Ethan Ewing Ethan Ewing WSL / Ryder terça-feira, 19 julho 2022 07:42

"O futuro do surf está garantido, mesmo sem JJ e Medina" - Análise de Pedro Barbosa do Corona Open J-Bay

A análise do juiz Internacional Pedro Barbosa.

 

 

 

A qualidade técnica de Ethan Ewing falou mais alto em J-bay - a jovem promessa australiana eleva o patamar do surf de competição para uma nova dimensão!

 

J-Bay: três anos depois da ausência de competições da 1º divisão, voltamos ao melhor point break do mundo. A onda divulgada para o mundo em 1966 pelas lentes de Bruce Brown no icónico Endless Summer ainda hoje faz parte do imaginário de qualquer surfista comum. Mais uma vez esta prova não defraudou e foi claramente a melhor prova do ano em termos de condições, (aleluia)! É também nesta prova que se vê quem é que tem realmente condições para aspirar a um título mundial. Não são todos os surfistas que se conseguem adaptar à velocidade da onda e por vezes a diferença de nível entre os atletas fica demasiado notória.

Na minha opinião o facto mais relevante desta prova foi a forma com o Ethan Ewing surfou as direitas de Jeffey’s, o nível técnico de surf de rail apresentado foi elevado a um outro patamar e isto poderá vir a ter um impacto na forma como este tipo de surf deverá ser valorizado em termos de julgamento. São estas performances que promovem alterações na modalidade e adaptações ao critério de julgamento.

 

Ethan Ewing. WSL / Gysen

 

Acho que esta prova veio mais uma vez demonstrar que o futuro do surf está garantido. Mesmo sem JJ e Medina a prova nada ficou a dever em termos de espetacularidade. Outro facto interessante é que a resposta à armada brasileira, na minha opinião, não vem de um país adversário, mas sim de uma marca, e neste caso refiro-me à Billabong e ao trio de amigos Griffin, Ethan e Seth. Neste grupo parecem estar criadas algumas das condições que normalmente dão origem ao sucesso competitivo e a grandes campeões, entre as quais destaco: nível de dedicação elevado, inclusivamente o investimento no surf em condições de consequência; humildade; constante superação entre eles; e o querer ganhar aos atletas mais cotados do Tour. São características comuns a anteriores gerações de sucesso dais quais se destacam a geração Momentum e a Braziliam storm.

 

 

Griffin Colapinto. WSL / Gysen

 

 

Relativamente à performance dos atletas:

 

Já foi mencionada a performance da Ethan, mas a onda 9.07 surfada na meia-final contra Yago Dora deveria ser vista por qualquer jovem que ambiciona a ser surfista profissional vezes sem conta até dar “cabo da fita”, à semelhança do que se fazia com os vídeos de surf em VHS nos anos 80/90. A ondas de Ethan, como dizia Peter Mel e bem, “ tiveram sempre um extra qualquer coisa, extra extensão, extra velocidade, extra impacto, extra soltar o tail...”! 

Em termos de performance não nos podemos esquecer de mencionar o surf de Yago Dora. Que fluidez, que capacidade de atacar no crítico e de aguentar as secções finais da onda de Jeffrey’s Bay. Yago é uma prova clara do que é que o surf competitivo traz à performance de um atleta. Em alguns momentos questionava-se se não viria a ser mais um free surfer, mas Yago agarrou a competição com unhas e dentes e é neste momento um dos melhores surfistas do tour em qualquer tipo de condições.

Jack Robinson, nº 2 do ranking Mundial, foi o que mais faro teve para os tubos de J-Bay. Consegue encontrar tubos com uma facilidade impressionante, o que, aliado a uma estratégia competitiva irrepreensível, o levou a fazer mais uma final. Mais uma vez se notou em J-Bay, que em termos de manobras de rail ainda está muito longe do Ethan, Kanoa, Jordy e até mesmo Yago. Competição é um misto de talento e estratégia e Jack tem sido um excelente exemplo neste processo e já garantiu a sua presença na final entre os melhores 5 surfistas do mundo!

 

 

 

Yago Dora. WSL / Gysen

 

Entre as mulheres, Steph é a rainha desta onda. Ninguém surfa esta onda de maneira tão harmoniosa, por vezes até fica difícil de comparar com as restantes. Na minha opinião a escala de pontuação é outra, no entanto em determinados momentos da prova a australiana acaba por não conseguir manter a consistência e perder com atletas, na minha opinião, inferiores em termos técnicos. Tatiana acabou por ser uma justa vencedora. Se retirarmos Steph e Carissa, é a surfista que mais condições tem para aspirar a um título mundial. É completa em todo o tipo de condições e sempre que mar o sobe as secções intensas são dela. Parabéns à Tatiana, que junta ao seu currículo umas das provas mais emblemáticas do World Tour.

 

 

 

 

Relativamente ao Julgamento

 

Foi a melhor prova do ano em termos de julgamento. Parece que com o aumento do número de provas os juízes começam a estar mais precisos na avaliação. Não considero que tenha havido nenhum resultado errado e acho que o julgamento nesta prova foi excelente. A questão que deve ser revista é se a diferença de um 8.83 de Jack (onda sem tubos na final) é realmente assim tão próxima de um 9.07 de Jack (meia-final), apesar de heats distintos com condições semelhantes, a qualidade de Ethan é muito, mas muito, superior, e esta reflexão deve ser realizada em termos de julgamento.

 

 

Heats que requerem análise:

Só existe um heat cujo resultado foi muito próximo: a meia-final entre Ethan e Yago, heat extramente difícil de ser analisado. Vamos por partes: o 9.07 de Ethan é uma onda genial, a 3º manobra é a manobra do campeonato e toda a onda foi surfada com um nível técnico noutro patamar - como já disse é ver e rever em câmera lenta. É nesta direção que o surf deve evoluir, obviamente em conjunto com o surf inovador, mas do meu ponto de vista, isto é o que faz falta ao surf neste momento e mais deve ser valorizado. Esta onda poderia ter sido mais alta, tendo em consideração aquilo que se viu ao longo do campeonato.

O 8.7 de Yago também é incrível e poderia ter chegado aos 9. É impressionante a qualidade das manobras sempre no crítico, se o aerial final tivesse sido finalizado numa secção mais intensa poderia ter sido a melhor nota do heat. Relativamente ao back-up, são ondas muito próximas, inclusivamente a última nota de Yago deveria ser mais alta mas basicamente acho que os juízes chegaram ao resultado correto e Ethan foi um justo vencedor, mais pelo fator inovador que o seu surf trouxe neste tipo de condições.

 

 

 

 

Vamos agora para o Tahiti, e estamos a precisar de ondas de consequência para que o surf de competição possa atingir a excelência a que nos habitou no passado e de uma forma mais justa e consensual consigamos chegar aos 5 melhores surfistas do Ano. Na minha opinião o ranking não vai mudar muito. O candidato mais provável à vitória é Jack Robinson mas seria interessante ver o Kanoa a conseguir um bom resultado e um lugar na tão ambicionada final do top 5. Não tendo agora o Kikas no CT, pelo menos que possamos torcer por um surfista que tanto carinho tem por Portugal!

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