Jeremy Flores: “Foi o homem que criou um verdadeiro parque para os tubarões” WSL terça-feira, 14 abril 2015 09:10

Jeremy Flores: “Foi o homem que criou um verdadeiro parque para os tubarões”

Surfista explica o estado de coisas nas Ilhas Reunião, depois da morte do jovem surfista de 13 anos, vítima de um ataque de tubarão.

 

 

Nascido e criado nas Ilhas Reunião, Jeremy Flores conhece como ninguém aquela realidade e está demasiado habituado a perder pessoas pelo mesmo motivo nas Ilhas Reunião: tubarões. Ainda assim o surfista do Tour não apoia a matança dos animais, e explica o que na sua opinião foi mal feito e deveria ser corrigido, em entrevista ao site Surf Transworld.

 

Jeremy começou por explicar como esta situação - a morte do jovem Elio Canestri - lhe traz muitas (más) memórias. “É pesado. Já perdi muitos amigos; é um tópico emotivo para mim. O governo francês não quer saber, os políticos idiotas riem-se desta situação. Imaginem as famílias das vítimas.”

 

Sobre a pressão que se sente no lineup quando Jeremy vai a casa. “É a primeira vez que que sinto este pressão no lineup. É triste ver as praias fechadas e vazias, até Boucan-Canot, onde aprendi a fazer surf. Nem conseguem imaginar quantos spots estão sem ninguém a surfar. Enquanto surfistas sabemos que há agora mais tubarões do que nunca nas Ilhas Reunião. Os pescadores confirmam isso mesmo.”

 

Jeremy relata que tanto ele como surfistas mais antigos “nunca viram um tubarão tigre ou touro. Apenas alguns tubarões mais pequenos nos recifes de coral - que são importantes para o ecossistema. Também os pescadores te dirão que era raro ver tubarões de maiores dimensões perto da costa - estavam mais no lado este da ilha. No lado oeste, devido à presença de caçadores e pescadores, havia um bom balanço no ecossistema. Todos tinham lugar: humanos, tubarões e vida marítima.”

 

Sobre a possibilidade de matar tubarões em série, Jeremy afirmou: “Quem falou em matar os tubarões todos? Falamos em regulamentação. Todos sabemos porque há este problema na ilha. Em 2004, os cientistas quiseram fazer uma reserva marinha. Podia ter sido uma boa ideia, mas foi muito mal gerida. Com a reserva, toda a gente sabia que a população de tubarões ia crescer. Também se sabia que criar a reserva em frente à praia mais popular da ilha era uma má ideia. Podiam ter feito a reserva no sul ou a este, onde não há praias. E como se isto não bastasse, ainda criaram viveiros de peixe perto da praia.  (…) Foi o homem a criar um verdadeiro parque para os tubarões. Onde estão os tubarões do recife? Foram rejeitados ou devorados. As pessoas que trabalham no mar confirmam que os tubarões touro estão agora instalados perto da costa.”

 

“Eu sei que milhões de tubarões são chacinados por causa das barbatanas, e isso choca-me tanto como a matança de baleias”, adiantou. A solução, essa, podia passar por “mover os viveiros para outro local e encerrar algumas áreas da reserva marinha, em particular em frente às aldeias. O fecho destas áreas vai permitir o regresso dos humanos, mas claro que precisaremos de um controlo adequado, para evitar caça furtiva. Estas soluções ‘low cost’ trarão mais equilíbrio, sem ser necessário matar os tubarões todos”.

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