Escrutinando o Desporto Escolar com João Ferreira quinta-feira, 24 maio 2018 17:38

Escrutinando o Desporto Escolar com João Ferreira

Entrevista exclusiva com o Coordenador Nacional… 

 

Estávamos no início de maio quando recebemos a boa nova de que Portugal, coletivamente, havia alcançado a medalha de bronze no Mundial de Surf do Desporto Escolar. A prova, que se realizou em Marrocos, viu ainda Mariana Gonçalves, terminar em terceiro lugar no pódio da divisão feminina. 

Passadas algumas semanas, juntamente com João FerreiraCoordenador Nacional de Surf do Desporto Escolar, decidimos que estava na hora de trazer novamente o assunto para cima da mesa, dando a conhecer as suas origens e as linhas mestras para os tempos futuros. 

 

Surftotal: Para começar, fale-nos do Desporto Escolar. Quando, como surgiu e o que visa?

João Ferreira: O Surf no Desporto Escolar começou há 23 anos, em Peniche, no ano letivo de 1995/96, na Escola Luís de Ataíde pelas mãos do professor João Brogueira, responsável pelo grupo/equipa, com o meu apoio como coordenador do Desporto Escolar da Escola e a visão progressista da presidente do conselho diretivo, a professora de Educação Física que tinha uma perspetiva futurista e de apoio às modalidades ditas "radicais" e que hoje em dia se tornaram em desportos de massas.

Nos anos seguintes, realizámos ações de formação para professores de Educação Física que permitiram dar a conhecer a modalidade a centenas de colegas que, aos poucos e poucos, foram criando grupos/equipas de Surfing nas escolas portuguesas, públicas e privadas, aumentando o número de praticantes.

O Surf no Desporto Escolar passou a ser uma modalidade importante, porque, para além de facilitar a "literacia" do mar, criou e ajudou a consolidar conhecimentos e competências aquáticas que permitiram a milhares de alunos das nossas escolas uma maior consciencialização do potencial e da diversidade existente neste meio tão importante para a nossa economia. Vários atletas que hoje correm os circuitos nacionais e internacionais iniciaram ou passaram durante as suas carreiras de atletas no Desporto Escolar: Teresa Bonvalot, Yolanda Hopkins, Guilherme Ribeiro, os manos Carrasco, Andrés Melendez, Henrique Pyrrait,  os manos Rosmaninho, o Bernardo Tormenta do Bodyboard ou o João Dantas e o João Gama, campeões do Longboard, representaram as suas escolas e regiões em campeonatos regionais e/ou nacionais do Desporto Escolar.

Considero o Desporto Escolar o maior clube do país, porque permite a todos os alunos que estejam interessados na atividade desportiva a prática de um número imenso de modalidades nas suas escolas ou em escolas próximas das suas, mesmo que à partida não tenham condições económicas para as praticar.

 

"Vários atletas que hoje correm os circuitos nacionais e internacionais iniciaram 

ou passaram durante as suas carreiras de atletas no Desporto Escolar"

 

 

Como se processa o formato da competição de Surf no Desporto Escolar e de que forma um aluno que já é surfista poderá nele participar?

O formato de competição do Desporto Escolar tem passado por diversas adaptações ao longo dos anos. Inicialmente apenas se realizavam competições locais em Lisboa, porque o número de praticantes era baixo e não se justificava a organização de provas nacionais. Estas surgem quando núcleos importantes se começam a formar no Porto e arredores, e no Algarve que permitem a organização do primeiro Campeonato Nacional em Viana do Castelo. Devido a dificuldades financeiras este campeonato não teve continuidade, surgindo os campeonatos regionais para permitir a realização de prática competitiva aos alunos inscritos.

Estes circuitos começaram a tomar uma dimensão tão grande que houve necessidade da realização de provas locais de apuramentos para as etapas regionais e, por consequência do aumento da importância e visibilidade da modalidade, o Campeonato Nacional de Surf do Desporto Escolar começou a realizar-se todos os anos. 

Este ano esteve previsto a realização de um Circuito de Atividades Náuticas (Surfing, Vela e Canoagem). Infelizmente, devido a problemas de operacionalização no projeto, só se realizou uma etapa na Costa de Caparica durante o Caparica Primavera Surf Festival que definiu os campeões de 2017/18.

Todos os alunos de escolas públicas ou privadas podem participar nas provas do Desporto Escolar. Basta estarem inscritos num núcleo de Surfing da sua escola ou de uma escola próxima da sua e participarem ativamente nesse núcleo para serem convocados e representarem a escola em competições. Existe uma quota de participação por cada núcleo existente que participa em provas de apuramento para as etapas nacionais e assim permitimos que os melhores disputem os títulos nacionais de Iniciados e Juvenis masculinos de Surf, Feminino de Surf, Bodyboard e Skimboard.

 

"O formato de competição do Desporto Escolar

tem passado por diversas adaptações ao longo dos anos"

 

 

De acordo com a sua experiência, quais as zonas do país mais fortes do Surf relativamente ao Desporto Escolar?

