Tomás Fernandes, 21 anos, um dos valores do surf nacional. Tomás Fernandes, 21 anos, um dos valores do surf nacional. Foto: Francisco Garcia/Arquivo Pessoal sexta-feira, 22 setembro 2017 14:47

Tomás Fernandes: “Este está a ser um ano de aprendizagem e mudanças"

Exclusivo a não perder com um dos surfistas lusos de referência...

  

Nascido e formado nas ondas da Ericeira, Tomás Fernandes cedo se afirmou como um dos jovens talentos portugueses e desde então tem vindo a trilhar o seu caminho no mundo do surf. Apoiado numa linha de rail e pressão, que sempre se destaca a quem observa, nos últimos anos tem vindo a tentar a sua sorte no mundial de qualificação mantendo sempre debaixo de olho as competições nacionais. 

Aproveitando a sua presença em Portugal e a dias de iniciar a sua participação no QS10000 de Cascais, eis então a atualização e o exclusivo que há muito se justificava. 

  

Surftotal: Para começar fala-nos um pouco sobre ti. Como começaste no surf, como chegaste até ao nível em que te encontras e como acabas a viver na Linha?    

Tomás Fernandes: Comecei a surfar na Ericeira por volta dos 8 anos com o [José Maria] Pyrrait, o meu primeiro professor de surf, a quem tenho e devo muito respeito. O bichinho pelo surf foi sempre aumentando até hoje, aos 21 anos. Através das derrotas nos últimos anos, percebi que não se vai a lado nenhum sem esforço e dedicação e que se realmente queremos o surf como profissão, temos de fazer muitos sacrifícios. Aos 18 anos, com o objetivo de evoluir o meu surf em beach breaks, vim viver para Cascais com o propósito de treinar com os meus treinadores de surf que são daqui, ginásio inclusive. Por um lado, fez-me bem sair de casa dos meus pais aos 18 e "tornar-me" mais independente. Por outro, foi um pouco cedo de mais e aconteceu tudo muito depressa. Seja como for, dificilmente evoluis sem errar e acho que o importante é ter a capacidade de identificar os erros e tentar corrigi-los. Hoje sei bem o que fiz de menos acertado e sei muito bem para onde e como quero ir.

 

As ondas da Ericeira tiveram (e ainda têm) uma enorme influência na forma como surfas. Não foi à toa que, na praia de Ribeira d’Ilhas, venceste uma etapa da Liga (2013) e também alcançaste um 3.º lugar no Mundial Pro Junior (2014). Como achas que o tipo de ondas que se encontra na Ericeira (point-breaks, reef-breaks, etc) moldou a forma como surfas?

TF: Sim, sem dúvida alguma que quando penso nas ondas onde aprendi a surfar, sinto-me o miúdo mais sortudo do mundo. A Ericeira, para mim, é top 5 mundial de destinos de surf. Adoro surfar na Ericeira e não imagino deixar de viver aqui. Tem um senão, as ondas são tão boas que depois dificultam a adaptação às ondas más e, infelizmente, a maioria dos campeonatos do WQS são realizados em ondas de fraca qualidade.

 

Que principais características dirias terem os surfistas que são formados nas ondas da Ericeira? 

Diria... linha de onda, surf mais old school e posicionamento no line up.

 

"Não consigo perceber como é que o circuito mundial de qualificação

para o WCT é feito em ondas que não têm rigorosamente

nada a ver com as provas do World Tour"

 

- Rasgada fortíssima no Allianz Figueira Pro, uma competição onde só parou nos quartos de final. Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas

 

És um dos competidores regulares da Qualifying Series da WSL há pelo menos cinco anos. A teu ver, o que faz o mundial de qualificação ser tão duro e exigente?

A meu ver, infelizmente, o circuito WQS está dependente do dinheiro dos patrocinadores, entre outras coisas, obviamente. Isso faz com que, na maior parte das vezes, os campeonatos aconteçam fora de época ou em lugares com pouco ou mesmo nenhum potencial. Não consigo perceber como é que o circuito mundial de qualificação para o WCT é feito em ondas que não têm rigorosamente nada a ver com as provas do World Tour. Muitas vezes sinto-me frustrado de apostar na minha carreira, viajar pelo Mundo fora o ano inteiro e surfar o mesmo tipo de condições vezes sem conta. Obviamente que existem exceções. Não consigo entender como é que em Portugal temos um WCT de homens e um de mulheres, 3 ou 4 WQS's que vão entre 1000 ate 10.000 pontos e nenhum é realizado, por exemplo, em locais como a Ericeira. 

 

Este ano parece estar mais difícil para os surfistas portugueses ficar dentro do top 100. Porque achas que isso está a acontecer?

