Frederico Morais a destruir nos Coxos este inverno. Frederico Morais a destruir nos Coxos este inverno. Foto: César Lopes segunda-feira, 30 janeiro 2017 12:55

ONDÓGRAFO: KIKAS NÃO KAI 

Um artigo de opinião assinado por João Capucho que nos fala dos factos e o que joga a favor do segundo português no World Tour… 

 

Em meados de outubro do ano passado, no casamento de um amigo comum - por sinal até pai de um talentoso jovem surfista - fiquei na mesma mesa do Tomás Morais, antigo selecionador nacional de rugby e tio do Frederico Morais. Naquele dia, Kikas tinha acabado de ficar no 5.º lugar de um WQS de 3000 pontos na Costa Rica e a possibilidade de qualificação para o WCT de 2017 era algo em que talvez só o próprio acreditasse, ainda que matematicamente tudo fosse ainda possível. 

 

De facto, com aquele resultado, Frederico não constava ainda dos 30 primeiros do ranking do WQS, mas havia um pequeno sinal estatístico que poucos atentaram e que acabaria por ser determinante na brilhante qualificação do mesmo: àquela data, Kikas tinha o 6.º melhor Heat Score do WQS, com uma média de 13,34 pontos por heat!!!

 

"Nem contes isso ao meu irmão (Nuno, pai do Frederico) que ele fica doido" (risos), disse-me com ironia o Tomás, na mesma altura em que, no palco do casamento, o noivo e os filhos tocavam e cantavam juntos o Keep on Rocking On a Free World, um clássico de Neil Young.

 

O surf é de facto subjetivo, mas ter o 6.º melhor heat score do WQS e ser, ao mesmo tempo, o 34.º classificado do ranking era uma mera "disfunção" estatística: ou Frederico tinha tido muito azar perdendo heats onde todos foram muito bons, ou tinha, à data, poucos WQS disputados. Ou então ambos. Dividindo 13,34 por 2 temos uma média de 6,67 pontos por onda, significando pois que, em média, todas as ondas do Kikas no WQS até ao inicio de outubro foram consideradas "Boas". E foram. O grande segredo do Frederico Morais não é a imprevisibilidade de Medina, Toledo ou Kolohe, mas antes a firmeza de Parkinson, Fanning ou Smith. Kikas não cai. Kikas não treme. Simples. Depois foi o que todos vimos: 5.º no Hang Loose Pro, 2.º em Haleiwa, 2.º em Sunset Beach e, pela segunda vez na história do Surf em Portugal, tinhamos um Português na elite mundial da modalidade.

 

Consumado o brilhante facto, como serão as campanhas de Kikas no WCT e qual é o impacto da sua qualificação para o Surf em Portugal? 

Como mero espetador, parece-me que o surf de frontside do Frederico é, à data, aparentemente mais forte e competitivo do que aquele que apresenta de costas para a onda. Ou seja, venham as direitas. E vêm. Das 11 provas do WCT de 2017, no mínimo 4 são garantidamente para a direita (Gold Coast, Bells Beach, J-Bay e Trestles), 2 podem dar para a direita (Margaret River e Pipeline) e 3 são aleatórios beach breaks (Rio, França e Portugal). Esquerdas puras, sobram duas (Fiji e Teahupoo). E mais uma vez a estatística está com o Kikas; desde 1983, ano de estreia da ASP, apenas por 9 vezes um goofy foi campeão do mundo. E nos últimos 10 anos, apenas uma vez: Gabriel Medina em 2014. Mantendo a consistência nas direitas e o sangue frio a jogar em casa (Peniche), não me surpreenderia de ver o Frederico terminar nos 10 primeiros e, inclusivamente, ganhar uma prova. É uma fasquia alta, mas todos torceremos para isto.

 

A qualificação de Kikas para o WCT terá também um enorme impacto no surf em Portugal. Desde logo no evento de Peniche que, na edição de 2016, terá tido nas finais, a avaliar pelas panorâmicas via TV, muito menos espetadores in loco do que nos anos anteriores, mesmo naqueles anos onde as ondas estavam piores e o sudoeste mais forte. Depois, no valor dos direitos de TV da WSL em Portugal. Acompanhei grande parte das transmissões do WCT 2016 na SportTV3 e facilmente se constatava que os intervalos para publicidade eram maioritariamente ocupados por autopromoção. Com Kikas no WCT, Peniche terá mais espetadores e a Sport TV - ou outro canal que garanta os direitos da WSL - mais publicidade. Mas há mais: Kikas será ídolo de um número crescente de miúdos que, depois da epopeia do Tiago Pires - muito bem documentada no seu imperdível filme biográfico -; acreditarão ser possível apresentar aos pais o sonho de serem surfistas profissionais (e não o contrário).

 

Go Kikas!

 

   Opinião: João Capucho 

 

 

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