Surfista britânica recupera em casa, em North Devon, Reino Unido. Surfista britânica recupera em casa, em North Devon, Reino Unido. Foto: DR sábado, 06 janeiro 2018 05:26

Andrew Cotton: “Foi doloroso, mas não me traumatizou”

Surfista britânico recorda à Surftotal o wipeout na Praia do Norte em novembro passado...

 

Quarta-feira. 8 de novembro de 2017. Praia do Norte, Nazaré. O canhão disparava e as ondas rondavam os 15 metros. Andrew Cotton, acompanhado por Garrett McNamara e Hugo Vau, na equipa de resgate, surfava aquela que seria a sua quarta ou quinta onda do dia. E aquele que seria também o “wipeout" do dia. A experiência valeu ao britânico de 35 anos uma fratura nas costas e uma lesão que lhe ditou uma paragem de meses. Pelo menos até março ou abril de 2018. É em North Devon, Reino Unido, que tem passado as últimas semanas. E foi por lá que a Surftotal o encontrou. 

 

Antes demais, como se sente atualmente? 

Sinto-me bem. Já lá vão sete semanas de fisioterapia, ainda não estou a 100 por cento. Talvez possa voltar a surfar em março. Mas, sim... ainda tenho dores. Estou a fazer exercícios e fisioterapia na piscina. Estou desejoso de voltar à água tão depressa quanto possível.

O que se lembra do dia do “wipeout"?

Lembro-me de todo o dia. Da sessão. Olhando para o tamanho das ondas, o swell, as condições, pensámos que seria um dos melhores dia do ano. Apanhei umas ondas primeiro, o Garrett [McNamara] colocou-me em duas ou três. Julgo que foi à terceira ou quarta que tive o “wipeout". Lembro-me de tudo. Foi doloroso, mas não posso dizer que me tenha traumatizado. Nada a ver. Estas coisas acontecem, podes lesionar-te quando surfas. E as ondas nem têm de ser grandes para te lesionares.

 

"Esta é uma oportunidade para trabalhar em

algumas das minhas fraquezas e voltar mais forte"

 

- Praia do Norte. Foto: Rafael Riancho

 

O que aconteceu depois do “wipeout"?

Tenho muita sorte em trabalhar com surfistas tão experientes. Chegaram até mim muito depressa, tão depressa quanto puderam. E quando eu estava na praia sabia que tinha magoado as costas. É isso que a Nazaré tem de tão especial. Todos estão focados na segurança, em que nada aconteça de mal, e há nadadores-salvadores na praia. Colocaram-me na posição correta para quem tem lesões na coluna, e acho que 45 minutos depois eu já estava no hospital. Mantiveram-me super estável. A forma como lidaram com tudo... Tive realmente muita sorte. 

 

 

As pessoas não esquecem a lesão da Maya Gabeira. E agora ficaram preocupados consigo. Quando vai voltar a surfar na Nazaré?

Claro que já penso em voltar a surfar na Nazaré. E as condições estão excelentes agora e eu não estou lá. Mas quero acreditar que no fim da temporada, em março ou abril, estarei de volta. Se não, definitivamente em setembro, ou outubro, no arranque da próxima temporada. Esta é uma oportunidade para trabalhar em algumas das minhas fraquezas e voltar mais forte, mais focado, talvez. Sim, vou ter saudades das ondas este inverno, mas acho que tenho que olhar para isto como uma oportunidade de voltar mais forte.

 

Sentiu o carinho dos portugueses?

Acho que isso foi aquela coisa que me deixou sem palavras. O amor e o apoio de todos. Pessoas que não conheço a enviar-me mensagens de apoio e coragem. É incrível, não temos a noção da quantidade de pessoas que nos veem surfar. Fez-me sentir... senti-me emocionado. Principalmente algumas das mensagens de pessoas que também estavam no hospital. Foi realmente incrível. Senti muito amor dos portugueses, ao qual estou muito agradecido.