Falando por mim, explico a minha atual posição no ranking com a decisão de alterar a forma como estava a levar a minha carreira e as transformações que acredito irem dar frutos a médio prazo. Eu e o meu novo treinador (Enrique Lenzano) delineámos em conjunto um projeto até 2020, logo para mim este está a ser um ano de aprendizagem e de mudanças. Essas mudanças ainda não se estão a traduzir em resultados, mas sei que estou no caminho certo. Tenho trabalhado mesmo muito e é bastante difícil lidar com as derrotas, mas sei que faz parte do percurso para alcançar o sucesso e que o meu tempo vai chegar, seja este ano ou nos próximos. Quanto aos outros portugueses não sei as razões, apenas posso dizer que viajo com vários deles e vejo que maior parte tem nível para estar melhor classificado, mas não gosto muito de falar das outras pessoas apenas desejo o melhor para elas.

 

Depois de “Saca”, a vez de Frederico Morais no World Tour como que a servir de inspiração e a manter vivo o sonho para a restante armada lusa. Como tens seguido o seu desempenho este ano?

Tenho literalmente visto o Kikas em todos os campeonatos do WT e não tenho palavras. Acho que o que ele já fez para o seu primeiro ano no Tour é demasiado bom e é um orgulho gigante ver um amigo que conheci há bastantes anos atrás, com quem tive oportunidade de viajar e fazer muitos WQS, estar neste pico de forma extraordinário. Kikas é o exemplo perfeito de como ser um surfista de elite, que passou algumas dificuldades no circuito de qualificação, precisamente por o seu surf não ter sido feito para o tipo de ondas que este apresenta, mas antes para o CT.

 

"Kikas é o exemplo perfeito de como ser um surfista de elite"

 

- Foto de família com uma claque muito especial no Mundial Pro Júnior de 2014. Foto: WSL

 

É a Liga MEO Surf é uma boa arena para treinar as participações no WQS?

A Liga Meo é um circuito excecional. Não conheço mais nenhum país com um campeonato nacional como o nosso. O nível competitivo tão exigente em todas as etapas ajuda-nos a preparar as participações no WQS, pois Portugal tem surfistas incríveis e vencer uma etapa do nacional é um objetivo para qualquer surfista português, o que torna as coisas ainda mais difíceis. Eu já tive o prazer de sentir a vitória numa etapa e quero voltar a repetir brevemente.

 

É uma competição que tens em mente vencer no futuro? Ou o foco atual é total no QS?

Adoro competir na Liga. Quando estou em Portugal inscrevo-me sempre e quero ganhar, quero ser o melhor, mas estou mais focado em manter ritmo e aprender para o WQS. Portanto, o WQS é definitivamente o meu grande objetivo. 

 

Próximo desafio é o EuroSurf na Noruega, já em outubro. Como te estás a preparar para esse evento e que objetivo levas na mente?

Antes de mais gostaria de agradecer ao selecionador David Raimundo o convite para participar no EuroSurf na Noruega. Vai ser uma experiência incrível. Surfar e competir num sitio novo é sempre bom, ainda que seja para um destino com água gelada. Prefiro surfar de calções, mas esta será uma nova experiência para mim. A preparação vai ser feita da mesma maneira como para os outros campeonatos: ginásio 3 vezes por semana, treinos de surf diários e psicóloga, para que esteja num bom pico de forma quando me apresentar na seleção. 

 

“É bastante difícil lidar com as derrotas,

mas sei que faz parte do percurso para alcançar o sucesso"

 

- Novo "carve" bem expressivo numa das etapas da Liga Meo Surf 2017. Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas

 

Assim do nada… Onde jaz a onda perfeita?

Sem dúvida alguma será sempre em Ribeira d’Ilhas.

 

Traça-nos os teus objetivos para os próximos 12 meses...

Objetivo imediato é alcançar um bom resultado no Prime de Cascais de forma a dar retorno à Billabong pelo “wildcard" que me concedeu e que desde já agradeço. Depois ajudar a seleção nacional a alcançar a vitória no EuroSurf. Até ao final do ano gostava de voltar ao top 100 do QS, mas se não for este ano, será de certeza nos próximos 12 meses.

 

Mensagem a deixar? 

Obrigado pela entrevista. Aproveito também para agradecer a todas as pessoas e às marcas que tornam o meu sonho possível, a toda a Despomar com um agradecimento especial ao Paulo Martins e Pedro Dias (Billabong, Ericeira Surf & Skate, VonZipper, Nixon e Dakine) e também à minha família, amigos e aos meus treinadores (Enrique Lenzano, Ruben Francisco e Giorgia). Bom surf para todos! 

 

- Com as suas "babes". Foto: White Flag Productions

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