Jordy Smith, o menino prodígio de Durban (África do Sul), com uma prancha de epoxy que, como o próprio referiu, para alguns atletas do tour seria um SUP, apresentou o surf mais sensacional do evento. Jordy Smith, o menino prodígio de Durban (África do Sul), com uma prancha de epoxy que, como o próprio referiu, para alguns atletas do tour seria um SUP, apresentou o surf mais sensacional do evento. terça-feira, 20 setembro 2016 17:40

Análise: Hurley Pro at Trestles

" O julgamento esteve na ordem do dia e esta crónica vai incidir essencialmente sobre este tema."  O olhar do juíz internacional Pedro Barbosa sobre a etapa de Trestles: o surf e os casos.

Trestles, Estados Unidos da América, o centro mundial do surf, onde a economia à volta deste atinge proporções incomparáveis com outras regiões do globo. Foi aqui que o surf se desenvolveu e de onde saíram as tendências do surf à escala mundial. Trestles, com a onda mais “ripável” do tour, é uma das provas mais sensacionais e aguardadas do ano. Este ano, o julgamento esteve na ordem do dia e esta crónica vai incidir essencialmente sobre este tema.

Este ano tivemos prova atípica onde os 3 primeiros do ranking não avançaram mais do que o 3º round, abrindo as possibilidades na corrida ao título a mais candidatos.Wilko e Medina perderam no 2º e 3º round, respectivamente. Mais à frente, falaremos dos seus heats. John John, líder do ranking mundial, teve uma prestação abaixo do esperado no 3º round e finalizou o heat com um modesto score de 8.74 pts. 

De salientar a prestação de um surfista muito talentoso cujo surf não corresponde aos resultados que consegue - Brett Simpson. Fez um dos melhores campeonatos da sua vida eliminando, primeiro, Wilko e depois John John… não é todos os dias que se manda para casa o nº1 e nº 2 do ranking.

 Outro facto interessante neste evento foi a prestação do “local hero” Tanner Gudauskas.

Nada melhor que ver o herói local a dominar um evento na sua praia. Ao chegar à meia-final com um surf fantástico, Tanner demonstrou claramente que deve estar entre a elite do surf mundial.

Stuart Kennedy foi também uma agradável surpresa. Mas sempre que falamos de direitas sem grande intensidade, o seu surf em pranchas de epoxy, trabalho desenvolvido ao longo de anos com o também super surfista/shaper Daniel Thomson (Tomo Surfboards), sobressai. Eliminou o actual melhor surfista do mundo em point breaks de direita, Mick Fanning. 

Com os resultados que tem alcançado, um surfista que teve imensa dificuldade em entrar na 1º divisão candidata-se agora a rookie de 2016.

 

MELHOR PERFORMANCE

Jordy Smith, o menino prodígio de Durban (África do Sul), com uma prancha de epoxy que, como o próprio referiu, para alguns atletas do tour seria um SUP, apresentou o surf mais sensacional do evento. O drive que tinha e o power que imprimia nas suas rasgadas com ligação para reverses foram a referência do evento. O seu backside não está ao nível do frontside e a sua performance em tubos ainda não está ao nível dos melhores, mas quando o assunto são direitas e a sua motivação está elevada é claramente um dos melhores do mundo. Foi um justo vencedor e está agora também na corrida ao título mundial.

 

SURFISTA COM "FACTOR X"

Filipe Toledo, o melhor surfista do mundo em ondas de 0.5 metro, foi mais uma vez fenomenal e o seu surf de rail melhora de evento para evento. É sério candidato ao título daqui a 2/3 anos. Tem apenas de ganhar força nas pernas e melhorar nos tubos.

SURFISTA EM ASCENSÃO

Estranhamente, e com todo o mérito, Joel Parkinson foi o surfista que mais posições subiu (oito). O surf que apresentou durante o evento foi fora de série e um exemplo para todos os surfistas que queiram desenvolver o surf de rail. No 1º round, contra o Mick Fanning, demonstrou o seu estatuto de campeão mundial e as linhas que desenhou foram o momento alto do dia.

 

AS ONDAS E AS DECISÕES DOS CALLS

A prova não acabou nas melhores condições mas tendo em conta as previsões a decisão dos calls foi bem gerida.

O JULGAMENTO E OS CASOS DA PROVA

Bem, vamos chegar à parte difícil do julgamento nesta prova. Queria começar por dizer que o julgamento na WSL é, do ponto de vista técnico, o mais evoluído que existe e é lá que estão os melhores juízes do mundo. Eu sou um fã da cultura anglo-saxónica e adorei a apreciação daquele que é considerado um dos surfistas mais inteligentes do tour - Adrian Buchan. De uma forma resumida, disse isto: “…nunca vamos estar de acordo com todas as notas. Existem 5 tipos lá em cima a avaliar e vamos mostrar algum respeito por eles. Estas histórias de conspiração estão tão longe da verdade que não fazem qualquer sentido…”. 

