Ruben Gonzalez pedala a caminho do surf no North Shore Havaiano Ruben Gonzalez pedala a caminho do surf no North Shore Havaiano quinta-feira, 28 dezembro 2017 08:38

"Um bom surfista profissional ...é visto como um pop star." Ruben Gonzalez

Tetra campeão nacional analisa atualidade do surf, faz uma retrospetiva da carreira, avança novos objetivos e comenta prestação de Frederico Morais no WT...

O ex tetra campeão nacional, atualmente com 38 anos, é um dos competidores mais experientes a nível europeu. Fomos ter com talento de Cascais e obter dele uma análise ao surf atual assim como uma retrospetiva da sua carreira. 

Surftotal: Antes demais, olhando para a tua carreira, qual o ponto mais alto que recordas até hoje?


Ruben Gonzalez - Eu tive vários pontos altos na minha carreira e que me recordo muito bem. Começo por um dos primeiros títulos competitivos que me marcaram, sendo o de campeão europeu junior por equipas e individual em Portugal/Santa Cruz em que tinha 16 anos. Depois a minha primeira vitória num Nacional Open, na Costa da Caparica com 19 anos e nesse mesmo ano (1997) também ganhei um wildcard para o WT onde fiquei em 9º lugar tendo ganho ao maior deles todos o Kelly Slater. Ainda para mais nesse mesmo ano fui para o Hawai treinar e também fazer o meu primeiro e único Mundial de Juniores.
Depois o meu primeiro e tão esperado título Nacional. O meu quarto título também foi algo que me surpreendeu pelo facto de nunca ninguém o ter conseguido até à data. Para além disto já a partir de 2014 gostei muito de ter representado a seleção nacional nos Açores onde também alcancei o 1.º lugar. Mas não foi o resultado que mais me marcou. Sim, o espírito de equipa e todos os atletas ali presentes. Sem dúvida uma viagem e campeonato que ficou na minha memória.
Por último desde o trabalho que fiz com a Câmara Municipal de Cascais, as sessões do Cabo Raso, as da Nazaré e todo o trabalho dos Training Camps que faço desde 2010 também são algo que ainda tenho muito presente e foram todos eles pontos fortes na minha carreira.

Que objetivos tens a curto, e longo prazo?


Ruben Gonzalez - Ajudar a nova geração, dando-lhes as ferramentas e apoio necessário para usufruírem ao máximo o surf e atingirem os seus objetivos. Daí ter constituído a RG Surf School & Academy onde faço esse trabalho desde 2015. No entanto também, a nível pessoal e ainda como profissional de surf continuo a querer a aumentar a fasquia quanto a performance na água. Seja a nível de mar de manobras, como slabs e ondas grandes. É sem dúvida uma das coisas que mais me dá prazer na vida.

*Ruben num belo momento de surf 

 

"a nível pessoal e ainda como profissional de surf continuo a querer a aumentar a fasquia quanto a performance na água.

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Seja a nível de mar de manobras, como slabs e ondas grandes. É sem dúvida uma das coisas que mais me dá prazer na vida."

 

Como analisas o surf atualmente, a nível nacional?


Ruben Gonzalez - O surf está num "BOOM" gigante e é para continuar. Temos tudo. Excelentes condições de surf, o melhor circuito nacional, sendo uma referência a nível mundial. Etapas de WQS e um WCT. Ainda para juntar a tudo isto, um evento da wsl de ondas grandes e outros special events. Isto tudo faz com que as pessoas se interessem cada vez mais pelo surf e tenham vontade de experimentar. Os números de praticantes em Portugal aumentaram drasticamente. Não só na camada mais jovem mas também na mais velha.
Já começam a existir em Portugal várias gerações de surf, isto é, que vai desde o avô, passando pelo pai e acabando no filho.
As marcas do surf estão mais restritas quanto a nível de investimento, mas continuam a apostar. Se estão a passar alguma crise ou vender mais ou menos, isso não sei. Uma coisa é certa. Acho ridículo o preço que praticam por exemplo no vestuário e aí ficam a perder em relação a outras grandes empresas. Ainda para mais, na minha opinião, o core das grandes marcas de surf são e sempre serão material técnico. Mas também calma lá, que aí também cada ano que passa parece que põem mais não sei quantos euros em cima. Têm de haver um equilíbrio nesse sentido. E o surf de hoje em dia em relação ao dos anos 90 nada tem haver. Está muito diferente quer a nível competitivo, estrutural, de investimento e mentalidade.

Continuando nesta análise da evolução do surf, o que mudou no surfista enquanto elemento da sociedade? O que mudou no tratamento ao desportista, seja amador ou profissional?


Ruben Gonzalez - Um bom surfista profissional de hoje em dia é visto como um pop star e um ícone no mundo do desporto. Transmite uma imagem limpa, moderna, de verdadeiros atletas e de pessoas bem sucedidas. O surfista mais amador também é visto com muito bons olhos. São geralmente pessoas de classe média/alta que levam os seus filhos a surfar ou incentivando que vão a uma escola de surf porque vem os benefícios que este desporto traz, a nível pessoal, educacional ou escolar, incutindo sempre um grande respeito pela natureza e ambiente. E aliás, o surf nos nossos dias, se repararem é quase sempre tema de conversa em certos sítios, indo desde o dono do restaurante, passando pela mulher da limpeza ou mesmo no consultório do dentista.

A nível internacional, muito se tem falado das alterações na WSL. Que achas da entrada da etapa, sediada, no Surf Ranch, em 2018?

Ruben Gonzalez - Foi empolgante ver os surfistas do WT surfarem no Ranch do Kelly Slater. Acho que o surf entrando nas Olimpíadas faz todo o sentido haver este género de piscinas de ondas. Uma etapa da WSL aqui também vai ser empolgante ver. Mas que é estranho, é. Questiono-me e todos devem questionar-se: Como vai ser o tempo dos heats? Quantas ondas os surfistas podem apanhar? Se é esquerda ou direita? As prioridades? De quanto em quanto tempo é que aquela coisa do "comboio" passa e manda a onda?  Depois de isto tudo, acho que o fator surpresa vai ser muito na performance e diversidade que o surfista criar na onda. Vão ter que possivelmente puxar muito pela criatividade.

Como avalias a prestação do Frederico Morais?E quem tem condições de lhe pode fazer companhia (e quando) no WT? E porquê?

Ruben Gonzalez - 
O Frederico teve uma prestação excelente como seu primeiro ano no WT. Superou as expetativas de todos. Nada e nem ninguém lhe fez tremer das pernas. Surfou muito e competiu de forma madura e inteligente. Foi aquela máquina a que nos sempre habituou a ver cá. Mas que agora transpôs isso junto dos melhores do mundo e nas melhores ondas do mundo. Aquele que pode lá chegar é sem dúvida o Vasco Ribeiro.  Ele é muito bom e está a trabalhar para isso. Mais tarde ou mais cedo lá estará. Depois também são capazes de vir outros.

Já agora como passaste o Natal e como passas normalmente esta época festiva?


Ruben Gonzalez - Passo mais tempo junto da família e de amigos. E claro! Com mais comida e bebida que o habitual.



 

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