Surf Ranch Pro – Análise da prova mais dual do circuito e que separa o trigo do joio
Por Pedro Barbosa...
E não é que o Rei tinha alguma razão!!!
Como excelente analista do surf mundial, há quem diga que se não assumir um cargo na liderança da WSL será com certeza um comentador de excelência para o circuito mundial. As suas previsões acertaram na muche e tivemos o Colapinto a entrar no TOP 5 mundial e o Kanoa a ficar à porta em sexto lugar no ranking. Será que vão chegar a Trestles a tirar o título mundial ao trio brasileiro??? Tenho muitas dúvidas, mas, se há surfistas que estão tecnicamente ao nível dos melhores, são estes dois.
Com as lesões de Jordy e John John e a decisão do Julian Wilson de não estar presente, alegando a situação pandémica, aliada ao facto de não ser um grande fã de eventos em piscinas, a prova acabou por acontecer sem algumas das estrelas do circuito. No entanto acho que a fina flor em termos técnicos esteve presente.
Tenho de confessar que não sou um grande fã deste evento apesar de reconhecer o mérito e a visão do Kelly em criar a onda perfeita. Gosto da imprevisibilidade do oceano e todas as condicionantes associadas a um evento onde é a mãe natureza que dita as regras. No entanto, tenho de reconhecer que esta prova separa bem o trigo do joio e é uma prova dura para quem não está ao nível técnico dos melhores. As diferenças ficam muito mais visíveis e por vezes é constrangedor ver a diferença entre os melhores e os piores. Obviamente que o treino nesta onda difícil ajuda, por sinal 5000 Us Dólares /dia, mas acho que há detalhes técnicos que são difíceis de ultrapassar mesmo com o treino. Quando o comboio arranca todas as debilidades técnicas ficam por demais evidentes ao longo das 15 manobras sucessivas que alguns conseguem realizar.
Neste evento assistimos à excelente homenagem ao “grande” Adriano de Sousa, o capitão da Brazilian Storm, será a sua última corrida no circuito mundial. É um facto que Fábio fabuloso e Teco trouxeram o respeito pelos brasileiros no circuito mundial, mas o Adriano foi realmente o primeiro que chegou com tudo e com capacidade clara para roubar o título mundial aos gringos! Mais uma vez o Adriano mostrou que continua a ser um dos melhores do mundo e na piscina, especialmente de backside, mostrou como se surfa top to bottom com amplitude e explosão e foi um prazer ver a forma como destruiu as difíceis esquerdas do surf ranch! A nova geração ainda tem muito a aprender com este excelente atleta. Parabéns ao Adriano pela sua excelente carreira e pela contribuição que deu ao surf mundial, uma das histórias mais inspiradoras do nosso desporto. Figura carismática, humilde e simpática, campeão mundial, vai ficar para sempre no hall of fame do surf profissional. Well done Mineirinho.
Relativamente à prova em si:
O nosso Kikas esteve mais uma vez muito bem. Volto a destacar a qualidade do seu backside, sempre redondo e próximo do pocket. Apesar de não conseguir chegar à fase final do evento, Kikas continua a mostrar ser um dos atletas mais versáteis e adaptado no tour. A prova no Tahitii vai ser o derradeiro braço de ferro para mostrar se o Kikas melhorou ou não o seu ponto mais frágil, tubos em ondas de consequência. Sobe mais uma posição no ranking e eu diria que muito dificilmente não manterá uma vaga para 2022. Força Kikas, foco e competência fazem parte do seu DNA e continuam a dignificar de forma brilhante a bandeira de Portugal!
É cada vez mais evidente quem serão as ameaças em termos de performance. Do ponto de vista competitivo a distância ainda é muito grande, mas em técnica e performance é muito positivo ver o Yago a ter as melhores ondas do evento, Kanoa, Colapinto e Ethan Ewing a mostrarem ao trio do Brasil que também têm voto na matéria e com esta “americanice” de final a cinco ainda têm algo a dizer.
Yago Dora dominou as esquerdas e para um atleta com o seu porte físico só mesmo com a sua excelente técnica é possível ter tanta fluidez, radicalidade e harmonia numa onda. Vai ser cada vez mais uma referência nas esquerdas e vai obrigar os principais nomes a elevarem o nível.
Filipe Toledo foi um justo vencedor, na piscina de ondas e especialmente para a direita ninguém manobra com tanta velocidade e radicalidade. O único que se aproxima é o Kanoa Igarashi, o facto de usarem o mesmo shaper, Marcio Zouvi, por sinal também do Brasil, pode estar a contribuir para o sucesso destes 2 atletas nas ondas de água doce.
Nas meninas, gostaria de salientar que a competitividade é muito mais aguerrida e a alternância de atletas que ganham eventos é muito maior. A melhor europeia de sempre, Johanne Defay, volta a ganhar um evento e honra todo o investimento que o seu compatriota Jeremy Flores fez numa altura em que ninguém acreditava nela e não tinha o suporte financeiro para correr o circuito mundial. Bravo Johanne!!
Em termos de julgamento factos a salientar:
Embora Johanne tenha ganho, as ondas da Carissa pareciam-me estar noutra zona da escala e o painel nem sempre conseguiu fazer a correta separação. Um 8 da Johanne parece-me bem longe dum 8 da Carissa. Em termos de fluidez, power e nível técnico a Carissa parecia estar uns furos à frente.
Também achei que ao Toledo para a esquerda faltava power, no entanto os juízes continuavam a recompensar com notas altas. Tal como o Yago, neste caso mais na piscina, notei uma diferença grande do surf nas direitas para o surf que fez nas esquerdas. Neste campo parece-me que o Medina foi o atleta mais completo, no entanto na final cometeu erros que comprometeram o resultado.
Com tudo em aberto, vamos ter duas provas importantes na definição do TOP 5 para Trestles
Próxima etapa, 15 anos depois a WSL volta a organizar um evento na fantástica onda de Barra de La Cruz, México. Este point break de direita é uma onda de sonho. No seu ano de estreia foi considerada a melhor prova do ano e ainda hoje temos memórias fantásticas do evento, como a excelente vitória de Andy Irons . A onda que Andy Irons considerava uma mistura de Teahupoo para a direita e Kirra vai ser uma das grandes sensações deste ano e a expectativa é alta no regresso das ondas de qualidade que o circuito mundial necessita.