Ondulação de refração - o que é e como funciona?
O que é a ondulação de refração? Esta análise explica tudo o que tens que saber
*Por Bruno Lampreia
Ondulação de refração - como funciona?
A ondulação gerada ao largo propaga-se livremente pelo oceano enquanto se diferencia gradualmente por períodos até chegar de forma organizada à nossa costa. No entanto, por vezes temos situações em que a ondulação é gerada bastante próxima e o resultado é uma amálgama de períodos e alturas, ou seja, um mar de temporal com uma baixa-pressão bastante próxima.
O que é isto do período de onda e qual a sua influência?
Muitos surfistas associam o período de onda à energia de onda, e bem, pois estão interligados. Mas vamos apenas focar na parte do período, pois abordar esta relação daria origem a um artigo novo. Num movimento ondulatório podemos medir a altura de onda, que vai do fundo do vale (ou depressão) ao topo da crista. Podemos também medir o seu comprimento, aferindo a distância entre duas cristas, ou mesmo entre dois vales. Este comprimento pode também ser medido em unidades de tempo, isto é o tempo em segundos que a ondulação para um determinado local demora entre cristas.
Imagem 1 - corte vertical de ondulação
Imagem 2 - ondulação visível à superfície
Como se pode observar na figura 1 a ondulação produz um movimento circulatório nas moléculas que constituem a água do oceano, que retornam à sua posição de equilíbrio após a passagem do conjunto de ondas. À superfície pode-se observar este fenómeno de uma forma bastante clara (imagem 2), mas é no que não vemos que vamos focar neste momento. Voltando a nossa atenção para a imagem 1 novamente, podemos analisar que em profundidade este movimento circulatório se propaga até metade do comprimento de onda, isto é, se o comprimento de onda for de 50 metros (distancia entre duas cristas), então o nosso movimento de ondulatório vai estender-se até 25 metros de profundidade. Desta forma ficamos agora com a perceção que a ondulação não acontece apenas à superfície, acontece em 3 dimensões.
Daqui podemos facilmente deduzir também que quanto maior o comprimento de onda, ou período, maior a profundidade a que a ondulação se estende. Aplicando esta situação à zona costeira, temos que a ondulação de longo período começa a “sentir” o fundo antes da ondulação de curto período e começam aqui as transformações para a transição para a típica onda que rebenta nas nossas praias.
Imagem 3 - refração de ondulação
Na imagem 3 temos um exemplo onde o ponto de origem da ondulação se encontra bastante perto de terra, uma baixa-pressão ao largo que, neste caso, faz com que a ondulação entre de Este (da direita para a esquerda), em conjunto com o vento também de Este. O resultado na Zona 1 é um estado de mar desordenado cheio de vaga em condições de vento onshore, portanto impróprio para a prática de surf.
Entretanto na Zona 2 dá-se uma seleção da ondulação por períodos, isto é, a ondulação de maior período, sendo também mais profunda, começa a ser afetada pelo atrito com o fundo e logo aí começa a abrandar a sua velocidade, contrariamente ao que acontece ao largo onde flui livremente. O resultado final é que a linha de ondulação começa a desviar-se do seu rumo inicial e contorna a protuberância terrestre ate rebentar na Zona 3 ao longo da Costa. Neste caso, com o vento de Este, temos as condições ideais para um “pointbreak” em condições de onda lisa com side-offshore (imagem 4).
Imagem 4 - zona 3 da Imagem 3/ ondas de refração com vento side-offshore
Já a ondulação de curto período não é afetada pelo fundo, visto que não é tão profunda e continuará o seu rumo sem “dobrar” esta massa de terra. Assim podemos concluir que a refração de onda é seletiva e vai promover a mudança de direção à ondulação de maior período e descartar a de menor período, de certa forma anula-se a “interferência” e resulta numa ondulação limpa.
Em Portugal muitas vezes durante o inverno, temos mar de NW-WNW a entrar com bastante “força” e desordenado, devido a alguma baixa-pressão bastante próxima e o resultado é um conjunto de ondulação de vários valores de alturas e períodos. Isto faz com que a prática do surf nos locais mais expostos a Oeste se torne inviável. No entanto em locais mais abrigados como Carcavelos (entre outros), esta ondulação vai sofrer refração conforme o exemplo dado acima e temos a ondulação de maior período a “dobrar” o Cabo Raso em direção às praias da linha a originar ondas mais organizadas que na Costa Oeste. Aliás, em dias de ondulação grande, se estivermos na praia de Carcavelos a olhar para Sul podemos observar ondulação de menor período a seguir o seu rumo original em direção à Costa da Caparica e muitas vezes a fustigar o Forte de S. Lourenço do Bugio.
Abraços e boas ondas!