Rip Curl Pro Bells Beach - uma etapa icónica, rookies fora de série, e um julgamento que ficou aquém
O juíz internacional Pedro Barbosa faz uma análise exclusiva à Surftotal da 4ª etapa do CT 2022.
O Evento de surf mais antigo do mundo, desde 1961, volta a ter condições de sonho e confirma a melhor classe de rookies dos últimos anos! Em termos de julgamento, foi talvez a prova menos conseguida dos últimos anos!
Mais uma vez Bells volta a superar as expectativas. Com uma previsão inicial pouco animadora, a prova acabou por se revelar um sucesso - e que saudades já tínhamos de ver um evento nestas condições. Desde Bells, Winkipop até Rincon, vimos surf variado e de alta qualidade.
Será que a polémica alteração de estratégia com o corte a meio do ano está a elevar o nível dos atletas para um outro patamar? Apesar do desagrado dos atletas, algo que a WSL dever ter em consideração, sou da opinião que aumenta a competitividade e obriga os atletas a darem tudo desde o início.
Relativamente ao julgamento:
Pontos positivos
- Boa decisão de alterar a prioridade quando o Jordy Smith, aparentemente sem intenção de apanhar a onda, usa a prioridade para bloquear a entrada do Jackson Baker (Ronda 3, Heat 3). Apesar de ser uma situação de difícil análise, porque afinal de contas do Jordy tinha prioridade, os juízes decidiram bem usando o ponto 11.13 alínea III) que diz:
"Regra de bloqueio: alguém que use a prioridade remando ou apanhando a onda apenas para bloquear o seu oponente, quando o surfista com prioridade parece não ter intenção em pontuar. Nesta situação a prioridade pode ser concedida independentemente de quem chegar primeiro à zona de take off."
Jordy Smith x Jackson Baker (R32, H3)
Em 2019, Jordy já tinha levado Italo Ferreira a cometer uma interferência, mas esta situação estava legitimada pela regra do cruzamento. Este ano, com esta “sacanice”, Jordy entra para a lista dos atletas com um jogo mais duvidoso em competição. No entanto, a regra pode ser mais específica ainda para evitar este tipo de situações.
Pontos negativos
- Heat do Kanoa Igarashi, até então número 1 do ranking Mundial contra o Mick Fanning (Ronda 3, Heat 9). Fiquei com a sensação de que as duas melhores ondas do Kanoa são melhores que as do Mick Fanning. Adoro o surf do Fanning, mas o Kanoa teve mais risco, velocidade e empenho nas manobras. Surfar as secções de Bells com manobras a chutar o tail e laybacks com intensidade deveria ser mais valorizado do que a boa utilização do rail nos Carves do Fanning. Conservadorismo foi mais valorizado que a progressividade.
Kanoa Igarashi x Mick Fanning (R3, H9)
- Heat do Miguel Pupo contra Callum Robson nos quartos de final (Heat 3). Acho que na última onda do Pupo, apesar de pequena, deveria ser o 5.95 que precisava: primeiro reentry com velocidade numa sessão com intensidade, seguida de uma grande manobra cheia de técnica e a finalizar bem. O surf de Callum, apesar de forte nas secções, não consegue os mesmos ângulos e algumas das manobras ainda são feitas com o fundo da prancha, não tendo a mesma técnica de rail dos melhores do mundo. Na minha opinião o Pupo saiu prejudicado.
Miguel Pupo x Callum Robson (Quartos-de-final, H3)
"O que me deixou preocupado foi se o peso do país
teve alguma influência na atribuição dos resultados."
Existiram mais situações dúbias. Acho que o Fanning deveria ter vencido contra o Callum (oitavos-de-final, heat 5), e o Italo contra o Jack Robinson (quartos-de-final, heat 4), entre outras questões. Não é muito relevante a minha opinião, porque de facto estou a ver a prova de casa. No entanto pude observar que alguns juízes da prova tiveram a mesma opinião. Julgar é super complexo, quando os resultados são próximos vão existir sempre duas opiniões, o que é legitimo. Tenho imenso respeito pelo trabalho desta equipa e a WSL pratica sem sombra de dúvidas o melhor julgamento do mundo. Nesta prova o que me deixou preocupado e é necessário fazer uma reflexão profunda, foi se o peso do país teve alguma influência na atribuição dos resultados.
Conheço a imparcialidade da organização. Independentemente da nacionalidade o que se procura são os melhores surfistas nas melhores ondas. Esta ainda continua a ser a visão da WSL, e é importante que o peso das bandeiras não defraude os objectivos daquela que continua a ser a grande entidade que rege o surf mundial.
John John Florence noutro patamar, é o melhor surfista do Tour
Em termos de performance, John John Florence está claramente noutro patamar, é neste momento o melhor surfista do tour e o seu 9.93 (ronda 3, Heat 7) foi talvez a onda mais bem surfada de sempre em Bells. O seu Layback é diferente de todos os outros e é o seu “trademark” para as grandes pontuações. No entanto acabou por perder para o 2º melhor surfista do evento, Flipe Toledo, que apresentou especialmente neste heat um surf fora de série, combinando fortes carves e Laybacks com a velocidade que só ele consegue atingir.
Rip Curl Pro Bells Beach - Melhores ondas
"Com o corte a meio do ano, a exigência é maior,
e os surfistas exigem mais rigor na avaliação."
O Frederico Morais, apesar de surfar bem, não conseguiu ultrapassar o inspirado Callum Robson que escolheu ondas melhores e manobrou em sessões mais críticas. No entanto o nosso compatriota é um verdadeiro guerreiro que nunca nos deixa ficar mal e faz sempre boas pontuações. Com o nível dos rookies deste ano e com a pressão de terminar abaixo da linha de corte é importante concentrar-se na escolha de ondas e melhorar a variedade no reportório.
Entre as mulheres, Tyler Wright regressa às vitórias com uma excelente prestação. Os anos de treinos e eventos nesta onda ajudaram a praticar do melhor surf que se viu no evento, sempre com boas pontuações com excelentes laybacks e carves no Bowl. Consegue assim a sua primeira vitória do ano, e entra na corrida pelo título.
Agora a caravana avança para Margaret River. Relativamente ao julgamento é importante que se tomem algumas ações para evitar que haja tantos resultados próximos e tanta contestação. Com o corte a meio do ano a exigência é maior e os surfistas exigem mais rigor na avaliação.