Associação visa garantir a sustentabilidade do setor a longo prazo. Associação visa garantir a sustentabilidade do setor a longo prazo. Foto: Tó Mané segunda-feira, 18 dezembro 2017 15:40

Associação das Escolas de Surf de Portugal procura “objetivos mais ambiciosos e sustentabilidade do setor a longo prazo"

Associação foi formada em dezembro de 2013… 

  

Afonso Teixeira faz uma apresentação da AESDP - Associação das Escolas de Surf de Portugal, traça os objetivos para a próxima temporada e fala do ensino de surf nas praias portuguesas. Lê já a entrevista exclusiva. 

 

Como nasceu a Associação das Escolas de Surf de Portugal?

A AESDP foi formada em dezembro de 2013, por profissionais e empresários deste setor, por se ter sentido a necessidade de haver uma regulamentação mais eficaz destes operadores. Com a crescente procura por serviços de ensino de surf (essencialmente motivada pelo setor turístico), assistiu-se nessa altura a um rápido crescimento do número de escolas e surf camps. Este crescimento, aliado à falta de regulamentação específica, levou a que a segurança em vários spots do país ficasse comprometida, devido ao crowd exagerado, o que acabou por resultar em episódios de conflito e insatisfação das comunidades surfistas locais. A razão pela qual a associação esteve adormecida ao longo destes anos prende-se com o facto de, em 2014, se terem conseguido algumas vitórias, como a adaptação da regulamentação por parte da Capitania de Lagos, impulsionada pela Associação de Escolas de Surf da Costa Vicentina e que acabou por servir de exemplo para outras Capitanias. Nessa altura, por não haver ninguém a tempo inteiro na AESDP, a associação acabou por ficar em "stand by" e não angariar novos associados, além dos fundadores, mas sentiu-se agora a necessidade de retomar a associação e de estabelecer objetivos mais ambiciosos.  

 

Qual o background da pessoa ou pessoas que a formaram?

A Associação foi formada pelos seus dez sócios fundadores, em representação de nove empresas da área do ensino de surf (escolas, surf camps e surf coach), que atualmente compõem os Órgãos Sociais da AESDP. Todos estes membros têm uma vasta experiência nesta área, sendo proprietários de empresas com décadas de atuação nas praias de norte a sul de Portugal Continental. Como exemplo do largo conhecimento e experiência dos fundadores desta associação, posso destacar o facto de a Direção ser atualmente composta pelo João Diogo Pinto dos Santos, proprietário da primeira escola de surf do Porto, a operar no norte do país desde 1994, pelo Sérgio Wu Brandão, que abriu uma escola de surf de referência no Algarve em 1996, e ainda pelo João Pedro Rosa Dias, que inaugurou a sua escola em 2005 e opera na área de Lisboa e na Ericeira. Ou seja, só a direção da AESDP cobre a nossa costa de norte a sul e conta com 56 anos acumulados de experiência no ensino do surf.

 

É uma associação com ou sem fins lucrativos?

A AESDP é uma associação sem fins lucrativos, cujo principal objetivo é dar "voz" aos profissionais e empresários deste setor.

 

Porque razão é importante existir uma associação das escolas de surf?

Como referi, este é um setor que tem vindo a crescer exponencialmente ao longo dos últimos anos em Portugal. Aliados a este crescimento, a legislação e regulamentação dos operadores, bem como a formação, são atualmente temas "quentes", que têm vindo a ser discutido por diversas entidades (Turismo de Portugal, Autoridade Marítima Nacional, IPDJ, FPS, entre outros), mas até à data não existia uma entidade investida em garantir a participação dos profissionais nesta discussão. A AESDP pretende que a gestão desta atividade seja feita tendo em consideração as necessidades sentidas no terreno, garantindo assim a sustentabilidade do setor a longo prazo. 

 

 

O trabalho da Federação Portuguesa de Surf neste âmbito tem sido eficaz? 

A FPS tem sido a única entidade da área do surf a reconhecer e registar as escolas, algo que consideramos essencial, para que as escolas possam contar com uma entidade composta por pessoas que compreendem as especificidades desta atividade. Contudo, não tem sido fácil para a FPS acompanhar o crescimento destes operadores e garantir o bom funcionamento dos mesmos em toda a costa nacional, também por não ser essa a sua principal área de atuação. Se considerarmos o crescimento do panorama competitivo de todas as modalidades abrangidas pela FPS, com destaque para a inclusão do surf nos Jogos Olímpicos de 2020, conseguimos facilmente compreender as dificuldades que a Federação terá, no futuro, em garantir um acompanhamento eficaz de um número cada vez maior de escolas. 