No entanto, do meu ponto de vista, esta prova efectivamente não correu bem em termos de julgamento e existiram algumas situações que não foram bem avaliadas. Foi a prova mais contestada de sempre e os próprios surfistas não se coibiram de manifestar a sua insatisfação:

Primeira situação comprometedora para a atribuição do título mundial - 1º heat do dia: Wilko contra o Brett Simpson no round 2. A sensação com que fiquei foi que as notas de ambos estavam baixas para o surf que fizeram, talvez por ser o primeiro heat. O Brett mais progressivo mas o Wilko mais "top to bottom" com combinações a chutar o tail. Na minha opinião, a ultima onda do Wilko era mais do que um 6.87 e deveria ter virado o heat.  O Wilko ficou insatisfeito e eu partilho da sua opinião.

 

Segunda situação – No heat do Medina com o Tanner existiram várias notas com as quais não concordei. O primeiro 8.67 do Tanner pareceu-me demasiado alto. A primeira manobra foi um pouco forçada, na segunda e terceira atacou bem a secção crítica, com manobras intensas e poderosas. O 8.30 do Medina, apesar da primeira manobra também ser um pouco para a frente, foi melhor que a primeira do Tanner, e depois, a segunda manobra foi muito boa, com um "reentry tail slide" e depois com uma sequência de rasgadas sempre no rail e com boa técnica. Na minha opinião, deveria ser mais do que um 8.34 e teria virado o heat. Depois de a nota ter saído abaixo do esperado, o Medina ficou fora de controlo emocionalmente e não conseguiu gerir a situação. No final do heat, o Tanner faz aquela que, na minha opinião, é a melhor onda. Três manobras mesmo no crítico, com força, velocidade e fluidez. Acabou por sair novamente um 8.67. O resultado é claramente próximo, podia dar para um lado ou para o outro, mas a este nível não podem haver ondas críticas incorrectamente avaliadas.

 

Para quem está por dentro do julgamento sabe que a alto nível existem muitos heats renhidos e que acertar em todas as notas com uma margem de erro mínima é quase impossível, no entanto algo deve ser feito para que a percepção sobre o julgamento seja mais objectiva para todos. Vejamos alguns comentários feitos nesta prova:

Pai do Medina (treinador do génio do Brasil e do surfista mais promissor da actualidade): “Como é possível transformarem um 10 num 8”, referindo-se ao 8.3

Ross Williams (ex top 44 e um dos maiores entendidos de surf do momento) referindo-se a uma manobra isolada do Jordy contra o Filipe Toledo: “manobra incrível deve ser muito próximo do 8.33 do Toledo”. A nota sai um 4.93.

 

Isto significa algo muito claro nos dias de hoje: o critério de julgamento é subjectivo e tem de se trabalhar no sentido do tornar mais objectivo e entendível por todos.”…critical section, speed, power and flow….” já não é suficiente.

Depois de toda esta polémica e de ouvir algumas opiniões inclusivamente dos melhores surfistas do mundo, a minha sugestão para melhorar o julgamento incide essencialmente em reforçar estas 4 questões na WSL:

1. Tornar o critério de julgamento mais objectivo, utilizando como referência outras modalidades (saltos para a água, ginástica olímpica….whatever);

2. Chefe de juízes eleito pelos melhores juízes e pelo commissioner da WSL (tendo como base competência, credibilidade, confiança dos juízes e próprios surfistas);

3. Utilizar o sistema estatístico das notas da WSL, que é fantástico, permitindo avaliar perfeitamente a performance dos juízes;

4. Como diz o Jordy, e eu subscrevo na íntegra: “a bad result can result in us getting kicked off tour, therefore bad judging should have the same results. There needs to be some sort of accountability for the judges. The judge who’s scores are continually furthest from the average should be kicked off tour at the end of the year” ("um mau resultado pode ter como consequência atirar-nos para fora do tour, por isso, mau julgamento devia ter as mesmas consequências. Tem de existir algum tipo de responsabilização dos juízes. O juiz cujos scores são continuamente aqueles que ficam mais distantes da média deve ser retirado do tour no final do ano").

Depois de uma prova, de certa forma, polémica e de vários sinais que demonstram a falta de entendimento do critério de julgamento, é tempo de analisar e melhorar um circuito que por si só já é de excelência.

Com os bancos incríveis que existem em França aguarda-se uma prova de grande qualidade e a minha aposta neste evento vai para o John John Florence.

 

 

 

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