DA ALEMANHA PARA A INDONÉSIA POR AMOR AO SURF terça-feira, 07 janeiro 2014 01:00

DA ALEMANHA PARA A INDONÉSIA POR AMOR AO SURF

Entrevista com Clemens Berger, que trocou a neve da Alemanha pelo surf da Indonésia

Clemens Berger é o exemplo de como a paixão pelo surf pode mudar uma vida drasticamente. Habituado à neve da sua terra natal, no sudoeste da Alemanha, foi por acaso que descobriu o surf. Hoje vive na Indonésia onde é diretor da Adrenalindealer e da Electric Indo, empresas ligadas aos desportos radicais, com particular foco no surf, situadas em Bali. A SurfTotal falou com Clemens e ficou a conhecer esta curiosa história.


Clemens, como é que o surf entrou na tua vida?
Eu cresci a fazer skate e snowboard. Por viver perto dos Alpes, podíamos fazer snowboardo o ano quase todo. Por isso o surf nunca esteve verdadeiramente no meu radar. Um dia o meu pai trouxe uma prancha de surf para casa, tinha-a visto numa montra na nossa cidade - que ficava a mais de 500 km da praia mais próxima, foi estranho. O dono da loja nem a queria vender, era apenas decorativa.., Então lá estava eu, no meio da Floresta Negra, a olhar para uma prancha estranha, feita por alguém na África do Sul e que encontrou de alguma forma o seu caminho para a Alemanha. Tinha que a experimentar, por isso fiz as malas e guiei até Hossegor, porque eu e um amigo meu ouvimos dizer que era lá que se surfava. Não fazíamos a mínima ideia de nada, mas nunca me vou esquecer da mnha primeira onda, como não havia fricção nenhuma. Fiquei viciado.

E a Indonésia? Como apareceu na tua vida?
Quando comecei a surfar tive a sorte de poder viajar para sítios muito bons, o Brasil, América Central, Europa e etc. Mas em todos os sítios que visitava, alguém me dizia: "Isto é muito bom, mas espera até ires à Indonésia". Era uma espécie de local "Shangri-La", e por isso passou a estar no topo da minha lista de sítios a visitar. Quando voltei a casa comecei a tirar um curso de gestão internacional, que incluía um ano a estudar e a trabalhar na Indonésia. Tudo se conjugou.

Tu criaste uma das maiores empresas de surf em Bali. Como aconteceu isso?
Não diria que somos grandes, mas sim um grupo que toma conta uns dos outros, e que faz o que ama. Sou muito grato por ter alcançado este objetivo, mas quero sempre mais, gosto de sair da minha zona de conforto. Tudo começou com um estágio na Rip Curl. Quando cheguei a Bali, depois de 6 meses em Yogyakarta, a marca estava à procura de um gestor de marketing. Acho que estava no sítio certo, à hora certa. Fiquei sete anos na Rip Curl e geri
todo o marketing da marca na Ásia. Depois do Rip Curl Pro Search em Uluwatu, chegou a hora de começar algo novo, por isso juntei forças com o Aristidis Giorginis e investimos juntos. Foi um passo enorme passar de organizar orçamentos de marketing para gerir uma empresa como um todo, mas o Ari já tinha um background de negócios e aprendi muito com ele. Houve uma altura em que me sentia um miúdo de 16 aos a conduzir um Ferrari. Eu não receio os riscos, mas é uma grande responsabilidade ter uma equipa a trabalhar para ti. Eles têm de alimentar as suas famílias e desenvolver as suas
carreiras, e nós queremos ajudar nesses campos. Como em todas as startups, tivemos momentos delicados mas três anos
depois está tudo a correr de forma suave.

A estratégia da marca Electric é abrangente, porque fazes a comunicação da marca tão ligada ao surf?
A estratégia de marketing é toda desenvolvida na Califórnia, nós pegamos nela e adaptamo-la ao que achamos que funciona melhor no mercado da Indonésia. É verdade que o surf é uma parte fulcral da nossa estratéga de marketing e o que mais gostamos em Bali, mas também trabalhamos com alguns atletas de skate e músicos.


Como vês a relação do povo indonésio em relação ao cenário do surf local? Achas que se enquadra bem num país que ainda não tem uma grande cultura de oceano?
Essa é uma boa questão. O surf está claramente a crescer na Indonésia. O país tem algumas das melhores ondas do mundo e alguns surfistas excepcionais, mas por outro lado a nível nacional o surf ainda não é reconhecido como um desporto. Há pessoas a trabalhar nesse sentido como a Tipi, a Arya e a equipa da ASC. Quando isso for alcançado, poderemos ver alguma mudança.


O maior arqupélago do mundo, as melhores ondas. Que mensagem deixarias às gerações mais novas da Indonésia?
É vosso. Aproveitem e façam o melhor que conseguirem. Não esperem pelos mais velhos. Estes locais e ondas nunca poderão ser reconstruídos. Preservem o que amam.


Qual é a política de recrutamento para empregar nativos qualificados?
Para além da Julia e de mim, toda a nossa equipa é Indonésia, e temos orgulho em ter pessoas de toda a parte, de diferentes quadrantes culturais e religiões a trabalhar connosco. Nunca foi uma questão de onde vêm, mas de estarem à altura do desafio do constante desenvolvimento pessoal.

Quais as metas alcançadas em 2013? E expectativas para 2014?
2013 teve altos e baixos. O governo mudou as regras das importações e complicou-nos a vida. Mas conseguimos superar isso acabar o ano com vendas 30% superiores ao ano anterior. Mega Semadi ganhou o Rip Curl Cup Padang Padang, e os nossos skateboarders estão em grande. Por isso, em traços gerais, foi um ano muito bom. Em relação ao produto, o nosso foco será comercializar os relógios Electric, crescer para lá de Bali e 'last, but not least', apanhar muitas ondas.

 

 

Perfil em destaque

Scroll To Top