DAVID RAIMUNDO: “O TRABALHO DESENVOLVIDO PELOS TREINADORES É A CHAVE DO SUCESSO"

O Selecionador Nacional de Surf falou em exclusivo sobre a prestação da equipa júnior na Califórnia…

 

Foi em outubro que a Seleção Nacional de Surf Júnior participou no Vissla ISA World Junior Surfing Championship, na Califórnia, e regressou com um excelente sexto lugar na bagagem. Nas contas finais, a seleção das quinas ficou mesmo à frente de grandes nações do surf como, por exemplo, a África do Sul, o Brasil, Porto Rico e o Taiti. No entanto, também alcançou um presença histórica na final da divisão Sub-16 feminina. Sobre o desempenho geral da equipa e os resultados alcançados, aproveitámos este início de semana de novembro para falar com o Selecionador Nacional de Surf, David Raimundo.

 

Um sexto lugar no Mundial de Juniores da Califórnia. A nós parece-nos ótimo, mas será que esse foi realmente o objetivo da equipa técnica? Ou a fasquia que a comitiva levava na bagagem era inicialmente mais alta?

O primeiro e principal objetivo desta participação na Califórnia era efetivamente melhorar o resultado obtido o ano passado no Equador, que tinha sido o 9º lugar. Percebo que muitas pessoas ficaram entusiasmadas com o título de vice-campeões do mundo no Open este ano (conseguido na Nicarágua), mas não podemos estar a misturar os objetivos da equipa júnior com os da equipa Open. Por isso, como é óbvio, termos terminado no 6º lugar e à frente de seleções como o Brasil, África do Sul e Peru (que já foram campeões do mundo), acabou por ser excelente. Foi a melhor classificação de sempre de Portugal em provas do ISA World Junior Surfing Championship e isso deixou-nos satisfeitos.

 

A nível individual, Teresa Bonvalot foi seguramente o maior destaque da armada portuguesa uma vez que alcançou a finalíssima da divisão Sub-16. Conhecendo bem o surf e talento desta surfista, até onde te parece que pode ela chegar?

A Teresa foi, sem dúvida, a atleta mais falada da seleção. Antes da prova, até fui criticado por alguns ilustres do mundo do surf por a mesma ir participar em duas categorias. Contudo, nestas provas o objetivo principal é a equipa, e não o atleta. Como tal, a Teresa era a melhor sub-18 e a melhor sub-16 disponível para Portugal atingir os seus objetivos. Foi uma aposta ganha e a Teresa fez as duas melhores classificações de sempre do surf feminino nestas provas, igualando o seu 6º lugar do Equador. E os objetivos para ela nesta prova, eram altos! Chegar às duas finais era o definido antes de começar o campeonato. E esse objetivo teria sido alcançado se não lhe tivessem “tirado” a merecida presença na grande final dos sub-18. Não gosto muito de falar de notas justas ou injustas, mas para mim ela merecia ter passado aquele heat. Não passou e para o ano, nos Açores, caso esteja presente, sei que vai dar uma resposta à altura. Tem potencial para ser campeã do mundo ISA e chegar ao World Tour. Ainda tem um longo caminho pela frente, mas sabe o que precisa fazer. 

Em todo o caso, o 6º lugar não se deveu apenas à Teresa. Todos os elementos da Seleção estiveram a um bom nível e sem eles esta classificação nunca teria sido possível! Tivemos atletas lusos a vencer grandes nomes do surf mundial júnior. Penso que estamos no bom caminho.

 

 

A nível coletivo quais dirias que foram os pontos fortes desta equipa de juniores? 

Sem dúvida, o nosso maior ponto forte foi o espírito de grupo e de união! Fomos uma família do primeiro ao último dia! Estávamos ali por Portugal! Outro ponto forte foram as rotinas de trabalho implementadas no primeiro dia e que foram adotadas até ao fim da prova. O facto de estarmos num hotel com condições excelentes, situado a um minuto da praia, foi também uma mais-valia para todos os atletas. Este conforto foi todo possível graças ao esforço do nosso presidente, João Aranha, e da sua direção.

 

E os pontos fracos?