 

Como vai ser feita a gestão desta associação? Quais as melhorias que poderá trazer para as escolas de surf?

Idealmente, a gestão será feita com um forte envolvimento e participação por parte dos nossos associados. Pretendemos ter um conhecimento aprofundado das perspetivas destes operadores em relação ao atual estado da indústria e dos problemas que enfrentam nas diferentes partes do país, para podermos fazer um acompanhamento e uma representação eficazes. A nossa atuação irá centrar-se no envolvimento com as entidades responsáveis em cinco áreas-chave, nomeadamente a regulamentação, fiscalização, formação, certificação e conservação ambiental. Ao nível dos benefícios para as escolas, além da representação das suas necessidades, destacam-se a promoção destas empresas, a realização de ações de formação para escolas e treinadores, o desenvolvimento de um programa de certificação das escolas, entre outros.   

 

Como está o ensino do surf em Portugal?

O ensino do surf em Portugal está, sem dúvida, a atravessar um grande momento. É inegável que temos conseguido formar grandes talentos e que Portugal se está, gradualmente, a tornar num caso sério a nível competitivo no panorama internacional. Isto acontece porque há cada vez mais pessoas a desenvolver um trabalho profissional de acompanhamento dos atletas desde cedo, aproveitando as condições naturais excelentes do nosso país para tornar os nossos surfistas altamente competitivos. Ao nível da iniciação, o ensino está também, de uma forma geral, cada vez mais profissional e criterioso, o que é comprovado pelo reconhecimento que temos como um destino de excelência para aprendizagem, traduzido no crescente número de turistas que nos visitam com esse propósito. Contudo, o ensino do surf é muito mais abrangente, e as escolas de surf em Portugal são a prova disso, pela diversidade de serviços que prestam, tais como os campos de férias, as primeiras aproximações ao meio aquático com crianças, o ensino especial, entre muitos outros. Na AESDP, acreditamos que para aumentar a qualidade dos serviços em todas estas áreas, terão que ser criadas formações específicas para preparar os instrutores e treinadores para trabalhar com diferentes públicos de forma mais eficaz.

Além disso, há ainda uma grande barreira, que já referi e que se prende com a atual regulamentação, inadequada e heterogénea, que acaba por não dar garantias de qualidade e segurança para todos. Concluindo, penso que os operadores, na sua maioria, sentem a necessidade de melhorar os serviços prestados para se diferenciarem e têm-no feito por iniciativa própria, mas continuam a existir casos de serviços de reduzida qualidade e segurança, por não haver requisitos obrigatórios a este nível. 

 

Quais são os países que possuem o melhor ensino de surf do mundo?

Ao nível do ensino propriamente dito, podemos sempre destacar os países mais óbvios, aqueles com mais tradição e as principais potências do surf, como a Austrália e os Estados Unidos, mas como referi, acho que Portugal neste momento está incluído nesse lote e compete diretamente com essas "potências". Já ao nível da regulamentação, há alguns países que estão mais estruturados, por terem sentido essa necessidade há mais tempo. Há ainda muitos casos curiosos, com políticas de regulamentação que seriam impensáveis em Portugal, mas que valem a pena conhecer e analisar. Falo, por exemplo, de casos como o de Honolulu no Havaí, onde já existe regulamentação desta atividade desde 1986 e onde atualmente uma licença para operar tem um custo de 200 dólares por mês, ou de San Diego na Califórnia, onde os custos das licenças podem, em certas praias, ultrapassar os 7500 dólares trimestrais. Ainda na Califórnia, o rácio de número de alunos por instrutor é geralmente de 4 para 1 e há alguns municípios onde as aulas de surf só podem decorrer de segunda a sexta-feira. 

 

Algo mais a dizer?

Gostaria de, em nome da AESDP, agradecer à Surftotal pela oportunidade para nos apresentarmos. Para finalizar, deixo um apelo a todas as escolas, surf camps e treinadores do país para entrarem em contacto connosco e para se juntarem a esta iniciativa, uma vez que o sucesso da associação estará diretamente relacionado com a sua dimensão, ao nível do número de associados. Além disso, fiquem atentos às novidades que temos preparadas para 2018. 

 

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