O mais jovem atleta de sempre a vencer um BWT - Lucas Chianca. O mais jovem atleta de sempre a vencer um BWT - Lucas Chianca. Foto: Masurel/WSL quinta-feira, 15 fevereiro 2018 14:44

Lucas Chianca: “Vencer na Praia do Norte foi um momento de felicidade extrema"

A entrevista exclusiva com o vencedor do Nazaré Challenge… 

 

Tem 22 anos e chama-se Lucas Chianca. Os amigos conhecem-no por “Chumbinho” e acaba de vencer o Nazaré Challenge na Praia do Norte. Foi a segunda etapa em que participou e a sua primeira vitória de sempre no Big Wave Tour da WSL. Eis a entrevista exclusiva que se impõe: 

 

Primeira vitória no Big Wave Tour e, eventualmente, do surfista mais jovem de sempre a conseguir um feito deste tipo. Como viveu esse momento?

Foi um momento histórico e muito especial na minha vida. Não só por ganhar uma etapa do Big Wave Tour, mas antes por ter conquistado um campeonato na onda que eu mais amo surfar e no lugar que eu mais amo estar, isto no que diz respeito a ondas grandes, que é na Nazaré. Este é um lugar muito especial para mim e ter ganho este evento foi mais especial ainda. Por isso, agradeço muito a Deus, ao [Carlos] Burle, ao Marquinho Monteiro e a todas as pessoas que conspiraram para isso acontecer. Era um sonho, e o sonho foi hoje realizado. 

 

Mesmo sabendo que não estiveram as maiores ondas de sempre, o Nazaré Challenge correspondeu em tudo às suas expetactivas?

O “call” este ano foi bem estranho. Um “call” bem… é assim, nós vimos na previsão que tinha um vento, mas acreditámos que podia ficar bom. Acabou por ficar forte de mais para a remada e, no sábado, apesar da prova ter ficado “on hold”, eu ainda competi e passei a minha bateria. Fiquei feliz por isso. No domingo, a prova continuou, o mar não tinha aquele tamanho que costumamos ver na Nazaré, não estavam ondas gigantes, mas tinha o seu tamanho, tinha os seus 5 ou 6 metros de onda, e não é um brincadeira de criança, não era um mar pequeno. Acabou por ser um campeonato de ondas grandes. Fiquei muito feliz. Embora não tivesse correspondido totalmente às expetativas, fiquei feliz e ao ganhar o evento foi um momento de felicidade extrema. Um dos melhores momentos da minha vida, foi um sonho realizado. Espero que não seja o único, mas o primeiro de muitos...

 

"Foi um momento histórico e muito especial na minha vida (…) 

por ter conquistado um campeonato na onda que eu

mais amo surfar e no lugar que eu mais amo estar"

 

- Foto: WSL/Antoine Justs

 

Venceu todas as baterias em que esteve envolvido. Qual foi a chave - ou estratégia - para alcançar o sucesso?

Eu e o meu treinador, o Carlos Burle, temos vindo a surfar muito nesta onda e para vencer as baterias adotámos um plano perfeito. No primeiro dia o Carlos só queria que eu passasse as baterias e que na final mostrasse o meu surf. Foi o que fiz. Na primeira ronda surfei o que precisava para passar e terminei em primeiro lugar. Apanhei um tubo bem grande. No segundo dia, o mestre disse-me para ter calma, para relaxar e deixar o nervosismo ir embora. Acabou por dar certo. Foi um campeonato incrível e a estratégia que adotámos acabou por funcionar - apanhar ondas boas, no lugar certo e depois apresentar a melhor performance. 

 

Fale-nos daquele floater dado na final com uma gun? Que passou pela sua cabeça?

Foi algo que passou rápido na minha cabeça, mas na verdade eu sempre visualizei muito isso na minha vida. Sempre que apanhei ondas grande visualizei sempre dar manobras nas ondas. Quando surfo de tow-in eu tento fazer manobras, talvez porque sempre tive facilidade em surfar com pranchas grandes e aquela 10’2”, que pertence ao Burle, é uma prancha mágica. Nós sabíamos que ela ia ser uma boa prancha para aquele dia mais pequeno, então eu sabia que podia fazer manobras. Assim, depois de ter garantido duas notas boas, eu sabia que tinha que fazer mais qualquer coisa e quando dropei aquela onda não pensei duas vezes - fui para o floater e vim a voar lá de cima. Tentei e acabou por dar certo, do jeito que eu queria. 

 

Como você descreveria uma onda como a da Praia do Norte?

