Análise estatística à decisão do Cut pela WSL
Tempestade “de areia” lá fora!
Por Pedro B. Júdice, Investigador Doutorado no CIDEFES e Professor na Faculdade de Desporto, da Universidade Lusófona.
Esta não é a primeira vez que a tempestade gera reflexões de cariz científico. A WSL decidiu em 2022 colocar a regra do “cut” a meio da temporada, o que significa que quem batalhou incessantemente para obter a sua vaga na principal Liga de Surf do Mundo, tem apenas 5 etapas para provar que merece estar entre os melhores. Esta “nova” regra está a causar alguma discórdia entre os próprios surfistas e hoje trazemos um olhar sobre este aspecto, para tentar perceber se esta regra irá aumentar a justiça desportiva ou não.
Pois bem, uma análise estatística anterior com base em mais de 15 anos de tour, concluía que as etapas que mais determinavam o campeão Mundial, quando vencidas pelo mesmo, eram por ordem decrescente de importância, a etapa inaugural da Gold Coast, seguida pela lendária etapa de Bells beach e em pé de igualdade as etapas de Trestles, Fiji, Pipeline e França. Curiosamente a 6ª etapa era a de Portugal e esta análise revelava ainda, que apesar da sua curta história, a etapa de Margaret River era a que mais determinava o campeão Mundial (67% das vezes).
Frederico Morais no Meo Pro Portugal | Créditos de imagem: Damien Poullenot/World Surf League
O que mudou na logística do Circuito?
A escolha da WSL para o lote das 5 primeiras etapas que determinam a continuidade ou não dos atletas na principal liga de surf recaiu nas etapas de Pipeline e Sunset Beach (Hawai), Peniche (Europa), Bells beach e Margaret River (Australia). Com base nos dados anteriores e tendo por base este critério é possível concluir que a escolha de Bells beach e Margaret River faz todo o sentido. A etapa de Pipeline também (mais não seja pela herança que representa). A estranheza estará por exemplo na inclusão da etapa de Portugal em detrimento da etapa francesa (o que é ótimo para nós portugueses!) e a razão para o Havai ter mais uma etapa logo no início do ano. Mais estranho ainda é o facto da prova francesa já não estar de todo no Championship Tour em 2022, quando era uma das provas que mais determinava o campeão Mundial.
Se olharmos para a escolha da WSL num outro prisma, podemos perceber que para além do “cut”, a escolha das provas inaugurais do tour não parecem estar completamente alinhadas com a representatividade dos atletas. Ora vejamos, em 2022 estão no tour 9 brasileiros (se não contarmos com Medina), 9 australianos, 6 dos EUA, 4 havaianos, 1 português (o nosso Kikas) entre outros com menor representação. As etapas que determinam a continuidade dos atletas no tour são 2 australianas, 2 havaianas e uma em Portugal, sendo que a decisão do título Mundial está remetida para Trestles que é nos EUA.
Será que este “cut” faz sentido? Quem é que sai mais beneficiado com esta escolha? Dá que pensar! Boas ondas!