Guilherme Fonseca: "Não quero ser mais um que gasta dinheiro no QS"
Lê já a entrevista exclusiva com o surfista de Peniche...
Guilherme Fonseca tem uma carreira recheada de conquistas nas camadas juniores - três títulos nacionais conquistados na divisão Sub-18 e um vice-campeonato em Sub-20 - e tem vindo a ser uma das escolhas do selecionador nacional para representar as cores da nação. É também um dos regulares da nossa costa e um dos nomes de destaque da Liga Nacional de Surf. Numa recente sessão de free surf a norte, aproveitámos para fazer a devida atualização e o ponto da situação que se impõe.
Antes de mais, faz-nos uma apresentação pessoal...
Guilherme Fonseca, 20 anos de idade, 13 anos de surf. No surf procuro uma maneira de viver, de surfar sessões clássicas com amigos e de ser o melhor em competição.
- Foto: Luke Dawson
Como tem estado a correr a temporada de inverno até ao momento? Alguma sessão de destaque que gostasses de partilhar connosco?
Tem estado a ser um inverno com muito swell, muitas ondas boas mas ao mesmo tempo tem estado frio, só mudava essa parte do frio. (risos) Tem havido várias boas sessões este ano nos Supertubos, mas a sessão que mais me impressionou ocorreu a meio do mês de janeiro. Brisa de offshore, sets com um 1,5m com formação perfeita e típica da Praia dos Supertubos. Basicamente, surfei o dia todo, chegando a casa de rastos e quando isso acontece é sinal que teve mesmo bom. Tubos “fáceis”, sol e boa vibe na água… o que mais se pode pedir?
À imagem de Vasco Ribeiro, Kikas e outros, também tu deste um pulinho ao norte para experimentar as direitas de Espinho. Fala-nos dessa sessão…
Tenho visto filmagens incríveis de Espinho e estava com muita pica para ir lá surfar. Para variar um pouco de ondas, eu, o Nuno Silva, o Manuel Morgado e o meu cameraman Tomás Bello alinhámos em arrancar para cima bem cedinho e chegámos ao “Casino” logo de madrugada. Apesar de não termos escolhido o melhor dia em termos de previsão ,as ondas estavam compridas e consistentes com pouco vento, perfeitas para treinar a linha de onda e o surf de rail. Quem me dera ter um pointbreak assim em Peniche! (risos) Mesmo não estando no seu melhor esta onda mostrou muito do seu potencial e na minha opinião tem tudo para formar surfistas de topo. Os locais são super tranquilos e amigáveis, o que é sempre bom, pena ser um bocado longe e termos de pagar tantas portagens porque se não ia lá mais vezes.
"Não há melhor treino que estar na água o dia todo"
- Foto: Marco Gonçalves
Como se prepara um atleta de alta competição? Ou pelo menos, como te preparas tu durante a época de defeso?
Basicamente tenho feito só surf. Parei há uns meses com o trabalho de ginásio e agora tenho feito muito surf, duas a três vezes por dia. Não há melhor treino que estar na água o dia todo. Tenho visto muitas filmagens minhas, o que é indispensável, tenho tido uma boa alimentação (80% de origem vegetal), faço alongamentos à noite. Pronto, esta tem sido a minha rotina/treino nos últimos meses.
A temporada competitiva está à porta. Em 2017 terminaste em nono lugar na Liga MEO Surf. Qual o grande objetivo em 2018?
Para ser sincero o meu objetivo este ano na Liga MEO Surf vai ser pensar heat a heat, fazendo uma boa escolha de ondas, surf forte e manter a calma. E depois os resultados vêm naturalmente. Por acaso, vou estar na Costa Rica a surfar quando a primeira etapa da Liga estiver a acontecer, portanto, não vou estar presente na primeira etapa, mas estou super motivado para competir na Liga.
Qual a melhor etapa para ti o ano passado e por onde gostarias de ver a Liga passar?
