No World Tour não vence quem mais ganha
História comprova que é a regularidade de resultados que assegura os títulos…
Vamos por partes. Se os nossos leitores se recordam, a World Surf League alterou a premiação do circuito mundial no final da temporada passada, passando os surfistas da elite a usufruir de um prize money total por etapa de 607.800 USD (o equivalente a 535 mil Euros) em vez dos habituais 579.000 USD.
Com esta medida a atribuição dos pontos por etapa também sofreu uma ligeira alteração por ordem de classificação de cada atleta. Ou seja, o vencedor continuou a receber 10 mil pontos para juntar às contas do ranking, mas o fosso para a concorrência disparou.
Acontece que, a partir de 2018, o segundo lugar passou a receber 7800 pontos (antes recebia 8000 pts), o terceiro 6085 (antes recebia 6500 pts), o quinto 4675 (antes recebia 5200 pts) e assim sucessivamente. Todos os lugares abaixo do primeiro passaram a receber menos pontos.
A medida da WSL deve ser aplaudida, pois visa, claramente, premiar quem vence. O surfista mais espetacular, por norma, é aquele que alcança o topo do pódio (okay, em teoria). Por esse motivo, deve ser recompensado de forma mais expressiva (leia-se, com + prémios + pontos) de forma a subir no ranking e poder aspirar a vencer o circuito. Muito bem.
Ora, acontece que no World Tour não vence quem mais ganha. Só isso pode explicar o facto de Italo Ferreira, que venceu incrivelmente 3 etapas este ano, não estar em primeiro lugar do ranking. E, pior, nem estar contemplado na corrida pelo título mundial quando já só falta realizar a etapa havaiana de Sua Majestade Banzai Pipeline.
Aliás, basta analisar os últimos anos do WCT para darmos conta que é o surfista mais regular, não o que mais vence, quem acaba por no final levantar a taça de campeão mundial. A exceção só aconteceu uma vez, em 2014.
Vejamos:
2017 - John John Florence foi o campeão e venceu 1 campeonato, mas foram Filipe Toledo e Gabriel Medina quem mais venceram na temporada (2x cada);
2016 - John John Florence foi o campeão e venceu 2 campeonatos, a par de Matt Wilkinson que também venceu 2x terminando o ano em 5.º lugar;
2015 - Adriano de Souza foi o campeão e venceu 2 campeonatos, mas foi Filipe Toledo quem mais venceu na temporada (3x) terminando o ano em 4.º lugar;
2014 - Gabriel Medina foi o campeão e destronou a concorrência ao vencer 3 campeonatos;
2013 - Mick Fanning foi o campeão e venceu 1 campeonato, mas foi Kelly Slater quem mais venceu na temporada (3x) terminando o ano em 2.º lugar;
2012 - Joel Parkinson foi o campeão e venceu 1 campeonato, mas foi Kelly Slater quem mais voltou a vencer (3x), terminando o ano novamente em 2.º lugar.
Em suma, a medida da WSL é boa e deve ser incentivada, mas na prática não está a surtir efeito.
Alternativas? Aumentar ainda mais o fosso pontual?
--
AF