O regresso de Medina, o regresso de G-Land, e uma etapa especial no CT 2022 WSL / Ed Sloane quarta-feira, 08 junho 2022 09:31

O regresso de Medina, o regresso de G-Land, e uma etapa especial no CT 2022

O juíz internacional Pedro Barbosa faz uma análise exclusiva à Surftotal da sexta etapa do CT 2022, em G-Land.

 

 

25 anos depois, regressamos a G-Land e voltamos a sentir a grande missão da WSL - os melhores surfistas nas melhores ondas!

 

A prova mais aguardada de sempre volta ao circuito mundial. Que saudades tínhamos nós de ver os surfistas envolvidos naquilo que de melhor o surf tem para oferecer: ondas fora de série em locais remotos onde a natureza ainda se encontra praticamente inexplorada. Apesar da lamentável extinção dos tigres, existe praticamente todo o tipo de animais selvagens neste cantinho, o que só por si já torna este evento especial em termos de aventura.

Faz muita falta a versão dos anos 90 do circuito mundial, mais feeling e um pouco menos de “profissionalismo”. Este ano até houve direito a uma grande festa, entre algumas das personalidades mais emblemáticas do tour, fazendo lembrar aqueles tempos.

Apesar de ser um dos sítios mais consistentes do planeta, G-land não esteve clássico. Quem não gosta de ver uma competição num sítio paradisíaco com esquerdas de 1 metro perfeitas?! Não conheço as estatísticas, mas, pessoalmente, considero que estes são os eventos que tornam o surf num desporto especial. Espero que esta prova se mantenha por muitos e muitos mais anos. Um agradecimento especial à Quiksilver por esta reedição que esperamos se mantenha daqui para a frente. Por vezes esquecemo-nos do contributo que as grandes marcas deram e continuam a dar ao surf mundial.

Como comunidade devíamos continuar a dar a nossa contribuição para que se mantenham sustentáveis por muitos e muitos anos.

 

Italo Ferreira na festa de abertura da prova. WSL / Dunbar 

 

 

Sobre a prova:

 

Medina voltou em grande forma, depois de 6 meses afastado da competição consegue um excelente 3º lugar. É neste momento o melhor surfista em competição do mundo e o Circuito necessita do seu carisma. Curioso para ver a sua prestação nas próximas provas… 

Afectado por uma lesão, John John esteve uma sombra daquilo que tem vindo a fazer este ano - claramente o melhor surfista até ao momento apesar de o ranking não o demonstrar.

Filipe Toledo lidera o ranking mundial. Com estes mares sem condições extremas, é de facto um dos melhores do mundo e a qualidade do seu surf é inegável. Com grandes chances de acabar no TOP 5 mundial, Toledo, aparentemente mais calmo e maduro em competição, pode conseguir o seu primeiro título mundial. 

A grande surpresa tem sido Jack Robinson. Com um surf em mar pequeno que não convence a maioria, consegue mais uma vitória na 1º divisão do surf mundial.

Parece-me uma reflexão importante a fazer: estará o julgamento do surf competitivo a caminhar na direção correta? O que estará a faltar nos critérios de julgamento para que se consiga encontrar o melhor surfista em prova?

 

 

Gabriel Medina. WSL / Sloane

 

 

Sobre julgamento:

 

Pontos positivos

Considero que foi a prova mais bem conseguida do ano, especialmente se considerarmos as duas últimas etapas na perna australiana. Consegui rever-me em grande parte dos resultados. Os juízes fizeram um bom trabalho, ao contrário do que se diz na imprensa especializada.

Parece que é nas fases mais difíceis do evento que a “porca torce a rabo” - veja-se, por exemplo, a meia-final entre Medina e Jack Robinson. Apesar de ser um heat próximo, consigo ver o resultado. Robinson apanhou as melhores ondas e manobrou nas sessões mais críticas. A qualidade das manobras deixa um pouco a desejar; no entanto, acho que foi mais explosivo e apresentou manobras com troca de rail nas secções mais críticas. Medina apanhou sempre as piores ondas e na sua melhor, nas duas primeiras manobras, quando a sessão pede intensidade, Medina fez reentries para chegar à parede. A qualidade das manobras de Medina é claramente superior, mas faltou a intensidade das secções que as ondas de Jack tiveram. Parece-me um resultado correto, apesar de próximo.

 

 

 

 

Pontos a melhorar:

 

Final de Filipe Toledo contra Jack Robinson – Heat mais importante do evento. Resultado próximo, mas neste caso daria a vitória a Toledo. As manobras de Toledo, em termos qualitativos, são mais técnicas, têm mais força, velocidade e fluidez. O 7.83 de Filipe é bem superior ao 7 de Jack, e o 5.33 de Filipe deveria ser muito mais próximo do 6.5 de Jack. Resultados próximos vão ser sempre sujeitos a diferentes interpretações, mas, neste caso, parece-me que o painel não refletiu bem a qualidade de surf apresentado. Se olharmos para as manobras individuais, mas também para a onda no seu conjunto, a forma como Filipe cava os seu bottoms e ataca as secções tem outra qualidade técnica que Jack não consegue alcançar. No entanto, há que dar o benefício da dúvida: em casa parece tudo mais fácil… na prova nem sempre é assim e é nestes resultados próximos que muito erros podem ser cometidos.

 

 

 

 

Entre as mulheres a melhor atleta europeia de todos os tempos volta a fazer história e a ganhar mais um evento. Os anos de treino na esquerda de St Leu, Ilhas da Reunião, têm trazido muitos frutos para a superatleta Johanne Defay. À semelhança do que acontece com o Jack Robinson, não me parece que o seu nível técnico esteja perto das melhores do ranking. Por vezes fico com a sensação de que as suas notas estão altas quando comparamos o nível técnico. No entanto não deixa de ter todo o mérito pela sua tática e consistência nos heats.

 

 

 

Vamos agora para El Salvador e voltamos aos Point breaks de direita. Vai ser a estreia desta onda de classe mundial na 1º divisão, e tenho a sensação de que vai haver espetáculo porque é uma onda que proporciona surf de rail e progressivo em simultâneo. Este dinamismo criado pelos americanos com o corte a meio do ano parece-me muito positivo. O único senão é não termos o nosso grande representante para podermos acompanhar!

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