Miguel Barata, 48 anos, Presidente do ESC desde 2012. Miguel Barata, 48 anos, Presidente do ESC desde 2012. Foto: Arquivo Pessoal terça-feira, 06 junho 2017 14:08

Miguel Barata: “Gostaríamos de ser um exemplo inovador a nível Europeu e Mundial”

Falámos com o Presidente do Ericeira Surf Clube que nos falou sobre o passado, presente e futuro… 

 

Aproveitando as comemorações do 1.º Campeonato de Surf Nacional que tiveram lugar no passado dia 22 de maio em Ribeira d’Ilhas, pusemo-nos à conversa com Miguel Barata de Almeida, 48 anos, Formador de profissão e sócio-fundador do Ericeira Surf Clube em 1992. Tem sido o Presidente do Clube jagoz desde 2012 e o mandato só termina em 2021. Em exclusivo, uma amena cavaqueira no presente que nos traça as linhas mestras para o futuro. 

 

Fala-nos das comemorações dos 40 anos do 1.º Campeonato de Surf Nacional que tiveram lugar recentemente em Ribeira d’Ilhas. Como é que o Ericeira Surf Clube olha para esse legado tão marcante do Surf português? 

Miguel Barata: Comemorar 40 anos de um evento pioneiro em Portugal por si só é um facto único, histórico, ainda mais sendo na nossa terra, na praia por muitos considerada como a Meca do Surf Português – Ribeira d’Ilhas. O enorme respeito e consideração pelo que representam para todos nós que viemos a seguir faz-nos sentir de imediato a necessidade de também marcarmos presença na tentativa de preservar, acarinhar, difundir e criar condições para que os mais novos saibam como tudo isto começou. Como mantemos um contacto muito próximo com o João Moraes Rocha (o 1.º Campeão Nacional), assim que se começaram a desenvolver algumas ideias sobre as primeiras iniciativas, para além de encetarmos alguns contactos com a  Câmara Municipal de Mafra e Junta de Freguesia da Ericeira, com os quais promovemos a reprodução das t-shirts originais e a produção da Placa Comemorativa, aproveitámos também para realizar uma etapa de surf do nosso Circuito, convidámos a virem participar numa Expression Session e a colocarem uma coroa de flores no mar. Foi com um enorme orgulho que obtivemos uma resposta positiva. No final do dia finalizou-se com um jantar convívio no Café Vitória, em Ribamar, um local de culto para muitos dos primeiros surfistas, em que se distribuíram alguns troféus produzidos pela Kogia Troféus e também alguns prémios referentes à Expression Session. Foram os pioneiros da primeira competição organizada, o que só por si é bastante relevante, havendo também um espólio fotográfico que deverá ser partilhado para que fique para a posteridade.

 

O descerramento da Placa Comemorativa, por exemplo, foi um ato por si só marcante e que irá perdurar ao longo dos anos. Que outro tipo de iniciativas têm em mente para o futuro?

Esta Placa Comemorativa foi um culminar de algumas ideias que vínhamos amadurecendo dentro do Clube e que surgiu na melhor altura, pois será certamente a primeira de várias que iremos trabalhar com os nossos parceiros no sentido de podermos transformar o local onde esta está colocada num futuro “Mural” onde estarão registados momentos “Históricos” passados na Ericeira. Ainda dentro desta celebração iremos organizar no final de setembro o Campeonato Nacional de Surf Masters, durante o qual  gostaríamos muito de podermos realizar uma exposição com fotografias do campeonato de 1977, trazer novamente a AHMS – Museu do Surf à Ericeira e quem sabe introduzi-los novamente na competição. Estamos também a amadurecer algumas ideias.

 

"Se temos as melhores ondas e as melhores condições para os que nos visitam,

temos também o dever de as partilhar e oferecer aos nossos atletas"

 

O Ericeira Surf Clube, situado numa das zonas de excelência do surf europeu e mundial, é um dos grandes clubes nacionais. Fala-nos do seu crescimento neste últimos anos e que procuram alcançar nos próximos anos?

O Ericeira Surf Clube a partir de 2012 deixou de ser apenas um clube que organiza 6 provas do seu Circuito Inter-sócios ao longo do ano. Passou a estar bastante mais ativo com o seu papel junto da grande maioria dos surfistas a ser reconhecidamente de muito valor. Orgulhosamente temos entre os nossos atletas grandes referências do surf nacional e internacional, pretendemos também acompanhar de muito perto os mais novos que agora começam a competir e a construir as suas carreiras. Em 2016, passámos de trinta federados para cerca de 145. Estamos a acompanhar este grande “boom" do surf a nível mundial, em que a Ericeira está também a ser bastante solicitada quer em número de turistas, quer em aumento de residentes ou de novas empresas. Se temos as melhores ondas e as melhores condições para os que nos visitam, temos também o dever de as partilhar e oferecer aos nossos atletas, e muitos outros atletas portugueses que regularmente competem nas diversas etapas regionais e nacionais que promovemos ao longo do ano. Estamos com uma base competitiva bastante forte e se queremos construir carreiras sólidas e de sucesso, então temos de criar as condições mais favoráveis. Para este mandato introduzimos também elementos nos órgãos sociais para se dedicarem a uma área que nos é particularmente muito próxima - o Ambiente. Nomeadamente para acompanhamento mais próximo das ocorrências nas praias e na área da Reserva Mundial de Surf. 

 

Entre a vossa massa associativa há muitos atletas de alto nível que acabam por representar as cores do clube em várias competições nacionais. Que tipo de apoio ou incentivo tem o Ericeira Surf Clube preparados para eles? 

