Primeiro surfista português no Havai foi George Cunha
Português foi companheiro e amigo pessoal de Duke Kahanamoku...
Numa peça recente publicada pelo Tribuna Expresso, ficámos a saber que George Cunha, filho de açorianos nascido em Honolulu, atleta de natação assinalável, companheiro e amigo de Duke Kahanamoku, foi um dos primeiros surfistas da era moderna do surf e muito provavelmente o primeiro surfista português no Havai.
Em 1794 já havia portugueses no Havai, resultado das escalas das rotas baleeiras, mas foi a partir de 1830 que chegaram com mais frequência, principalmente vindos dos Açores, da Madeira e alguns de Cabo Verde. Em 1910, cerca de 23 mil portugueses residiam no arquipélago havaiano, quase 13% da população. Foram eles que trouxeram o cavaquinho, rapidamente rebatizado de ukulele, um ícone da música havaiana.
De acordo com a peça, George Cunha descende daquela que é, com muita probabilidade, a primeira portuguesa no Havai: Maria Laureana Gonçalves, da ilha do Pico, que chegou a Honolulu em 1864. Uma das suas filhas, Zaida, foi a mãe de George, nascido a 8 de dezembro de 1894, o terceiro mais novo de cinco rapazes e uma rapariga. O pai, outro açoriano, chamava-se Francisco Cunha.
Com o mar à sua frente, os rapazes Cunha não hesitaram em tomá-lo. Típico. Depois deu-se o rumo normal das coisas com o surf a desenvolver-se de forma consistente em torno do Hui Nalu Club de Honolulu, um dos vários na cidade, posto de pé em 1911 por nadadores e surfistas. Entre os cofundadores encontrava-se Duke Kahanamoku, que muitos referem ser o progenitor do surf moderno.
No entanto, é de frisar que naquela época o prestígio dos atletas de clubes como o Hui Nalu vinha da natação. Em 1907, quatro dos Cunhas — o “famoso quarteto” Lawrence, Allan, George e Frank, como eram referidos pela imprensa — eram membros do Healani Club.
- A equipa de natação do Healani Club em 1917 com George e Lawrence Cunha em primeiro plano (sentados). Foto: Healani Canoe Club
Duke Kahanamoku e George Cunha, juntamente com o agente Francis Evans, embarcaram numa digressão pela Austrália e Nova Zelândia. Estávamos em dezembro de 1914 e o propósito era uma série de eventos de natação em nove cidades. Foram recebidos com pompa e circunstância, como se fossem estrelas de cinema ou tivessem superpoderes, instalados no impressionante hotel The Australia e recebidos pelo governador-geral do país, Sir Ronald Munro-Ferguson, um escocês.
Os feitos e a habilidade dos nadadores, a maior parte das vezes em piscinas de água salgada, excitaram o público, não menos do que o surf que contou com duas demonstrações registadas em Freshwater, Nova Gales do Sul. No entanto, a prática já existia no país há pelo menos cinco anos.
O mesmo não se pode dizer da Nova Zelândia que viu a dupla introduzir o surf naquele país em fevereiro de 1915. Foi na Baía de Lyall que tudo aconteceu e até hoje existem placas e homenagens que celebram o Duke e a chegada do surf ao país. Porém, o recatado e discreto George Cunha ficou na sombra.
A 3 de setembro de 1969, com 74 anos, George Cunha morreu em Filadélfia. Na altura foi relembrado com um dos pares “de natação da estrela olímpica Duke Kahanamoku”.
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