António Rodrigues: “Foi a melhor sessão que tivemos em Espinho este inverno"
Exclusivo com o surfista nortenho sobre a sessão da passada quarta-feira…
A sessão da passada terça-feira, na onda do Casino, em Espinho, foi absolutamente épica e está a ser difícil de apagar da memória. Na água, a cruzar vários cilindros verdes, encontrava-se António Rodrigues, um dos surfistas de referência da cidade e da região norte. Ora, tratando-se do seu “homebreak”, um spot que conhece como ninguém, nada melhor do que fazer a atualização que se impõe.
Olá António. Fala-nos um pouco mais da sessão e das ondas que rolaram na terça-feira na praia do Casino…
AR: A sessão foi, sem dúvida, a melhor que tivemos em Espinho e no norte desde que o inverno começou. Todos os fatores (fundos, tamanho, direção do swell) estavam alinhados, o que resultou na perfeição que podemos ver nas fotos (galeria AQUI). Até mesmo o crowd contribuiu para uma boa sessão, pois tivemos a companhia de surfistas de topo como o Vasco Ribeiro, Tiago Pires e o Francisco Alves, que ajudaram a aumentar o nível dentro de água, tivemos também alguns bodyboarders de Espinho a apanhar algumas das melhores ondas do dia e, como não podia deixar de faltar, também tivemos surfistas do norte, como o Salvador [Couto] ou o Elohe [Alvarez] que sempre aproveitam muito bem as melhores sessões que temos e são sempre uma ótima companhia.
Em três palavras, como definirias a onda do Casino?
AR: Tubos. Perfeita. Casa. A última talvez não defina a onda, mas é sem dúvida a primeira palavra que me vem à cabeça quando penso na onda do Casino.
No geral, como têm estado as ondas por Espinho esta temporada de inverno?
AR: No geral tem sido uma temporada boa. Sem contar com este último mês, no qual as tempestades não ajudaram em nada, temos tido a sorte de surfar muito boas ondas. Os fundos têm estado bons desde setembro e sempre que há ondulação é quase garantida uma boa sessão.
"A sessão foi, sem dúvida, a melhor que tivemos em Espinho
e no norte desde que o inverno começou"
- Em casa, a cruzar mais um tubão invernal. Foto: Miguel Melo
Houve alguma onda que tivesses apanhado que se tivesse destacado?
AR: Houve uma onda que não vou esquecer nos próximos tempos. Não foi nem o maior nem o mais comprido tubo do dia, mas toda a perfeição da onda, desde o momento do drop até ao fim e toda a sintonia que consegui ter com o mar, acabaram por torná-la inesquecível. O destaque deveu-se mais ao momento do que propriamente à dificuldade da onda, e fazê-lo em casa torna tudo melhor. Com certeza, são esses momentos que me continuam a dar tanta vontade de fazer surf.
A nível local, quem se destacou na água e quais são na verdade os surfistas a ter em conta na atualidade?
AR: Neste momento tenho de dizer que é o Salvador Couto. É uma pessoa que conheço bem, sei o trabalho árduo que tem feito já há vários anos e felizmente tem dado - e vai continuar a dar - muitos frutos. Reparo muito no amadurecimento do surf dele e isso nota-se cada vez mais nestas sessões clássicas que tenho apanhado com ele. Está num ótimo caminho, devido também aos pais e treinadores, e tenho a certeza que se continuar assim vai ser muito bem sucedido.
- Tão cedo a passada terça-feira vai ser difícil apagar da memória. Foto: Miguel Melo
Sobre os surfistas que estavam de visita, quem, a teu ver, encheu mais o olho?
AR: É uma pergunta difícil de responder, até porque quando estamos dentro de água acabamos por não ver a maior parte das ondas. O Vasco Ribeiro e o Tiago Pires tiveram abordagens diferentes ao início, mas acabei por ver ondas excelentes dos dois. Não acho que nenhum se tenha destacado em relação ao outro de uma forma especial. Foi feito muito bom surf pelos dois.
Falando sobre ti. Sabemos que és um surfista multifacetado e que gostas de puxar os limites. Fala-nos sobre os teus objetivos no campo das ondas grandes. Até onde pretendes chegar?
AR: As ondas grandes vão ser sempre uma paixão enorme que tenho. Neste momento, visto que entrei na faculdade, não tenho andado tão ativo como gostaria no que toca a treinos nessa área, mas longe de pensar em parar. Continua a ser uma das coisas que me dá mais prazer fazer. Entre aulas e exames tento aproveitar o tempo que tenho para surfar ondas maiores quando entra algum swell aqui no norte, vou tentando ir à Nazaré sempre que posso, pois neste momento é o melhor treino que pode haver para quem quer evoluir nas ondas grandes. Tenho a sorte de ter pessoas espetaculares e experientes a darem-me apoio e a porem tudo ao meu alcance para que possa conciliar tudo, estando sempre prontas para me acompanhar e apoiar em qualquer swell maior, como o meu pai e a Jet Resgate. O apoio que a VISSLA me dá também torna tudo muito mais acessível, sem dúvida. Em relação até onde pretendo chegar, penso que o objetivo final seria um dia estar no campeonato mundial de ondas grandes, mas admito que não tenho pensado a longo prazo. Tenho-me focado mais em aproveitar o melhor possível todas as experiências e crescer o melhor possível. Acho que a essência é essa.
“O objetivo final seria um dia estar no
campeonato mundial de ondas grandes"
- Na boca do lobo! Uma bem pesada que ajuda a fazer a história da sessão. Foto: Miguel Melo
Que podemos esperar de ti no futuro?
AR: Acabar o curso, viajar regularmente e começar a remar mais vezes em ondas grandes. São os três “projetos”, se assim lhes podemos chamar, aos quais vou dar mais atenção.
Última questão. O Surf constrói ou não o carácter?
AR: O carácter começa a ser construído a partir do momento em que nascemos e começamos a ter a capacidade de interpretar ações, ideias, etc… sendo as experiências que passamos ao longo das nossas vidas, juntamente com a educação, os principais influenciadores. Ora se o surf aparece a certo ponto na vida de alguém, penso que, sendo claro uma experiência, vai contribuir de alguma forma (positiva ou negativa) para a construção de carácter de uma pessoa. Não sei dizer, no caso geral, se o surf constrói especialmente carácter, comparando por exemplo com um outro desporto, mas quando estamos dentro de água vemos e presenciamos certo tipo de momentos fortes que se não fosse pelo surf, não se proporcionariam. Posso então dizer que, no meu caso, teve sem dúvida um impacto positivo (a meu ver) no tipo de pessoa que sou hoje. É normal visto que é uma das coisas à qual eu dediquei uma grande parte do meu tempo nos últimos anos, mas também pelas pessoas que me deu a conhecer e os exemplos que me deu a seguir. Tenho a certeza que todas as experiências mudaram à sua maneira a construção do meu carácter, mas se tiver de nomear as que mais influenciaram e continuam a influenciar hoje em dia, são sem duvida a educação e o surf.
P.S.: Em 2015, com apenas 17 anos, surfou a maior onda da sua vida até então, uma onda de mais de 12 metros, na Praia do Norte, Nazaré. Com esta onda foi um dos mais jovens surfistas de sempre a ser alvo de destaque nos WSL Big Wave Awards, na categoria Maior Onda do Ano.
--
AF