O caso Jean da Silva e o tabu da depressão no Surf
Quando a morte e surf parecem não combinar…
A recente morte de Jean da Silva levantou um mar de dúvidas e comentários pelos quatro cantos do globo. O surfista profissional brasileiro, de 32 anos, foi encontrado morto na passada sexta-feira em casa dos seus pais.
Agora sabe-se (confirmado em vários meios) que Jean da Silva cometeu suicídio, consequência de uma depressão profunda que o vinha a condicionar, a atormentar, desde há algum tempo. Por si só, o tema suicídio é quase tabu no surf, pois, na verdade, é difícil associar algo que dá tanto prazer e gera tanta energia ao conceito generalizado de morte.
A comunidade do surf não quis aceitar a fatalidade e entrou em choque. Se a causa de morte de Jean tivesse sido outra, muito provavelmente já ninguém estaria a falar do caso, ou seria mais fácil de esquecer, mas… depressão? Suicídio?
Supostamente, pelo que já foi dito, os surfistas não deveriam sofrer de depressão… se pensarmos que o surf, por seu lado, é uma das atividades que pode, precisamente, ajudar a combater a doença.
Ora, acontece que a depressão, de acordo com os dados revelados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é uma doença muito grave e silenciosa que afeta mais de 300 milhões de pessoas (quase 4,5% da população global). No campo do suicídio é mesmo a principal causa de morte, refere a OMS.
Ao longo dos anos vários surfistas viram-se confrontados com a doença, recentemente vimos até os casos do free surfer australiano Tyson Williams e do norte-americano David Wood, chefe de segurança da WSL; que a ela sucumbiram cometendo suicídio.
A doença pode atingir qualquer pessoa de qualquer faixa etária e, mesmo após ter sido diagnosticada, é questionada, muitas vezes não é aceite e acaba por ser incompreendida. Aparentemente, Jean da Silva não dava sinais de depressão, mas muitas vezes são os próprios doentes que “escondem” a doença, fazendo parecer que está tudo bem… quando não está.
Os sintomas da depressão variam de um indivíduo para outro e por norma assentam em:
- Angústia e tristeza;
- Fadiga, cansaço e perda de energia;
- Sentimentos de inutilidade, de falta de confiança e de auto-estima;
- Sentimentos de culpa e sentimento de incapacidade;
- Falta ou excesso de apetite;
- Alteração de peso não intencional;
- Perturbação do sono;
- Falta ou alterações na concentração;
- Preocupações recorrentes;
- Desinteresse, apatia e tristeza;
- Diminuição do desejo sexual;
- Irritabilidade;
- Manifestação de sintomas físicos, como dores musculares, dores abdominais, entre outros.
Caso seja identificado algum sintoma, é necessário procurar ajuda profissional (psicólogo ou psiquiatra) de forma a elaborar um diagnóstico, identificar o grau da doença e definir o tratamento adequado.
* Atualmente, 1 em cada 16 jovens australianos (16-24 anos) sofre de depressão. O suicídio é a maior causa de morte na Austrália, superando até os acidentes de viação. 324 jovens australianos (15-24 anos) suicidaram-se em 2012. Todos os anos, cerca de 1 milhão de australianos sofre de depressão e 2 milhões de ansiedade. Dados fornecidos pela organização Beyond Blue.
** Casos de depressão aumentaram 18% na última década. A depressão é a principal causa de mortes por suicídio no mundo. São cerca de 800 mil casos por ano. Estima-se que a cada 100 pessoas com depressão, 15 colocam um fim à própria vida. O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Dados fornecidos pela Organização Mundial de Saúde.