O ano passado a melhor etapa foi, sem dúvida, na Figueira da Foz que, infelizmente, não vou poder participar este ano pois, como referi, vou estar na Costa Rica a treinar. No entanto, sinceramente, não tenho nenhuma preferência. Adoro competir e surfar, venha o que vier, é o que tem de ser surfado, cada onda com a sua forma e características. Estou tranquilo nesse aspeto, pois sou um surfista que gosta de surfar todo o tipo de ondas.
"Adoro competir e surfar, venha o que vier, é o que tem de ser surfado
(…) sou um surfista que gosta de surfar todo o tipo de ondas"
- Foto: Marco Gonçalves
E relativamente à Qualifying Series, quais os planos para a presente temporada?
Este ano decidi - junto com os meus treinadores (Academia Profissional de Surf) - que vou investir o pouco dinheiro que tenho em viajar para surfar e treinar, pois sinto que o meu nível não chega para “vingar” no WQS e que é preciso dar um tempo, evoluir tecnicamente, surfar muito e ir bem preparado no próximo ano. Não quero ser “mais um” que gasta dinheiro no QS e que não tem surf para se sustentar com ele. Na minha opinião, quem não tem uma média forte de score 13/14 pontos não deve insistir em competir no QS; e a verdade é que eu ainda não consigo ter essa média, portanto, vou parar por agora, surfar mais ondas boas e consistentes e ir forte de vez para o circuito. Temos de ser realistas e não podemos viver em ilusões.
Voltando ao plano entre portas. Que balanço farias do Surf nacional?
Temos bons surfistas e pelo que parece está a vir uma nova geração de surfistas bem promissora, mas o nível de surf está muito alto a nível mundial, hoje em dia não dá para vacilar, temos de ser melhores, viajar mais, treinar mais. O Kikas está a destruir no WCT e depois penso que o Vasco Ribeiro, Tomás Fernandes, Miguel Blanco e Pedro Henrique têm nível para fazer bons resultados no WQS, mas a consistência tem de subir, pois, como disse, o nível está a ficar muito alto.
- Foto: Mónica Santos
Tal como muitos surfistas da nossa praça, também tu tens vindo a debater-te com a falta de patrocinadores. Como “sobrevive” um atleta de alta competição sem um "main sponsor”?
No meu caso tenho a sorte de ter a minha família que me proporciona casa, carro e alimentação, mas num caso de um surfista mais velho que precisa de pagar todas a suas despesas por sua conta, tem de ter um trabalho e de conciliar isso com a sua carreira como surfista, que hoje em dia como o nível está tão forte, vai acabar por se desmotivar uma vez que não consegue manter o foco só no Surf. No meu caso sinto que qualquer patrocínio me iria ajudar bastante, ia conseguir viajar mais, investir mais na minha evolução, mas, como não tenho, preciso de ajustar-me com o dinheiro que vou ganhando na Liga MEO Surf.
“Sinto que o meu nível não chega para “vingar” no WQS
e que é preciso dar um tempo"
- Foto: Arquivo Pessoal
Porque achas que é tão difícil obter um patrocinador principal hoje em dia?
Penso que com a evolução das redes sociais as marcas grandes de surf começam a apostar só nos melhores surfistas. Faz sentido, pois são esses surfistas de topo que vão dar mais retorno à marca não fazendo sentido apostar num surfista bom da “terrinha”. Hoje em dia, para se ganhar do surf, tens de ser dos melhores, ser diferente ou “destruir” as competições. É a realidade e temos de aceitar isso. No meu caso tenho de me adaptar e evoluir de forma a destacar-me. Através do destaque os patrocínios chegarão. Não basta ser só bom surfista¸ tens de ser dos melhores.
Última mensagem?
Queria agradecer á Razman Surfboards por acreditar no meu potencial, mantendo-me muito bem equipado com as suas pranchas e pelo trabalho que tem vindo a desenvolver comigo. Obrigado à Academia Profissional de Surf, à Wildsuits, ao Osteopata Tiago Boto, à Make it Real Clothing, ao Ginásio Balance Club e ao Hélio Conde por me apoiarem. Obrigado Surftotal pela entrevista!
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AF