos polaroid_ Arquivo pessoal