Embora seja um desporto muito individualista, em que, por exemplo, os atletas estão muito mais associados a marcas (são estas que na maioria das vezes lhes pagam os seus salários) e não a clubes (que ainda vivem muito da carolice dos seus órgãos sociais), temos desenvolvido um trabalho no sentido a estarmos sempre presentes junto da maioria dos nossos atletas. Ao longo destes últimos cinco anos temos encetado algumas parcerias para podermos facilitar condições de treino, promovemos provas regionais e nacionais para poderem competir, contratamos fotógrafo para as provas e disponibilizamos as fotos, aos mais novos oferecemos as inscrições nos Circuitos Regionais e Finais Nacionais, promovemos os atletas nas redes sociais, reativámos a Escola de Formação do Clube, com o principal objetivo de formarmos e treinarmos atletas, ou o desenvolvimento de algumas ações de formação. 

 

 

 

Que dirias que mudou no Ericeira Surf Clube com a tua direção?

Efetuámos algumas mudanças. A nível de infraestruturas, temos uma sede no Parque de Santa Marta, um espaço para a Escola de Formação em São Sebastião, em Ribeira d’Ilhas um local para apoio aos eventos. Adquirimos também o antigo Atrelado da FPS para ser utilizado pelos staff técnico durante as provas. Reabilitámos também a Escola de Formação. Aproximámos muito mais os sócios/atletas ao Clube, promovemos cerca de 18/19 eventos por ano, somos referência no nosso Concelho, estamos também sempre disponíveis para apoiar e acarinhar novo desafios. Temos promovido a candidatura a vários Programas Nacionais e Internacionais, quer como Promotores, quer como Parceiros, nomeadamente IPDJ, EDP Solidária, BPI Seniores, 50 POR 50, Erasmus +. Estamos também a desenvolver Programas Piloto com Agrupamentos Escolares. Somos Membros dos Conselhos Municipais do Turismo e da World Surf Reserve da Ericeira, representantes do Surf da Ericeira, nas AG das World Surf Cities Network. Aproximámos também as Escolas de Surf ao Clube. Neste momento mais de 20 são nossas sócias, promovemos algumas ações de formação para treinadores, diretores técnicos e juízes.

Quais são atualmente os grandes desafios para um dirigente de um clube de surf?

A nível de apoios privados ao termos provavelmente a melhor zona da Costa Portuguesa e de estarmos localizados muito próximos de Lisboa, muitas empresas radicaram-se por cá. No entanto, a nossa “base” tem sido desde sempre a Despomar, havendo outros como a Semente, Boardculture, Mica Surfboards, Wavegliders ou Jobsite que nos últimos anos também têm estado muito próximos. Todos os anos, em termos de prémios, estão a entrar mais apoios. Teremos de trabalhar ainda mais e melhor para conseguirmos mais apoios financeiros, para que possamos investir qualitativamente na produção dos nossos eventos e possamos também canalizar verbas para serem investidos nos nossos atletas. Quanto aos apoios institucionais, tem sido notório o apoio e empenho da Câmara Municipal de Mafra, Junta de Freguesia da Ericeira e Ericeira Camping permitindo desenvolver muitos eventos, e promover muitas das etapas dos mais diversos Circuitos Nacionais. Sem eles tudo seria muito mais difícil.

 

“Gostaríamos de ser um exemplo inovador a nível Europeu e Mundial,

com esta área [da Reserva Mundial de Surf] a ser devidamente considerada, 

bem tratada e cuidada, com áreas de lazer, trilhos e caminhos devidamente delimitados, com reflorestação em algumas áreas"


O Ericeira Surf Clube está definitivamente comprometido com a evolução do Surf. De futuro, que tipos de atividades e iniciativas pretendem trabalhar mais? Onde querem estar daqui a 5 anos?

Gostaríamos muito de conseguir implementar os projetos a que nos temos candidatado, pois consideramos serem bastante válidos e estruturantes para a nossa terra. Gostaríamos também de cumprir o desejo de podermos ter uma estrutura na praia que nos permitisse concentrar a comunidade e os nossos sócios, que nos permitisse desenvolver a nossa Escola de Formação, criando uma forte base de formação, que nos permitisse poder explorar um espaço de restauração e bebidas não só para financiar atletas ou eventos, como também criar emprego e estágios aos vários cursos que estão ser desenvolvidos no nosso Concelho. Certamente que passaríamos a ter uma outra autonomia financeira. Dentro da atual linha de atuação, sendo a nossa costa a que melhores condições de ondas proporciona em Portugal, entendemos que devemos continuar a proporcionar aos nossos atletas, e outros atletas nacionais, provas dos calendários regionais e nacionais para que possam desfrutar e evoluir, com o objetivo de tornar Portugal numa das grande potências e referências mundiais em Surfing. Todo este nosso foco e empenho será ainda muito mais compensador se forem associados conquistas de títulos, de carreiras sólidas ou de uma boa base de formação. Uma das matérias em que nos temos empenhado muito, embora muitas vezes não sendo visível, é a constituição legal da Reserva Mundial de Surf da Ericeira. Embora grande parte da sua área esteja inserida numa área urbana, o que dificulta muito a contenção urbana e consequente ação humana, gostaríamos de ser um exemplo inovador a nível Europeu e Mundial, com esta área a ser devidamente considerada, bem tratada e cuidada, com áreas de lazer, trilhos e caminhos devidamente delimitados, com reflorestação em algumas áreas. É um trabalho muito intenso e contínuo que necessita ter o envolvimento de todos pela preservação e futuro da nossa terra.

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