O grande ponto fraco foi não termos conseguido ao longo de toda a prova ter apanhado as melhores ondas nos heats. E aqui quero frisar bem, que não foi falta de sorte na maior parte das vezes. Falhámos nesta parte e temos que corrigir isso para sermos mais fortes no futuro. Os nossos adversários conseguiam quase sempre apanhar ondas bem melhores do que as nossas. Em competição ao mais alto nível isto não pode acontecer. O aspeto positivo é que este ponto está bem identificado e a partir de agora vamos ter tempo para colocar em prática algumas estratégias para que no próximo campeonato possamos estar com este problema resolvido. 

 

Uma seleção que te tenha surpreendido pela positiva?

Sem dúvida, a grande surpresa para a maior parte das pessoas foi o Japão que finalizou em 5º lugar. Para mim não foi surpresa, mas antes uma confirmação daquilo que tenho observado nos últimos quatro anos no meio do surf. São uma equipa exemplar. Concentrados desde o primeiro ao último dia, com boas rotinas, sempre hidratados e à sombra, e com um espírito de grupo enorme. São dos surfistas com melhor técnica a nível mundial. Também surfam com muita velocidade. Falta-lhes apenas mais power nas manobras para darem o próximo passo. Não foi por acaso que o Hiroto Ohara venceu o QS10000 de Huntington Beach! No entanto, é preciso atenção com os surfistas da América do Sul! Estão a crescer muito depressa!

 

O que é preciso para fazer parte da Seleção Nacional Júnior?

Desde que iniciei este projeto na FPS que criámos o conceito de equipa nacional. Esta equipa é o conjunto de atletas que ao longo do ano vão participar nos trabalhos de seleção para os vários campeonatos em que participamos. Depois, apenas alguns são selecionados para representar Portugal. Para entrarem neste equipa existem critérios objetivos, com base na prestação desportiva dos atletas, no ano anterior. Mesmo aqueles atletas que não iniciem o ano na equipa nacional, se ao longo da época desportiva forem tendo resultados de expressão e qualidade, podem integrar os trabalhos durante o ano. Este ano tivemos três casos desses: a Mafalda Lopes, o Vasco Diniz e o Tomás Ribeiro.

 

Num futuro próximo, parece-te que um título mundial para a Seleção Nacional Júnior é perfeitamente alcançável?

Acho que, neste momento, ainda estamos longe de podermos lutar por um título mundial júnior. Temos que ser realistas, mas também temos que ter a ambição para lá chegarmos. Existe muito trabalho pela frente, mas é possível! Eu ambiciono sempre o lugar mais alto no desporto. E estou disposto para que num futuro próximo isso possa ser uma realidade.

 

Temos aí uma geração de novos surfistas a surgir com tudo. Por um lado, como analisas o fenómeno de haver tantos jovens na nossa costa, cada vez mais novos, a praticar surf? Por outro, que conselhos deixarias nesta primeira fase? 

O surf teve uma explosão muito grande há alguns anos. Inicialmente era apenas uma moda, mas hoje em dia é um desporto adorado por todo o tipo de idades e classes sociais. Existem vários fatores que contribuíram para isto. Na minha opinião, o trabalho de qualidade e de continuidade que tem sido desenvolvido por vários treinadores com esses surfistas é a chave dos seus sucessos. 

Respondendo à segunda parte da questão, o meu principal conselho para quem se inicia no surf é que procure uma escola credenciada pela Federação Portuguesa de Surf e que siga as regras de segurança que lhes vão ser transmitidas. No desporto como na vida, o sucesso só é alcançado com muito trabalho e dedicação. Por isso, nunca desistam dos vossos sonhos! Mesmo quando já mais ninguém acredita, continuem a trabalhar e acreditem sempre que é possível.

 

Qual o desafio que se segue?

O próximo desafio ainda não está marcado, pois ainda não temos o calendário de 2016 definido. Porém, já fizemos o balanço deste ano e já estamos a preparar o trabalho a ser desenvolvido pela equipa nacional de surf júnior e open para o próximo ano. Portanto, fiquem atentos porque em breve vamos ter novidades.

 

Última palavra?

Gostava de agradecer a todos os atletas que trabalharam comigo durante este ano, pois sem o seu empenho e dedicação nada disto teria sido possível. Uma palavra especial para a equipa técnica (Fidji, Saldanha e Lança), ao Miguel Moreira, ao Presidente João Aranha e à restante direção da FPS pelo apoio, dedicação e profissionalismo.

 

--

Entrevista: AF // Fotografia: FPS - Federação Portuguesa de Surf

 

 

Itens relacionados

Perfil em destaque

Scroll To Top