Frederico Morais Frederico Morais WSL / Hughes terça-feira, 10 maio 2022 09:26

Margaret River dita o adeus do Kikas à elite do surf mundial… Contamos com um rápido regresso!

O juíz internacional Pedro Barbosa faz uma análise exclusiva à Surftotal da última etapa do CT 2022 antes do mid-season cut.

 

 

 

Chegámos assim ao tão aguardado cut a meio do ano, daqui para frente seguem apenas 22 homens e 10 mulheres e vamos partir para a fase mais interessante do tour com G-Land, J-Bay e El Salvador. A prova de Margaret manteve-se no seu estilo habitual, os atletas tiveram de retirar do saco pranchas maiores para ondas mais pesadas, alguns inclusive colocaram pesos metálicos na prancha para dar estabilidade nas volumosas e difíceis ondas de Margaret River. Uma prova que começou por ser o “patinho feio do Tour” vem ano após ano a confirmar-se ser parte integrante do Tour!

Em termos de julgamento acaba por ser uma prova relativamente pacífica, ou diria não tão difícil de avaliar. Com as sessões críticas bastante evidentes no início e final da onda e com um mar pesado, a tarefa dos juízes é facilitada em termos de comparações. No entanto acho que nem tudo correu bem.

Comparativamente à prova de Bells, tenho a sensação que foi uma prova mais bem conseguida. Imagino que tenham feito uma reflexão sobre o trabalho realizado e aparentemente houve uma melhoria na avaliação nesta prova. Os resultados próximos são sempre uma questão difícil de digerir, onde o painel tem que tomar uma decisão e pender para um lado que muitas das vezes não é entendido por atletas, treinadores e público em geral.

 

 

 WSL / Hughes

 

Pontos positivos

 

De uma forma geral os resultados foram corretos. Boa valorização de manobras isoladas no outside, bem como a valorização do surf progressivo na sessão de inside.

Em Margaret começamos a ver os surfistas a fazer aéreos na difícil secção de inside e os juízes a valorizar esse comprometimento na forma inovadora de surfar esta onda.

 

 

Pontos de análise:

Round 16, Heat 5 - Filipe Toledo Contra Nat Young

Resultado muito próximo, com o qual eu não concordo. Na minha opinião a vitória deveria ter ido para o Toledo. O 8 pontos dele tem de ser bem melhor que o segundo 7.83 do Nat! A forma como o Toledo aplica os Carves, a pressão e a ligação que faz entre manobras é muito superior à técnica do Nat que, apesar de uma primeira manobra bem crítica, todo o resto tem quebras e é efetuado sem harmonia e com falhas técnicas. É importante os juízes avaliarem bem se estamos perante surf com o mesmo tipo de qualidade.

 

 

 

 

 

Final: Jack Robinson e John John Florence

Apesar de o JJ não ter um back up, consigo ver o resultado final do heat. Contudo, a separação das ondas também acho que é uma factor a salientar e que deve ser considerado. Qual a diferença entre a melhor onda do JJ e a melhor do Jack, só 23 décimas de diferença? Não me parece. Vamos por partes:

Quantos surfistas no Tour conseguem fazer o layback do JJ? Reparem na velocidade que emprega na primeira manobra - impacto e recuperação sem perda de velocidade para a manobra seguinte.

O Jack parece que vai com duas mudanças abaixo e bem abaixo dos limites de velocidade. São coisas diferentes que devem ser devidamente separadas pela qualidade apresentada.

 

 

 

João e John John dominam na perfomance

 

A performance este ano tem ficado por conta dos “Joões”.

JJ é, em ondas a sério, actualmente o melhor surfista do mundo. Ninguém surfou como ele. A forma como consegue gerar velocidade e gerir as secções desorganizadas de Margaret é algo fora de série. Não sou, como já referi anteriormente, um apreciador do seu estilo mas quando o vemos neste tipo de condições parece que faz parte duma superliga a que só as grandes lendas do desporto pertencem, como o Occy em J-Bay, Curren em Bells Beach e Gerry Lopez em Pipeline. JJ estava noutra escala de pontuação!

 

 

John John Florence. WSL / Hughes

 

Falando ainda de performance, no início do ano, apontei o Samuel Pupo como o potencial Rookie of The Year. No entanto, para minha surpresa, foi o seu grande amigo João Chumbinho que escandalizou o mundo com o surf mais dinâmico e espetacular que vimos nos últimos tempos. Com a abordagem “à la Dane Reynolds” é tudo ou nada, este João surpreendeu tudo e todos.

O tour precisa desta energia, foi uma pena ter saído, mas aquilo que já fez nunca ficará esquecido. Parabéns, João.

 

"Precisamos de um comeback memorável" de Frederico Morais

 

Relativamente a nós, porque falar do Kikas é falar de Portugal: Termina assim a permanência do Kikas na 1º divisão até setembro e é assim que esperamos ver as coisas. O nosso atleta, mesmo quando perde, o que é bastante raro, dá-nos sempre um motivo de orgulho, tem sempre boas prestações, luta de igual para igual e nesta prova não foi diferente. O Tour é difícil, são de facto os melhores do mundo e qualquer um pode cair. Este novo sistema prejudica os atletas que normalmente se encontram depois do TOP 10, que são consistentes, mas raramente conseguem um resultado excepcional. O Kikas continua a ter a consistência e a capacidade de competir. Com estas regras e com muitos talentos a surgir terá de adotar uma estratégia para se adaptar à nova realidade. Precisamos de um “comeback” memorável.

 

 

 Frederico Morais. WSL / Matt Dunbar

 

Entre as mulheres, a excelente Isabella Nichols consegue assim a sua primeira vitória na 1º divisão. Juntamente com a jovem Molly Picklum, parece-me que serão as próximas surfistas a dar dores de cabeça às melhores do ranking.

Seguimos para G-Land, agora com os surfistas já qualificados para 2023. Espero que não tirem o pé do acelerador porque este ano, eventualmente pele corte a meio, as prestações têm estado um nível acima. Vamos embora para a Selva!

 

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