ASSOCIAÇÃO CORRE ATRÁS DE UM SONHO E AJUDA CRIANÇAS DA FAVELA

Cerca de quarenta crianças têm aulas de surf.

Texto: Patrícia Tadeia
Fotos: Nando Dias

No ano passado, estes miúdos tiveram uma visita muito especial: a do campeão mundial de 2012 Joel Parkinson. Foi uma quarta feira (15 de maio) muito diferente. Com o australiano, seguiam ainda Mark Occhilupo,Jack Freestone e toda a equipa da Billabong. Mas há mais. Também já Julian Wilson, Matt Wilkinson ou Garrett McNamara se uniram a este projeto.

Mas afinal quem recebeu estas ilustres visitas? A Associação de Surf da Rocinha e todas as crianças e jovens da favela do Rio de Janeiro que lhe têm dado nomeO projeto nasceu quando um grupo de 11 moradores, amantes e praticantes o surf, se juntaram para promover a modalidade. A SurfTotal quis saber mais sobre a associação e falou com o presidente da ASR Marcio Perreira e com o diretor Técnino e fotógrafo Nando Dias. No final de contas, dá ou não vontade de ajudar estas crianças e agradecer, todos os dias, a quem criou o projeto? Obrigada!

 

Como e quando nasceu a associação?
A ASR (Associação de Surf da Rocinha ) foi fundada em maio de 2013. Nasceu pela falta de oportunidade que alguns surfistas locais estavam encontrando, para fazer com que o surf voltasse a ser respeitado como um desporto que sempre fez parte do cenário da praia de São Conrado (Cantão). O surf local estava esquecido, não tinha oportunidades em eventos, campeonatos, acesso as informações do mundo do surf. Enfim, perdemos visibilidade local e espaço na praia.


Em que consiste o projeto?
Na nossa sede montámos uma estrutura para receber os alunos. Temos roupas de borracha para as crianças, fazemos empréstimo de pranchas, além de uma oficina para arranjo de pranchas. A ASR funciona recebendo doações, fazendo parcerias e dando aulas particulares de surf, além da organização de campeonatos e diversas atividades culturais. Temos um projeto, o "Cantão em Ação", que trabalha a consciencialização ambiental nas areias da praia, através da coleta de lixo, e de palestras educativas.


Quais os objetivos da associação?
Formar cidadãos através da prática do desporto coletivo, ensinar conceitos sobre qualidade de vida saudável, inserir os jovens menos favorecidos na sociedade dando a oportunidade para que desenvolvam seus potenciais.

Sei que todos os professores são voluntários. Quantos trabalham aí e quantas crianças vocês apoiam?
Somos 11 trabalhando na associação. Temos 40 crianças divididas em dois turnos de aulas práticas duas vezes por semana. Além das aulas, temos mais de 100 jovens que diariamente frequentam o projeto. Somos um coletivo de qualidade, todos atrás de um sonho, amamos o que fazemos.

Vocês sentem que falta incentivo ao desporto?
Sim. Percebemos que o desporto vem crescendo nos últimos anos, muito por causa de alguns atletas que vem se destacam no circuito mundial. Mas ainda é um desporto com muito pouco incentivo. Por quê? Acho que pelo surf ter um estilo de vida mais ao ar livre, com uma prática na praia, as pessoas acabam tendo uma visão ainda preconceituosa do desporto.


Qual é a reação das crianças na primeira aula de surf?
As crianças ficam entusiasmadas e completamente envolvidas com o desafio de aprender a surfar. Aos poucos vão ganhando confiança e desenvolvendo o espírito coletivo do surf.


Em que é que o surf pode ajudar no desenvolvimento cívico das crianças?
O surf ensina o jovem a ter disciplina e comprometimento com as regras que o desporto impõe. Desde o horário a ser cumprido, até à responsabilidade de cuidar do seu equipamento. Esse comportamento reflete-se na vida desse jovem, que passa a ter outra visão do seu papel na sociedade. Ele se comporta como cidadão a aprende a exigir seus direitos.

Muda a sua personalidade?
Quem pratica qualquer esporte radical, precisa conhecer seus limites. E com isso aprender mais sobre si mesmo. Acho quem escolhe o surf para a sua vida, já é uma pessoa de personalidade muito forte.


Serve como reinserção na sociedade?
Qualquer trabalho que desenvolve a percepção do ser humano e sua relação com o mundo – no caso do surf há uma consciência ecológica muito forte, além do respeito pela relação com o coletivo – claramente vai de alguma maneira inserir o jovem na sociedade.


Alguns dos surfistas brasileiros que hoje correm o WCT vêm de ambientes mais desfavorecidos. Acha que o surf foi essencial para mudar as suas vidas?
Com certeza! Tiveram uma oportunidade de mudar suas histórias, são exemplos de superação através do surf.


Onde estariam hoje se não fosse o surf?
Trabalhando, em áreas diferentes... Quantos talentos são deixados de lado por falta de uma visão mais responsável dos governos! Nós colocamos o projeto como prioridade nas nossas vidas, abrimos mão de muitas coisas para poder chegar no nosso objetivo que é transformar o futuro dos jovens que acreditam no surf como um estilo de vida, que gera empregos e cria atletas.

 

Para mais informações, basta contactar a ASR para o email Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

 

 

 

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