Neste momento existem várias zonas a apostar forte no Surfing do Desporto Escolar. Com a criação dos Centros de Formação de Surfing do Desporto Escolar existe a possibilidade de colocar anualmente milhares de alunos a iniciar e aperfeiçoar as suas habilidades nos desportos de ondas. Há 15 Centros de Formação em Portugal, desde Viana do Castelo até ao Algarve. No Porto, na Póvoa de Varzim (Bodyboard), em Peniche, na Ericeira, em Cascais, Costa de Caparica e no Algarve, os Centro de Formação estão a funcionar muito bem com parcerias com clubes, escolas e autarquias, desenvolvendo trabalho nos diversos níveis do ensino básico e secundário e para alunos com necessidades educativas especiais. Outros Centros ainda estão numa fase de desenvolvimento dos projetos (Viana do Castelo, Nazaré, Sines, Odemira e Lagos) promovendo parcerias que lhes permitam fazer crescer o número de praticantes, de atividades e de entidades envolvidas. 

 

"Há 15 Centros de Formação em Portugal,

desde Viana do Castelo até ao Algarve"

 

 

Como se chega à formação da equipa que representou Portugal em Marrocos? Qual foi o processo de seleção?

A constituição da equipa que representou Portugal em Marrocos foi muito fácil. Como só tivemos conhecimento da nossa participação muito em cima do evento, não foi possível realizar estágios de preparação e os critérios de seleção basearam-se no limite de idade permitido e no ranking nacional do ano anterior. Estamos a aguardar informações relativas à próxima Gymnasiade em 2020, na China, para perceber se o Surf irá continuar a ser modalidade escolhida e se Portugal irá participar para podermos preparar da melhor forma uma equipa que possa lutar pelo título Mundial. Tenho a certeza que, com tempo, conseguiremos ter alunos com nível de habilidade e preparação superior e que possam lutar em igualdade de circunstâncias com os nossos adversários.  

 

"Tenho a certeza que, com tempo, conseguiremos ter alunos

com nível de habilidade e preparação superior"

 

 

 

Sobre o mundial de Marrocos. De uma forma geral, como correu a experiência?

Este mundial foi uma experiência muito interessante, porque permitiu aos nossos alunos competir com as jovens promessas dos outros países e conhecer um país e uma cultura que está em profunda transformação e que apresenta uma grande diversidade de línguas, vestuário, religiões, arquitetura e comportamentos. Basta dizer que dos 35 milhões de marroquinos, 50% tem menos de vinte anos. O Rei está a apostar muito no turismo e tanto passamos por bairros de lata imundos como nos encontramos em bairros luxuosos com todas as mordomias ou em centros comerciais modernos que são iguais aos que encontramos em Portugal. Várias vezes cruzamo-nos com mulheres totalmente tapadas com burcas e ao lado encontrávamos jovens vestidas como as de Cascais ou da Foz no Porto.

Outro dado importante foi que este evento juntou mais de 50 países e 2400 jovens de todo o mundo. As cerimónias de abertura e encerramento com todos estes participantes no Estádio do Príncipe em Marraquexe foram espetaculares e com um cheirinho a Jogos Olímpicos. As estadias em hotéis com as diversas comitivas permitiram o encontro e conhecimento de alunos e professores dos mais diversos países (europeus, asiáticos, dos continente americano e africano) promovendo a troca de experiências e formas de estar e trabalhar.

Tenho de destacar a atitude dos nossos quatro atletas, Mariana Gonçalves, Emma Silva, Michael Conlan e Bruno Gregório que, para além de se empenharem na competição, demonstraram um grande fair-play e contagiaram com as suas brincadeiras e comunicação fácil as outras comitivas. Por isso, só posso fazer, tanto a nível desportivo como social, um balanço muito positivo.

 

“[o Mundial] permitiu aos nossos alunos competir com as jovens promessas

dos outros países e conhecer um país e uma cultura

que está em profunda transformação"

 

 

Que novidades nos reserva o Desporto Escolar para o futuro?

Em relação às atividades futuras do Desporto Escolar, posso afirmar que o Coordenador Nacional do Desporto Escolar, Dr. Rui Carvalho, tem a intenção de continuar a apostar nas atividades náuticas. Vai haver um investimento nas questões de segurança com a realização de ações de formação para professores e na aquisição de meios para apoio das atividades.

O Desporto Escolar e a Federação Portuguesa de Surf têm há vários anos um protocolo que tem sido aprofundado através de reuniões tidas entre as duas entidades. A formação dos professores com grupos/equipa e dos Centros de Formação é uma aposta forte que será concretizada no próximo ano letivo. Estão em fase terminal as diligências (aprovação das ações de formação por parte da FPS) para lançar as novas ações que vão permitir o melhoramento do ensino do Surfing no meio escolar. Ao nível do julgamento existe uma parceria com a FPS que permite aos alunos tirarem o curso de juízes e poderem seguir uma carreira no mundo do Surf, o que, aliás, já tem acontecido nos últimos anos com vários a integrarem os painéis de julgamento de provas nacionais e internacionais.

Em relação à competição, ainda não posso avançar com o formato do próximo ano. Terei reuniões proximamente para podermos encontrar a melhor forma, sempre com a intenção de aumentar o nível competitivo, visto que as condições que têm sido postas às disposição dos alunos têm sido excecionais. 

 

"A formação dos professores com grupos/equipa e dos Centros de Formação

é uma aposta forte que será concretizada no próximo ano letivo"

 

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AF

Nota: Fotos de arquivo pessoal. 

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