 

“O medo é um sentimento saudável de se ter, ou de se experienciar"

 

 

Quando se tem um acidente, e se sente a morte mais perto, o que muda na vida?

Nunca tive de facto uma má experiência no mar. Nunca pensei que ia morrer ou afogar-me. Então não posso dizer que mude alguma coisa. Acho que o medo é um sentimento saudável de se ter, ou de se experienciar. E é também bom desafiar o medo, respeitando-o. É por isso que amo ondas grandes. 

 

Qual foi o momento mais perigoso que já viveu?

Eu sei que o que faço é perigoso, mas não ando por aí a correr riscos de propósito. E se achar que é muito perigoso, não arrisco. Nunca me pus intencionalmente em perigo. Claro que há situações que, olhando para trás, penso que tive sorte. Podia ter corrido mal. Inúmeras vezes na Nazaré, por exemplo. Mas não foi nada que eu não tivesse gostado. Nunca tive uma má experiência no mar.

 

Mudando de assunto, onde está agora? Como foi a época festiva?

Estou em casa, em North Devon. Tenho dois filhos pequenos e estava super felizes com o Natal. Passámos o natal em casa, foi muito bom. É tempo de família, então passámos com avós, primos. Foi muito bom. Hoje fomos deslizar na neve. Quer dizer, eu não, por causa das costas. Ainda estou um pouco limitado, mas tem sido ótimo estar em casa.

 

"Eu sei que o que faço é perigoso,

mas não ando por aí a correr riscos de propósito"

 

- Mullaghmore Head, Irlanda. Foto: Awake and Dreaming Photography

 

Quais são os seus objetivos para 2018...

Voltar ao mar o quanto antes. Quando se faz ondas grandes, os objetivos são fáceis. Encontrar o maior swell. E se o conseguir fazer, então aí encontrar a onda de sonho, a maior onda do ano. Em 2018 quero ir à procura do maior swell, estando em forma e recuperado.

 

Olhando para trás, qual foi a sua viagem favorita? E o que leva sempre na mala?

A viagem favorita? Não sei... Acho que as melhores recordações que tenho são da Europa. Irlanda e Portugal são os meus locais preferidos. Prefiro ir para locais pelo swell, do que viajar só para surfar. E a Europa nisso é incrível. Quanto ao que levo sempre na mala... a Go Pro [risos], é impossível sair de casa sem ela.

 

Já que falou de Portugal... o que mais gosta na gastronomia na Nazaré? 

Normalmente vou ao restaurante da Celeste. Tem comida tão boa. O meu prato preferido? Adoro a carne de porco à alentejana. Mas não há nada que eu não goste. É difícil escolher só um prato.

 

“Se achar que é muito perigoso, não arrisco"

 

- Praia do Norte. Foto: Rafael Riancho

 

Qual a sua palavra portuguesa favorita?

Gosto muito de “primo” e “prima”... [risos] são as minhas palavras favoritas.

 

E o surfista português de quem mais gosta?

Bem, essa é complicada. O Hugo Vau é obviamente um dos meus melhores amigos, passamos muito tempo juntos, é um surfista incrível, no jet ski também é fantástico. O Hugo é o meu surfista português favorito. Mas... também tenho de dizer o Alex Botelho. É uma excelente pessoa, humilde, e um fantástico surfista também. Então tenho mesmo de dizer dois: o Hugo e o Alex.

 

Por último, ainda trabalha como canalizador no Reino Unido?

Não, já não. Acho que o meu último trabalho foi na minha casa. Atualmente, além do surf, dou palestras motivacionais, em que falo de mim e das minhas experiências nas ondas. E organizo uns retiros de surf, que se baseiam no treino que faço com o meu treinador Andrew Blake. Mostramos às pessoas o nosso programa de treino. É sobre surf, técnicas de respiração, e treino específico de surf. Inclui alguns dias na Nazaré, aqui em Devon, no Reino Unido, e também no Dubai. É isso que tenho feito. Mantém-me ocupado e é definitivamente mais divertido do que ser canalizador [risos].

 

- Foto: André Silva Photo

 

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