Francisca Pereira dos Santos, bicampeã nacional de surf open. Francisca Pereira dos Santos, bicampeã nacional de surf open. Foto: Rui Oliveira terça-feira, 16 janeiro 2018 16:47

Há vida depois do Surf? A história de Francisca Pereira dos Santos

Detentora de dois títulos de campeão nacional open, eis a entrevista exclusiva com Francisca Santos… 

 

Todas as imagens de arquivo pessoal (salvo indicação contrária)

 

Depois de Catarina Holstein (aqui), eis que chegou a vez de contarmos a história de Francisca Santos, a surfista da margem sul que foi umas das mais ativas pela costa lusa e que chegou a conquistar dois títulos nacionais de surf (2007 e 2010). O que faz? Para onde vai? Que ambições? Eis a sua história… 

 

Francisca, conta-nos um pouco da tua história. Calculamos que ainda surfes nos tempos livres, mas tempos houve em que o surf fazia parte da tua rotina diária. Quais as grandes diferenças dos tempos em que competias de uma forma profissional, para os tempos de agora?

Sim, ainda faço surf. Não faço com tanta frequência como queria, mas ainda consigo ir apanhar umas ondinhas de vez em quando. Costumo ir durante o fim de semana ou então nas férias. Quando competia tinha uma rotina de surf diária. Costumava surfar quase todos os dias e muitas vezes duas vezes por dia. Surfava muitas vezes quando o mar estava mau, de chuva ou então muito frio. Hoje em dia já não consigo entrar em qualquer tipo de mar ou quando está uma chuva torrencial. Sou um bocado mais seletiva.  


 

Em que circuitos participaste e quais as principais classificações memoráveis?

Participei em todos os circuitos em Portugal. Entre os meus 17 e 23 anos participei em campeonatos Sub-18, Sub-21, Universitários e Opens. Consegui o 1.º lugar em todos. Foram cinco anos que me correram sempre muito bem a nível nacional. A nível europeu também participei em WQS's, Pro Junior e Europeus por equipa. Consegui ser vice-campeã europeia que na altura vi com um muito bom lugar e que me orgulhei muito. Quanto ao circuito mundial, entrei várias vezes nos campeonatos ISA e WQS. Lembro-me que no primeiro ano em que fiz o WQS ainda fiz uns dois 9º lugares em etapas de 6 estrelas o que me deixou muito contente. Porém, nunca fiz melhor que 21.ª no ranking final do ano.

 

"No primeiro ano em que fiz o WQS ainda fiz uns dois 9º lugares

em etapas de 6 estrelas o que me deixou muito contente"

 

 

Momentos que te recordes com grande agrado, sabemos que muitos com certeza, mas aquele momento especial?

O melhor foi a grande oportunidade que o surf me deu de viajar. Na altura não tinha esta noção, mas hoje olho para trás, tanto os países como as pessoas que conheci foi o mais importante. Ir às ilhas Mentawai, num barco só com amigos, foi um sonho tornado realidade. Foi das melhores viagens que fiz.


O que motivava mesmo no surf naquela altura?

Querer ganhar campeonatos foi, sem dúvida, importante. Eu entrava dentro de água a pensar que ondas queria apanhar, o que queria fazer e o que devia melhorar. Sempre fui muito competitiva e isso movia-me.


"Eu entrava dentro de água a pensar que ondas queria apanhar,

o que queria fazer e o que devia melhorar"

 

 

Que mais valias tiraste desse tempo e o que de positivo trouxe para os dias de hoje?

Para além de conhecer os cinco continentes e ter amizades pelo Mundo que ainda hoje mantenho, o surf formou-me como pessoa. A disciplina, a ambição, definir prioridades, outras línguas, entre outras coisas, ganhei enquanto competia e treinava para ser surfista profissional. Muitas destas competências são importantes para o meu dia-a-dia enquanto pessoa e mesmo a nível profissional.


 

Qual o foi o momento chave que te recordes em que decidiste deixar o surf de competição e seguiste com a tua carreira de estudos e ou profissional?

Quando terminei a licenciatura em gestão pela Nova SBE comecei a perceber que tinha oportunidade de experimentar outras maneiras de viver a vida. Oportunidades de trabalho e conhecer o mundo “corporate". Essa altura coincidiu também com a minha menos vontade de competir e ganhar. Sem essa vontade, para mim, já não fazia sentido treinar e manter a vida de profissional. Não foi de um dia para o outro, foi durante dois ou três campeonatos que percebi que já não me sentia bem naquele meio e não me imaginava a ganhar. Quando o objetivo não é ganhar, fica difícil correr atrás.


"Sem essa vontade [de competir e ganhar],

já não fazia sentido treinar e manter a vida de profissional"

 

 

E agora? 

Agora aproveito o meu tempo de várias maneiras e desportos. Surf e ténis são os de eleição. Trabalho na Jerónimo Martins. Gosto muito do que faço e das pessoas com quem trabalho. O grupo representa os valores com que eu me identifico e isso é muito importante.


O Surf agora onde entra na tua vida?

Atualmente surfo aos fins de semana com amigas, férias e pouco mais. Mas aproveito cada minuto dentro de água. Sem dúvida que quando faço surf ao fim de semana a minha semana vai ser muito melhor.


 

Qual a tua opinião sobre o momento que o surf, enquanto lifestyle e competição, atravessa neste momento?

Está mais profissional, o que é normal. O acesso aos campeonatos e aos bons surfistas está mais fácil o que faz do surf um desporto mais interessante para mais pessoas. Isso significa mais gente a surfar, picos mais cheios e por vezes é mais difícil apanhar uma boa onda. Mas faz parte e é bom para o desporto. O negócio desenvolve-se e acaba por haver mais investimento neste desporto. Em Portugal as escolas dão mais suporte às gerações mais novas, mas ainda sinto que o “gap" entre ser um surfista bom e um surfista profissional está alto. Há muitos bons surfistas em Portugal, mas poucos que conseguem fazer uma carreira profissional. O trabalho das escolas talvez só comece a dar frutos daqui a uns 5/7 anos. Mas ainda vai demorar.

 

“Sinto que o “gap" entre ser um surfista bom

e um surfista profissional está alto"

 

 

 

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