É uma onda intensa, gigante, massiva. Assim com muita massa de água, que entra no Canhão e forma as mais assustadoras e gigantes ondas que eu já vi na minha vida e no Mundo inteiro. É uma onda onde podemos aperfeiçoar, ficar muito bons e acabar por apanhar as melhores ondas da nossa vida… ou também tomar os maiores e piores caldos de sempre. 

 

“Quando dropei aquela onda não pensei duas vezes,

fui para o floater e vim a voar lá de cima"

 

- Foto: WSL/Masurel

 

Como se prepara para uma etapa do Big wave Tour? Qual é o seu treino do dia-a-dia? 

O segredo do meu treino é manter a cabeça, manter o psicológico, e o corpo sempre forte. Fazer yoga para relaxar e conseguir libertar as energias. Treinar muito. O surf é o segredo. Surfar é promover e aumentar a performance, o que acaba por nos ajudar sempre. Surfar muito, treinar bastante, preparar o psicológico, estar preparado para todas as condições… é esse o segredo. 

 

Sabemos que está a ser acompanhado por Carlos Burle. Fale-nos do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido por ambos… 

O meu trabalho com o Carlos começou em outubro de 2016. Foi a primeira vez que viémos para a Nazaré juntos e a primeira vez que trabalhámos como equipa. Estamos juntos há quase dois anos e tudo o que tenho feito tem dedo seu, pois foi ele que mudou o meu “mindset”, a minha mentalidade, mudou o próprio “Chumbo”, pois o “Chumbinho” era uma pessoa muito ansiosa, emocionada, querendo sempre muitas ondas, muitas ondas grandes… e hoje o “Chumbo” passou a ser mais calmo, tranquilo, focado, com o foco total em ser campeão mundial e um dos melhores surfistas de ondas grandes do Mundo. Do trabalho que tenho desenvolvido com o Carlos tenho colhido bons frutos e treinado bastante. Com o nosso foco, determinação e treino, temos conseguido tudo o que procuramos. 

 

"O surf é o segredo. Surfar é promover e aumentar

a performance, o que acaba por nos ajudar sempre"

 

- Foto: WSL/Masurel

 

Não é comum jovens surfistas sentirem-se naturalmente atraídos por ondas grandes. Quando é que soube que queria ser um big wave rider?

Eu nasci em Saquarema que é uma onda muito forte. É uma das maiores ondas que tem no Brasil. Foi esse meu berço que me trouxe o gosto pelas ondas grandes, pois desde miúdo que já ando atrás das grandes ondulações, mas nunca do tamanho que surfo atualmente. Sempre visualizei e mentalizei isso, mas nunca achei que fosse concretizar. Hoje em dia eu tenho vindo a viver tudo isso e só tenho a agradecer a Deus por me ter dado a oportunidade de me ter tornado big wave surfer. Sou apaixonado por este desporto, por ondas grandes e quando maior for a onda ou o swell mais emocionado fico. Eu amo viver isso, amo surfar ondas gigantes e quero muito passar a minha vida a trabalhar e a divertir-me em torno disso. 

 

Quem foram ou são os os surfistas que têm vindo a influenciar o seu trajeto? 

Tenho que agradecer muito ao Carlos Burle, que é o meu mentor hoje em dia, que está comigo nos campeonatos e faz-me ficar mais tranquilo; e quero também agradecer à pessoa que me colocou no mundo das grandes, um pioneiro nas ondas grandes de Saquarema, Marco Monteiro, meu tio, que foi quem me apresentou o mundo das ondas grandes desde pequeno e me ensinou a surfar mar grande. São esses os meus dois mentores, além dos meus patrocinadores e família que sempre me ajudaram. 

 

Onde quer chegar no mundo das ondas grandes?

Eu quero ser feliz. O segredo da vida é ser feliz. Eu quero muito chegar onde Deus quer que eu chegue. Eu quero seguir o meu destino, quero apanhar as maiores ondas do Mundo se for possível. Quero apanhar as maiores ondulações e quero ser um dos maiores surfistas de ondas grandes. Se isso estiver no meu destino eu agradeço muito, pois este é o desporto que eu amo, é o estilo de vida que que amo e eu quero viver nele por muito tempo. 

 

- Foto: WSL/Masurel

 

P.S.: Lucas Chianca vem de uma família de surfistas e em tempos competiu no WQS onde se destacou ao conseguir um 5.º lugar em Arica (Chile) e um terceiro em Cloud 9 (Filipinas). O ano passado, em outubro, fez finalmente a estreia no Big Wave Tour da WSL com um 9.º lugar no Pe’ahi Challenge (Maui). O seu irmão mais novo, João Chianca, 18 anos, compete atualmente no WQS e fez um 3.º lugar no último Mundial de Juniores da WSL realizado em janeiro na Austrália. 

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AF

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