A guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem causado instabilidade política e económica a nível global desde fevereiro de 2022, mas pode estar próxima do fim. Segundo o jornal ucraniano Strana, um plano de paz promovido por Donald Trump poderá resultar num acordo até 9 de maio de 2025. Se confirmado, este cenário de estabilidade poderá beneficiar diversos mercados, incluindo o do surf, que tem registado um crescimento contínuo.

Rip Curl Surfshop em Bali - Rip Curl Asia

O mercado global do surf em crescimento:

De acordo com o relatório da Travel and Tour World, em 2023, o mercado global de vendas no surf(técnico e vestuário) foi avaliado em 4,2 mil milhões de dólares, com previsões de atingir 5,5 mil milhões até 2030. Já o Turismo de surf de acordo com relatórios confiáveis, como os da Spherical Insights, o mercado global de turismo de surf foi avaliado em 59,38 mil milhões de dólares em 2023, com previsão de alcançar 102,84 mil milhões até 2033, crescendo a uma taxa composta anual (CAGR) de 5,65%.

O Surf nas Praias Urbanas em Portugal tem crescido exponencialmente - Matosinhos - Click por Pedro Pikas Pimenta

Portugal: Um país com ADN oceânico e um destino de surf consolidado:

Portugal continua a destacar-se como um dos destinos de surf mais procurados do mundo. Nos últimos anos, o número de praticantes cresceu exponencialmente, tanto entre residentes como turistas. Actualmente, estima-se que existam mais de 200 mil praticantes de surf em Portugal, sendo que 99% o fazem por lazer.(calculo apoiado no Estudo “Perfil do Surfista 2017, realizado pelo Observatório do Surf (Obsurf).

O impacto do surf na economia portuguesa já ultrapassa os 400 milhões de euros anuais, considerando efeitos diretos e indiretos. (Jornal da Economia do Mar).

João Maria Mendonça numa onda Algarvia - Click por João Brek

Consumo de material tecnico de surf e escoamento de stocks:

A crescente procura por pranchas, fatos e outros equipamentos técnicos de surf durante a pandemia levou fabricantes e distribuidores a aumentarem significativamente a produção. Contudo, 2023 e 2024 não corresponderam aos níveis de consumo dos dois anos anteriores, resultando num excesso de stocks que provocou uma certa estagnação no mercado.

Agora, no inicio de 2025, alguns retalhistas em Portugal têm vindo a notar alguns sinais de recuperação. Parte desses stocks tendo sido escoada nos dois anos anteriores, e com a expectativa de uma economia global mais estável após o fim da guerra, há uma confiança renovada numa retoma sustentável do setor. O mercado interno, impulsionado pela crescente prática do surf entre os portugueses, será tão relevante como o turismo de surf neste processo de recuperação.

58 Surf Ericeira 

Eventos de surf em Portugal e impacto económico:

Eventos internacionais como o MEO Rip Curl Pro Portugal (Peniche) e o Tudor Nazaré Big Wave Challenge são montras do potencial do surf em Portugal. Em 2024, estas competições geraram um impacto económico global de 23 milhões de euros, segundo um estudo realizado pelo ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão:

Peniche – Impacto direto de 16,5 milhões de euros

Nazaré – Impacto direto de 2,5 milhões de euros

Receitas fiscais totais – 6,9 milhões de euros

*Estes números reforçam que o surf não é apenas uma atividade desportiva, mas também um motor económico essencial para várias regiões do país.

As multidões que assistem ao evento do Championship em Portugal - Rip Curl Europe

As regiões com maior consumo no mercado global do surf são:(Business Research Insights):

América do Norte – Detém 40% do mercado (US$ 0,092 mil milhões em 2024). O elevado número de surfistas nos EUA, aliado ao crescimento de piscinas de ondas, faz desta a região mais lucrativa da indústria.

Ásia-Pacífico – Representa 35% do mercado global (US$ 0,081 mil milhões em 2024). O turismo de surf e a crescente classe média em países como Austrália, Japão e Indonésia impulsionam o setor.

Europa – Possui 20% da participação no mercado (US$ 0,046 mil milhões em 2024). Portugal, França e Espanha destacam-se como os principais polos europeus do surf, beneficiando de uma consolidação do desporto  e eventos de classe mundial.

Resto do Mundo – Inclui América do Sul e África, com uma participação combinada de 5%. Mercados emergentes como Brasil e África do Sul têm vindo ganhar relevância.

Estados Unidos, o local onde o mercado do surf é maior e mais popular - Imagem impressionante de um momento durante o US Open.

Tendências e desafios para o futuro:

A indústria do surf está em constante evolução, impulsionada por tecnologia, sustentabilidade e mudanças no comportamento do consumidor. As inovações tecnológicas estão a transformar a prática do surf. Outra grande revolução são as piscinas de ondas artificiais, que estão a expandir-se globalmente e a tornar o surf acessível a regiões sem costa, com exemplos como a maior piscina de ondas do mundo em Abu Dhabi.

A sustentabilidade também se tornou uma prioridade no mercado do surf, com um aumento da procura por pranchas compostas por certos materiais recicláveis e fatos de neoprene ecológico e ou de borracha natural, refletindo a exigência dos consumidores por produtos ambientalmente responsáveis. Apesar deste crescimento, o setor enfrenta desafios como a sazonalidade, a acessibilidade limitada a certas regiões e as preocupações com a segurança dos praticantes. Estes fatores aliados a um mercado de surf wear que precisa de se reinventar, continuarão a influenciar a evolução do surf e a sua Industria nos próximos anos, exigindo inovação e adaptação.

A piscina de ondas de Abu Dhabi

O momento certo para o surf em Portugal:

Com o possível fim da guerra e uma economia global mais estável, Portugal está bem posicionado para consolidar o surf como um dos motores da economia nacional. Se há um momento para reforçar esta aposta, esse momento é agora.

A Nazaré é um fenómeno que atrai pessoas de todo o mundo para assistir às suas ondas.  ( WSL Nazaré Tudo Challenge)